Resistência
Manuel Tito de Morais
Fichas da PIDE
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Manuel Tito de Morais
Fichas da PIDE
O Leonel Vicente terminou, no repositório do Memória Virtual, mais uma das suas resenhas anuais das actividades da blogosfera portuguesa com um apontamento onde homenageia Jorge Ferreira.
O Leonel Vicente é o blogger português que mais atenção dedica, há anos, a esta actividade e nunca é demais referi-lo como um dos elementos desta comunidade (ou destas comunidades, como quiserem) que deixa ficar registo para que um dia se venha a ter consciência do que representou e como se desenvolveu a forma mais democrática de comunicar nos finais do Século XX e inícios do Século XXI em Portugal.
Diz-nos o Leonel que em 2009 só levou esta aventura para a frente por sentir que era uma acção feita em memória de Jorge Ferreira.
Ficamos-lhe gratos duplamente. Por o ter feito e pela razão que o levou a fazer.
Conheci Tito de Morais, em Paris, era eu ainda jovem, numa situação que não mais esquecerei. No começo dos anos 70, o António Macedo, o Zenha e eu fomos ter com o Mário Soares, então no exílio.
Ao chegar a Paris, de comboio, dado que o Zenha e o Macedo seguiam por precaução, em aviões diferentes, o Mário Soares disse-me que tínhamos de ir ao encontro do Tito de Morais porque ele tinha chegado de Itália, onde vivia, e entrar clandestinamente em França, País de onde tinha sido expulso.
Ir conhecer pessoalmente um homem do qual já tinha ouvido falar muitas vezes e que por razões políticas tivera de fugir do seu País e ser expulso de outro, o qual eu tinha como o berço da liberdade, excitava-me a curiosidade.
Adorei conversar com ele e não mais esquecerei a sua imagem quando me acompanhou até à estação de Paris para o meu regresso a Portugal. Ainda hoje retenho com precisão e alguma emoção, o olhar fixo, o gesto calmo e aquele sorriso simpático do Tito agarrado à minha mão a dizer-me – façam tudo, tudo o que poderem para libertar aquele País. Não é por mim, eu cá vou resistindo até morrer de saudades, é por aqueles milhões de pessoas.
Impressionou-me e gravei na memória o seu desprendimento pessoal por não ter naquele momento manifestado unicamente o desejo de poder vir comigo para o País que tanto amava.
Mais tarde, ainda antes do 25 de Abril, voltei a encontrá-lo em Vigo onde o Macedo e a mulher, o Arnaut e a mulher, e eu e a minha mulher nos fomos encontrar com o Mário Soares e a Maria de Jesus, o Ramos da Costa e o Tito de Morais. Nesse dia levámos ao conhecimento deles a primeira reunião dos militares de Évora, militares esses que mais tarde desencadearam o 25 de Abril. Era dar-lhes uma esperança, ainda que remota, da liberdade.
Se recordo estes factos, é para dizer que desde muito novo me habituei a admirar e a respeitar este homem de convicções firmes e de grande coragem. Após o 25 de Abril teve uma vida dedicada ao Partido e à causa do Socialismo.
Não é um homem que faça política charmosa ou que silencie os problemas, conheci o Tito de Morais sempre frontal, por vezes mesmo agreste e teimoso na defesa dos seus pontos de vista.
O Partido deve muito a esta forma de ele estar na política, provocando a discussão e tomada de decisão emergia o Tito de Morais solidário e fraterno sem o mais pequeno ressentimento.
É um Homem admirável, de uma grandeza que toca a todos os que tiveram o privilégio de com ele conviver. Viveu uma vida cheia de luta por princípios e ideias sem nunca ter transigido.
É um dos grandes do meu País e um dos maiores do meu Partido.
António Campos
Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996
A Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Tito de Morais tem por objectivo promover, em Junho de 2010, na semana de 28, dia em que Manuel Alfredo Tito de Morais faria cem anos, um conjunto de acções que convoquem a memória para os princípios de um dos homens que, no Século XX, foi um dos maiores impulsionadores do regresso de Portugal à democracia europeia e um dos lutadores para que todos os cidadãos tivessem as mesmas oportunidades e pudessem expressar-se e agir em liberdade.
De entre todas as acções que estão abarcadas no programa elencam-se as mais relevantes:
- Constituição de uma Comissão de Honra;
- Sessão solene na Assembleia da República (AR);
- Edição de uma brochura biográfica (AR);
- Emissão de um selo comemorativo (AR/CTT);
- Sessão evocativa no Grémio Lusitano (GOL);
- Sessão evocativa na Fundação Mário Soares;
- Exposição sobre a vida Tito de Morais no Museu da República e Resistência;
- Edição de uma fotobiografia;
- Realização de um documentário sobre a vida de Tito de Morais (RTP);
- Descerramento em Lisboa de um busto de Tito de Morais (CML);
- Descerramento de uma lápide evocativa na casa onde morou Tito de Morais;
- Edição de um número comemorativo do Portugal Socialista;
- Promoção de acções evocativas em diversas estruturas do PS.
Desde já se apela a todas as estruturas do Partido Socialista no sentido de se mobilizarem para sessões, a realizar durante o mês de Junho de 2010, em memória de Tito de Morais.
De todas estas acções daremos oportunamente mais detalhes neste Blog da Comissão Executiva (CCTM), expressamente construído para promover a divulgação das acções previstas e ajudar a recordar o exemplo de vida de Tito de Morais.
No passado dia 14 de Dezembro, 10º aniversário da morte de Tito de Morais, reuniram-se no cemitério da Guia, em Cascais, um grupo de familiares, amigos e outras entidades para fazerem a evocação do fundador do PS.
O Partido Socialista fez-se representar pelo seu Presidente, António Almeida Santos, que proferiu uma pequena intervenção na sequência da evocação feita pelo neto do homenageado, Manuel Tito de Morais Oliveira.
Manuel Alegre e Pezarat Correia fizeram os elogios finais.
Em Abril de 1991, Maria José Gama entrevistou Manuel Tito de Morais para fazer o registo da sua nota biográfica, a mais completa até hoje conhecida.
Este trabalho já foi publicado no Acção Socialista (link indisponível) por duas vezes, em 9 de Maio de 1991 e em 6 de Janeiro de 2000, e no número especial do Portugal Socialista (link indisponível) que foi editado em Outubro de 1996, por ocasião da Homenagem Nacional que lhe foi prestada.
Trata-se de um documento único que nos revela muito do percurso de um dos principais obreiros da criação do Partido Socialista.
É uma peça fundamental para o conhecimento de uma personagem essencial do processo democrático português no Século XX.
O Tito é um dos últimos cavaleiros da Utopia. Nascido com a República e educado no culto dos seus valores essenciais – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – manteve pela vida fora a mesma firme e serena postura de quem acredita no futuro e sabe, por isso mesmo, que o socialismo é uma conquista permanente, um acto incessante de amor.
Homem de convicções e de fidelidades assumidas, fez do Partido a principal motivação da sua vida. Nunca se bandeou com o adversário, nem cedeu aos ventos ditos dominantes. E foi, justamente, nos momentos mais difíceis, tanto antes como depois do 25 de Abril, que o Tito personalizou a esperança e nos revelou a sua fibra de lutador intemerato pela causa do socialismo democrático.
É um exemplo de dedicação, de generosidade, de coerência. É um verdadeiro homem de esquerda.
Dizem que em política não há memória nem gratidão. Esta homenagem vem provar o contrário. Há figuras que deram ao Partido o rosto e a alma que ainda hoje, apesar de tantas vicissitudes, o identificam no coração do povo. Tito de Morais é uma dessas figuras. Uma das poucas a quem chamo, com emoção e orgulho, Amigo, Companheiro e Camarada.
António Arnaut
Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996
"Deparei-me hoje com um blogue de homenagem a Manuel Tito de Morais, um dos fundadores do Partido Socialista, no 10.º aniversário da sua morte.
Nele, Pedro Tito de Morais recorda, entre outros familiares, o seu tio Augusto Tito de Morais, também já falecido, professor catedrático do Instituto de Medicina Tropical, médico da Organização Mundial de Saúde que, nessa qualidade, viajou pelas sete partidas do mundo".
Rui Baptista
Ler o post em de Rerum Natura
(...) "E se estou a recordá-los é tão só para situar o clima favorável ao Governo de Salazar que existia na Europa anterior ao exílio dos Líderes da ASP.
O primeiro a ser empurrado para o exílio foi Ramos da Costa, na sequência do seu envolvimento no golpe de Beja. Instalou-se em Paris, no ano de 1961, onde começou a desenvolver uma intensa actividade de publicista em jornais e revistas, participando em reuniões internacionais, denunciando a situação que se vivia em Portugal.
Em 1966 foi a vez de Tito de Morais mudar-se para Roma, vindo da Argélia, depois de ter passado pelo Brasil onde foi parar após ter sido expulso de Angola. E por todos estes países Tito de Morais fundou movimentos de luta contra o regime fascista. Esta mudança de Tito Morais para Roma foi uma decisão política para representar a ASP em Itália com o apoio do Partido Socialista Italiano. E foi aqui que Tito de Morais começou também a desenvolver contactos internacionais que se revelaram de enorme importância.
Com Ramos da Costa, em Paris, e Tito de Morais, em Roma, a ASP fazia-se representar nos Congressos de prestigiados partidos europeus e em conferências internacionais. As arbitrariedades da ditadura e do colonialismo eram expostas e as manifestações de solidariedade para com os socialistas e os democratas em Portugal decorriam espontaneamente. Deputados socialistas em Itália levantam questões relacionadas com a falta dos direitos humanos em Portugal e manifestam no Parlamento solidariedade para com Mário Soares quando estava deportado em S. Tomé. A ASP estabelece relações com todos os Partidos filiados na Internacional Socialista (I.S.), criando laços de fraternidade com, além do P.S. de Itália, o S.P.D. na Alemanha, os Trabalhistas na Grã-Bretanha, os Sociais-democratas na Suécia, os Socialistas em França. Enfim, Tito de Morais e Ramos da Costa desdobram-se nestas relações internacionais e promovendo contactos directos com os socialistas em Portugal. Por ocasião da farsa eleitoral de 1969 uma delegação de I.S. esteve em Portugal, constituída por personalidades políticas de destaque. Todos os membros da delegação acabaram por serem expulsos pela polícia política, a PIDE, que convém que ninguém se esqueça que existiu. Assim o regime fascista foi mais uma vez denunciado e estava irremediavelmente desmascarado. Agora já se sabia na Europa que em Portugal existiam democratas, socialistas e comunistas cujos elementares direitos eram espezinhados por um regime fascista.
Assim, quando Mário Soares, por sua vez, teve de optar pelo exílio, já havia um longo trabalho empreendido na área internacional por Ramos da Costa e Tito de Morais."(...)
Museu República e Resistência, em 25 de Outubro de 1996 (link indisponível)
(ler toda a intervenção) (link indisponível)
Por ocasião do 10° aniversário do falecimento de Tito de Morais, antigo militante e cofundador do PS como também Presidente da Assembleia da República, tenho o prazer de remeter a esta Comissão as anexas fotos que remontam à Primavera do ano de 1970.
As fotos em questão foram tiradas no extremo norte da província de Viterbo, quando do exílio italiano do destacado anti-salazarista português, com quem privei, já em sua residência romana de Via Catania, momentos de agradável convívio, acompanhados de interessantes trocas de impressões sobre a situação portuguesa daquela época.
Gabriel Brustoloni
Roma, Itália
(recebido por email em 2009.12.14)
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