Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CCTM

Comemorações do Centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais

24
Abr10

Testemunho

Luis Novaes Tito

PortugalSocialista214.jpg

Conheci-o pessoalmente, só em 1973, numa reunião em Vigo, na Galiza, onde fui com António Macedo e Mário Cal Brandão para nos encontrarmos com o Mário Soares, o Jorge Campinos, o Francisco Ramos da Costa e o Tito de Morais. 

Tudo isto, se a memória não me atraiçoa, em Julho de 73, depois de ter ido a Paris em Junho do mesmo ano, para falar com Mário Soares, que então me ofereceu a edição francesa do "Portugal Amordaçado", em versão reduzida, como agora sabemos, e com o título francês "Le Portugal Bailloné".

Meses antes, em 19 de Abril de 1973, tinha sido constituído o Partido Socialista da era contemporânea e tornava-se necessário captar militantes e organizar o PS.

Durante o Verão de 73, eu e outros fundadores discutimos e redigimos a versão do “interior” para a Declaração de Princípios e o Programa do Partido Socialista.

Mas era necessário, antes disso, conhecer o coração da organização e propaganda do Partido que o Tito de Morais dirigia em Roma, com o principal apoio do Partido Socialista Italiano de Francesco di Martino.

Por esse motivo, foi aprovada a minha deslocação a Roma para conhecer melhor e receber o legado da experiência e da autoridade do Tito de Morais. Era em Roma que ele redigia, exigia colaboração e fazia imprimir o Portugal Socialista.

Tratava-se, como disse Mário Soares no prefácio à colecção de todos os números do jornal publicados na clandestinidade, de “forjar um instrumento de luta e de denúncia eficaz contra o fascismo e o colonialismo”, graças à pertinácia de Manuel Tito de Morais e à solidariedade do Partido Socialista Italiano.

Na verdade, é a Tito de Morais que se fica a dever a publicação do Portugal Socialista, pois “quaisquer que fossem as dificuldades – e eram muitas – havia que vencê-las”, como ele diz nas palavras introdutórias ao livro citado e publicado em 1977.

PortugalSocialista196701.jpg

Apesar de ele dizer que "não fui eu que fiz o Portugal Socialista", é na realidade a Tito de Morais que se deve "uma das principais armas de que nos servimos na luta contra o fascismo". E acrescenta: "É lícito, penso, perguntar se, sem o Portugal Socialista, o PS seria o que foi em 1 de Maio de 1974". É lícito e indubitável, a influência que o jornal exerceu como testemunho da existência da Acção Socialista Portuguesa e, a partir de 1973, do Partido Socialista.

PortugalSocialista01.jpg

O seu primeiro número é publicado em 1 de Maio de 1967 e logo na primeira página se esclarece que os artigos não assinados "...representam a orientação oficial da Acção Socialista Portuguesa".

Na última página desse 1º número, afirma-se: "A ASP luta por todos os meios ao seu alcance e incansavelmente, pelo derrubamento da ditadura fascista e pela instauração, em Portugal, do socialismo democrático".

A tarefa e o esforço de Tito de Morais estão bem expressos nestas palavras. A sua luta contra o fascismo passa pelas lutas estudantis, pelo MUNAF, pelo MUD, pelas cadeias do Aljube e de São Paulo em Luanda, pelo exílio na Alemanha, no Brasil, em Argel – onde representava a Resistência Republicana e Socialista na Frente Patriótica de Libertação Nacional – enfim, em Roma, onde o fui encontrar.

Aí verifiquei a sua total dedicação do Partido Socialista e ao seu jornal, o seu conhecimento político e pessoal da vida política italiana, europeia e da diáspora da resistência portuguesa ao fascismo salazarista/caetanista, as suas ideias e experiência que me permitiram colaborar na elaboração da Declaração de Princípios e do Programa do Partido Socialista publicado em Setembro de 1973 no Portugal Socialista, já desde Agosto com a menção na primeira página do nome de Tito de Morais como responsável da publicação do jornal.

Mas a grande luta que Tito de Morais desenvolve através do Portugal Socialista é a luta pela organização dos socialistas portugueses.

Esse leit-motiv surge em quase todos os números do jornal desde a sua fundação. O seu nº 2 e no editorial que é dele, Tito de Morais, sob o título "Rumo ao Futuro", a par dos objectivos da luta contra o fascismo, afirma: "Portugal Socialista tem assim uma feição prática: contribuir para a estruturação política e organização das socialistas portugueses no quadro da Acção Socialista Portuguesa".

Toda a repressão policial salazarista passa pelas páginas do Portugal Socialista: "Contra a censura", de 13 de Novembro de 1967; um abaixo-assinado ao Presidente da Assembleia Nacional no nº 7 de 1 de Dezembro de 1967 e outro de 25 de Janeiro de 1968, a deportação de Mário Soares para São Tomé, no nº 10 de Março de 1968; no nº 10 de Março de 1968 "O fim do ditador", dando conta da queda da cadeira de Salazar, no nº 14 e logo no nº 15 Ramos da Costa instituía um texto da 1ª página: "De profundis pelo ditador Salazar".

Em Janeiro de 1969, no nº 17, sob o título "a ASP e o momento político" afirma-se: "A ASP não tem quaisquer ilusões quanto à margem de liberalização que Marcelo Caetano, ele próprio prisioneiro dos ultras, será capaz de oferecer ao País".

Em Setembro de 1966, no seu nº 21, o Portugal Socialista publica um artigo que revela a preocupação fundamental de Tito de Morais: o seu título é "Organizar!".

No nº 22 de Outubro de 1969, na primeira página, sob o título "Atenção trabalhadores", ataca-se o PCP e as manobras do Avante acerca da visita a Portugal de 2 representantes da CISL, denunciando o divisionismo do PCP e defendendo a Unidade Sindical.

No nº 23 de Fevereiro de 1970, na página 7, mais uma vez Tito de Morais assina um artigo com o título "Organizar".

No nº 24 de Março de 1970, sob o título de primeira página "Basta com a repressão", denuncia-se a prisão de Francisco Salgado Zenha porque, como diz o jornal, segundo a "nota oficiosa", "tinha intenção de proferir na Faculdade de Direito de Lisboa uma conferência contra a guerra colonial".

No nº 25 de Maio de 1970 é denunciada a prisão de Jaime Gama. Sob o título "A ASP em defesa dos direitos dos trabalhadores", o nº 28 de Fevereiro de 1971 dá conta da "Queixa da CISL apresentada na OIT contra o Governo português em virtude dos atentados por ele cometidos contra as liberdades e os direitos sindicais" devida à demissão compulsiva dos dirigentes sindicais metalúrgicos.

Esta repressão arbitrária contra António dos Santos Júnior, Carlos Alves e Luís Faustino vai dar origem a um livro em que eu e o Victor Wengorovius denunciamos, através de um processo judicial, a intromissão arbitrária do Ministério das Corporações na destituição daqueles dirigentes sindicais. O livro tem o título "Uma questão sindical" e é incluído numa "lista de livros que se devem ler" no nº 30 de Outubro de 1971 do Portugal Socialista.

É ainda a mortalidade infantil em 1963, em Portugal (474 em 1000 nados vivos, contra 100 na Suécia e 262 em Espanha), no nº 5 de 1 de Outubro de 1967, e no mesmo nº a notícia do grupo da LUAR que se apodera de 30.000 contos no Banco de Portugal na Figueira da Foz, em Maio de 1967, "para serem utilizados no financiamento e preparação do movimento revolucionário", a morte de Che Guevara no nº 6 de 1 de Novembro de 1967, o caso Ballets Roses de Correia d’Oliveira (Nº 8 de 1 de Janeiro de 1968), curiosamente uma trombose cardiovascular que Salazar teria sofrido em fins de Fevereiro de 1968 (nº 11 de 1 de Abril de 1968), a morte de António Sérgio (Nº18 de Março de 1969), a de Manuel Mendes (nº 20, Julho de 1969), a recordação e homenagem a Humberto Delgado no 5º aniversário da sua morte (nº 23 de Fevereiro de 1970) e os incidentes com os católicos progressistas na Capela do Rato na noite de 30 de Dezembro de 1972 (nº 34 de Janeiro de 1973).

TitoMBarrosoPalmaInacio102401.jpg

Esta obra de pertinácia (como diz Mário Soares), de esforço e dedicação permanente de Tito de Morais no Portugal Socialista, sobretudo pela captação de militantes (e não adeptos, como ele frisa algures no jornal) e pela organização do Partido Socialista, iria dar os seus frutos a seguir ao 25 de Abril de 1974.

É o Tito de Morais, com efeito, que nos leva a participar na manifestação do 1º de Maio de 1974, com a bandeira do Partido à frente dos seus militantes, com o punho erguido que ele concebeu e fez imprimir em Itália em Setembro de 1973, sob fundo vermelho em circunferência, partindo uma espada e com uma circular com letras douradas onde se lê "Partido Socialista".

Foi com este símbolo e com esta bandeira que chegámos a primeiro Partido português que hoje continuamos a ser.

É o Tito de Morais que toma nas suas mãos antes e depois do 25 de Abril a tarefa ingente de organizar, organizar e organizar o Partido Socialista, os seus ficheiros, os seus departamentos e também a sua acção e contribuir, decisivamente, para a consolidação do socialismo democrático como Partido de militantes que queremos continuar a ser.

Mas não é só o Partido Socialista que lhe fica a dever a sua organização, estruturação e acção militante; é também a democracia portuguesa que se afirmou e hoje caminha e se confirma mais forte e segura contra todas as tentativas falhadas de poder totalitário e de poder pessoal que tem uma dívida de gratidão e de homenagem a um dos seus principais obreiros que é Tito de Morais.

Marcelo Curto

Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996

Imagens: Portugal Socialista nº 1 da ASP (1967) e nº 1 do PS (1973)

Fotografia do 1º de Maio de 1974 - Palma Inácio, Maria Barroso e Tito de Morais

Espólio de Tito de Morais

© CCTM (85)

22
Abr10

Um marco da democracia

CCTM

PortugalSocialista02.jpg

Tito de Morais é um marco da democracia portuguesa – serenamente inamovível.

Recordo o Tito em Roma, o Tito em Paris, o Tito em Argel, sempre presente, sempre disponível, sempre empenhado a corpo inteiro no combate pela democracia. Recordo Tito nas alegrias e nas lutas do imediato post-25 de Abril, na batalha pela afirmação e consolidação do Partido Socialista.

PS e Tito de Morais são indissociáveis. Pai fundador, sofreu as agruras do jovem PS nos caminhos difíceis do exílio, suportou os embates da ausência quando sonhava o País que Portugal haveria de ser, no meio das dificuldades reais que diariamente enfrentava.

Cada um de nós nesses tempos que eram de vida dura, mas de sonho fácil, construía a imagem do seu futuro e do País que, julgava viria a ajudar a construir. Nem todos sonhávamos o mesmo, mas havia em comum a generosidade, o respeito pela convivência democrática, um gosto de “liberdade, de igualdade e fraternidade” que tínhamos aprendido a respeitar como valores maiores.

Quando foram depois as desilusões e as esperanças perdidas? Quantos ficaram à deriva, sem valores e sem norte, depois de tantas juras ao povo e pelo povo? Quantos trocaram o que era talvez utopia, mas fazia a sua riqueza pelo pragmatismo que justifica todos os oportunismos? Muitos, não o Tito de Morais que soube sempre permanecer fiel a si próprio. O que faz dele um exemplo. Exemplo de perseverança e coerência.

Tito representa no PS a presença teimosa de um sonho. O sonho de um País socialista – as palavras não o assustam – mais livre, mais fraterno, mais justo.

Lopes Cardoso

Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996

© CCTM (84)

18
Abr10

CCTM - calendário provisório

Luis Novaes Tito

PublicacaoDesdobravel01.jpg

 

Ainda sujeito a confirmação e eventuais alterações, que na altura serão comunicadas, divulga-se o calendário das comemorações do centenário de Tito de Morais que se centrarão na semana que decorre entre 28 de Junho, data em que Manuel Alfredo Tito de Morais faria cem anos, e 2 de Julho.

Todas estas acções estão a ser preparadas com os respectivos promotores e o patrocínio para a edição da fotobiografia, da autoria da Comissão Executiva, está assegurado pelo Partido Socialista.

Voltaremos em breve a este assunto, quando já for possível apresentar os detalhes.

28 de Junho
Câmara Municipal de Lisboa

Descerramento do busto de Tito de Morais no jardim público adjacente à Sede Nacional do PS. (12:00 h)

Museu da República e Resistência
Sessão Solene. (18:00 h)
Apresentação da fotobiografia de Tito de Morais.
Exposição.

29 de Junho
Assembleia da República
Descerramento de uma lápide na casa de Lisboa onde viveu Tito de Morais. (12:00 h)

Sessão solene na Assembleia da República. (18:00 h)
Edição de uma biografia.
Exposição.
Lançamento de um inteiro-postal. (CTT)

30 de Junho
Grande Oriente Lusitano
Sessão branca. (19:00 h)

1 de Julho
Associação Tito de Morais
Escritura da Associação. (11:00 h)

Fundação Mário Soares
Sessão solene. (19:00 h)
Exposição da FMS.

2 de Julho
Partido Socialista
Sessão Solene na Sede Nacional - Largo do Rato. (17:00 h)

Apresentação do número especial do Portugal Socialista.
Abertura da Sala Tito de Morais.

De 3 a 6 de Julho
Exposições sobre a vida de Tito de Morais nas Federações do PS:

Algarve, Coimbra, Lisboa, Porto e Viana do Castelo.

Durante todo o mês de Junho
Aprovação de votos de homenagem em diversas estruturas do PS.

Edição de um caderno especial sobre Tito de Morais no Acção Socialista (link indisponível)
Edição de um caderno especial sobre Tito de Morais no Jovem Socialista (link indisponível)

Ainda no âmbito das CCTM:
Documentário na RTP2 sobre a vida de Tito de Morais. (noite de 26/06)

Lançamento da fotobiografia de Tito de Morais em diversas livrarias (semana de 21 a 27 de Junho).

© CCTM (83)

15
Abr10

Tito de Morais, Impulsionador e Obreiro

Jose Neves

PSBandeiraOriginal01.jpg

A acção de Tito de Morais desde a sua mudança para Roma em 1966 foi de uma importância política extraordinária, pois abriu uma nova fase da actividade política do movimento Acção Socialista Portuguesa (ASP). Do período que vai dessa data até ao 25 de Abril, o trabalho de Tito de Morais repartiu-se por várias áreas, merecendo maior destaque:

• A área de relações internacionais, tendo participado em conferências e congressos de prestigiados partidos europeus e organizações internacionais, desta forma denunciando a ditadura em Portugal e obtendo apoios para a luta;

• No âmbito da divulgação da mensagem socialista através da criação do jornal “Portugal Socialista”, publicação da ASP e que se tornou no órgão central do Partido Socialista, meio de difusão dos valores socialistas e de luta anti-fascista;

• No sector de recrutamento de militantes junto dos emigrantes portugueses e na criação e coordenação dos Núcleos ASP, depois PS, no estrangeiro, função que, como Secretário de Organização, o levou a promover encontros em vários países europeus.

É bem conhecida que toda esta actividade de Tito de Morais no exílio era exercida com enorme empenhamento, tendo dado uma contribuição incontornável para a expansão da ASP e, desta forma, criando as condições indispensáveis para a fundação do Partido Socialista. As acções desencadeadas pela sua criatividade política, o estímulo que impregnou no trabalho desenvolvido e a inquebrantável perseverança à causa do socialismo qualificam Tito de Morais como impulsionador da fundação do Partido Socialista.

Como militante da ASP, em cujo Núcleo de Londres exerci a minha militância desde 1970, com frequentes contactos com Tito de Morais, posso bem testemunhar o que em síntese acima descrevo. Acresce que, depois da revolução redentora dos Capitães de Abril e criadas as condições para a actividade política em liberdade, Tito de Morais, mais uma vez, deixou uma marca fundamental no Partido Socialista, agora no âmbito da implantação de estruturas partidárias por todo o país.

Na 1ª sede do PS, em São Pedro de Alcântara, tive o privilégio de trabalhar no mesmo gabinete de Tito de Morais. Era bem visível a satisfação com que Tito, logo de manhã, dava andamento ao expediente, despachando com a sua secretária, camarada Maria do Carmo Maia Cadete. Depois recebia militantes e simpatizantes socialistas que vinham de todo o país oferecer o seu apoio ao Partido, dava entrevistas aos órgãos de imprensa nacional e internacional, geria toda a imensa azáfama de tarefas políticas que surgiam a todo o momento, enfim, era o dirigente disponível para todas as funções políticas.

Naturalmente que Tito de Morais não era o único dirigente socialista, mas todos os outros andavam demasiado absorvidos em actividades políticas, como reconheceu Mário Soares no seu relatório ao 1º Congresso Nacional: “… muitos de nós, durante estes sete trabalhosos meses, têm estado tão ocupados que mal têm tempo de passar pelo Partido.”

Um dia Tito chamou-me junto à sua mesa de trabalho para me incumbir de uma tarefa, o que acontecia regularmente. Desta vez, abrindo um gavetão apinhado de cartas, cartões ou simples apontamentos com contactos de apoiantes e amigos que tinham vindo oferecer a sua disponibilidade para apoiar o Partido, incumbiu-me de analisar todos esses documentos e fazer uma proposta para a implantação do Partido Socialista no país, missão que seria empreendida por três camaradas.

A estruturação da proposta foi simples, pois existiam vários pontos de contacto em todos os distritos. Aprovado o plano foram criadas três zonas de trabalho, Zona Norte e Zona Sul, que ficaram sob a responsabilidade política, respectivamente, dos saudosos camaradas João Tito de Morais e Catanho de Menezes, ficando José Neves com a Zona Centro. As áreas de Lisboa, Açores e Madeira foram estruturadas num sistema próprio.

Foram 5 meses de trabalho árduo, sob a orientação e coordenação de Tito de Morais, mas chegou-se ao Congresso Nacional e no relatório acima referido podia-se afirmar com orgulho: “Todos os concelhos do país, com raríssimas excepções, estão cobertos por secções ou por núcleos P.S. – a esmagadora maioria dos quais com sedes abertas e em pleno funcionamento.”

Tito de Morais, além deste trabalho gigantesco a nível nacional, foi o dirigente que assegurou o funcionamento interno do P.S. neste período difícil e conturbado. Recorde-se que à medida que o Congresso se aproximava aumentava a agitação política interna no Partido devido à acção do grupo Movimento Socialista Português (MSP), dirigido pelo histórico resistente anti-fascista Manuel Serra (recentemente falecido). E foi sob a direcção de Tito de Morais que foi conduzida a maior oposição ao MSP, cujo desfecho em Congresso favorável ao PS se ficou a dever a um brilhante discurso de Manuel Alegre.

Por tudo isto, Tito Morais foi também o obreiro da estruturação do Partido Socialista, cuja implantação a nível nacional contribuiu decisivamente para o papel histórico que veio a desempenhar na sociedade portuguesa.

© CCTM (82)

12
Abr10

Prisões

CCTM

PIDEAngolaManuscrito01.jpg

Registo manuscrito da prisão em Luanda
Abril de 1961

Em 1961, com o início da guerra colonial em Angola, o clima adensou-se.

Exemplo disso foi um episódio passado com sua mulher. Um dia, o chefe da secção de pessoal da empresa onde Maria Emília trabalhava entrou, abruptamente, no seu gabinete, colocou a pistola que transportava no bolso em cima da secretária e gritou:

– «Tenho de comprar mais balas, porque agora não é só preciso matar os pretos, tenho também de matar os comunistas».

Tito de Morais apercebeu-se que se avizinhavam tempos de represálias e temeu pela sua família, forçando-os a regressar a Portugal. Precisamente quando Maria Emília e os dois filhos chegavam a Lisboa a PIDE prendeu-o. Na cadeia de Luanda passou um dos períodos mais duros da sua vida. Foi sujeito a maus-tratos e tortura e enviado para Lisboa, sob prisão.

A sua transferência para Portugal e posterior libertação, no aeroporto de Lisboa, deveu-se ao movimento de um grupo de amigos que responsabilizou as autoridades pela sua vida, que perigava em consequência do tratamento desumano e cruel a que estava sujeito.

Recomeçar profissionalmente, agora com 50 anos, foi tarefa difícil, acrescida pela perseguição constante da PIDE que inviabilizava todas as promessas de emprego, como por exemplo na Siemens, onde lhe garantiram uma colocação, negando-lha no dia imediato.

 

PIDEAngolaDenuncia01.jpg

Já em 1952
os cestos de papéis eram fonte de informação

Fonte: Espólio de Tito de Morais
(Documentos e texto da fotobiografia a lançar em Junho de 2010)

© CCTM (81)

01
Abr10

Homem profundamente leal aos amigos

CCTM

LuisFilipeMadeira01.jpg

Conheci o Tito de Morais logo após o 25 de Abril, quando em 1974 aderi ao PS.

As primeiras impressões foram ditadas pela sua figura, austera e grave, de velho combatente republicano e socialista, com o grosso bigode grisalho e "fumado". Homem profundamente leal aos amigos, foi solidário com Mário Soares em circunstâncias difíceis da vida do partido. Mas não deixou nunca de manifestar as suas reticências relativamente a certas estratégias.

Relevo três situações que ilustram o que atrás fica dito:

A primeira ocorreu no início de funções do primeiro governo constitucional.

Na qualidade de secretários de Estado participámos ambos num Conselho de Ministros em que se discutiu a acção diplomática a levar a cabo pelo 1º Ministro no estrangeiro. Aonde devia ser a primeira visita? Cunha Rego propôs que fosse ao Brasil (ainda nas teias do poder militar). O Manuel Tito, apoiado por mim, propôs Angola.

Foi o Brasil a opção com todos os equívocos (relativos a Angola) que se seguiram.

A segunda verificou-se aquando das acções que conduziram à formação do II Governo (PS/CDS).

Os renitentes foram convocados a S. Bento para serem convencidos a pôr de lado as reticências. Chamados foram mais de 20. Que me lembre só o Manuel Tito recusou. Talvez não tivesse razão, mas as suas objecções de consciência (e de longo prazo) não cederam.

A terceira teve lugar em 1987 após a Moção de Censura que levou à demissão do governo minoritário do PSD.

Na sequência, todas as forças políticas que aprovaram a censura (PS, PRD, PCP e CDS) manifestaram ao PR a sua vontade de apoiar a formação (viabilizando-o por um período razoável) de um Governo minoritário PS no quadro parlamentar existente. Na crispação que se seguiu, numa minoria do PS, à eleição de Vítor Constâncio para S.G., o PR preferiu dissolver a AR, levando às maiorias absolutas do PSD que se seguiram. Nas hostes socialistas mais próximas do PR só Manuel Tito de Morais manifestou publicamente o seu desagrado, o que lhe valeria alguns contratempos futuros.

Outras estórias poderiam ser aqui descritas, mas isso levar-nos-ia mais longe do que agora convém.

Luís Filipe Madeira

© CCTM (80)

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Contactos

Largo do Rato nº 2
1269-143 Lisboa
(inactivo)
cctm@sapo.pt (inactivo)
ATM - Associação Tito de Morais
Rua Abel Salazar, 37B
Alto da Faia
1600-817 Lisboa
titomorais@titomorais.pt (ATM)
luismariatito@gmail.com (webmaster)

ATM

Nota do Webmaster (2022)

Este Blog está, como se pode ler no "feed", selado para memória desde o dia 2010.07.29, data em que a Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do nascimento de Tito de Morais se extinguiu.
O tempo (12 anos), em termos de evolução tecnológica, é inimigo das selagens e o Blog, para que continue a reflectir a memória, teve de ser tecnicamente “desselado” para manutenção.
Na minha qualidade de webmaster reactivei as imagens, uma vez que a base de dados onde estavam alojadas foi descontinuada, e procedi a alguns ajustes para permitir que este acervo se mantenha funcional. Estes trabalhos decorreram entre 14 e 25 de Setembro de 2022
Se em relação ao texto fica a garantia de praticamente nada ter sido alterado, com excepção de alguns links externos entretanto quebrados ou já inexistentes, já no grafismo original houve que fazer pequenos acertos.
A nota justificativa está registada na última (primeira) página do Blog.
Luís Novaes Tito
luismariatito@gmail.com
2022.09.25

Links

redes sociais

blogs da casa

outros blogs

outros sítios

institucionais

comunicação social

.

Arquivo