Um marco da democracia
Tito de Morais é um marco da democracia portuguesa – serenamente inamovível.
Recordo o Tito em Roma, o Tito em Paris, o Tito em Argel, sempre presente, sempre disponível, sempre empenhado a corpo inteiro no combate pela democracia. Recordo Tito nas alegrias e nas lutas do imediato post-25 de Abril, na batalha pela afirmação e consolidação do Partido Socialista.
PS e Tito de Morais são indissociáveis. Pai fundador, sofreu as agruras do jovem PS nos caminhos difíceis do exílio, suportou os embates da ausência quando sonhava o País que Portugal haveria de ser, no meio das dificuldades reais que diariamente enfrentava.
Cada um de nós nesses tempos que eram de vida dura, mas de sonho fácil, construía a imagem do seu futuro e do País que, julgava viria a ajudar a construir. Nem todos sonhávamos o mesmo, mas havia em comum a generosidade, o respeito pela convivência democrática, um gosto de “liberdade, de igualdade e fraternidade” que tínhamos aprendido a respeitar como valores maiores.
Quando foram depois as desilusões e as esperanças perdidas? Quantos ficaram à deriva, sem valores e sem norte, depois de tantas juras ao povo e pelo povo? Quantos trocaram o que era talvez utopia, mas fazia a sua riqueza pelo pragmatismo que justifica todos os oportunismos? Muitos, não o Tito de Morais que soube sempre permanecer fiel a si próprio. O que faz dele um exemplo. Exemplo de perseverança e coerência.
Tito representa no PS a presença teimosa de um sonho. O sonho de um País socialista – as palavras não o assustam – mais livre, mais fraterno, mais justo.
Lopes Cardoso
Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996