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Comemorações do Centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais

16
Jul10

Portugal Socialista - 2010.07.02

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"Apesar de ele dizer que "não fui eu que fiz o Portugal Socialista", é na realidade a Tito de Morais que se deve "uma das principais armas de que nos servimos na luta contra o fascismo". E acrescenta: "É lícito, penso, perguntar se, sem o Portugal Socialista, o PS seria o que foi em 1 de Maio de 1974". É lícito e indubitável, a influência que o jornal exerceu como testemunho da existência da Acção Socialista Portuguesa e, a partir de 1973, do Partido Socialista."

Marcelo Curto

 

Extracto do depoimento publicado neste Blog

O número especial comemorativo do Portugal Socialista dedicado a Manuel Tito de Morais que hoje se termina de publicar na Internet é a maior homenagem que o Partido Socialista lhe podia dedicar.

Tito de Morais criou esta arma em Itália para a fazer disparar em Portugal e nos núcleos da ASP no exterior, como primeira chanfalhada ao regime ditatorial português.

Com editorial do seu director, José Augusto de Carvalho, este número conta com artigos (por ordem de publicação) da autoria de:

António de Almeida Santos, José Sócrates, Mário Soares, J. Ferraz de Abreu, António Guterres, Eduardo Ferro Rodrigues, Amândio Silva, Ana Gomes, António Arnaut, António Coimbra Martins, António Costa, António José Seguro, António Reis, Antunes Ferreira, Duarte Cordeiro, Edmundo Pedro, Germano Lima, José Neves, Luís Novaes Tito, Manuel Alegre, Manuel van Hoof Ribeiro, Maria Carolina Tito de Morais, Maria do Carmo Romão, Maria Helena Carvalho dos Santos, Maria de Jesus Barroso, Maria José Gama, Maria Manuela Augusto, Pedro Coelho, Pedro Pezarat Correia, Vasco Lourenço e Vítor Crespo.

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16
Jul10

Portugal Socialista - Edição Especial - Índice

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Índice da Edição Especial do Portugal Socialista 2010.07.02

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Editorial

Legado, inspiração e estímulo
José Augusto de Carvalho

Sempre em defesa dos valores republicanos e socialistas
António de Almeida Santos

Exemplo de empenho cívico
José Sócrates

Testemunho
Mário Soares

Guardião dos valores do socialismo democrático
J. Ferraz de Abreu

Representou a alma do partido
António Guterres

Um socialista sem medo
Eduardo Ferro Rodrigues

Manuel Tito de Morais, o socialista
Amândio Silva

Combatividade inquebrantável e fidelidade à ética republicana
Ana Gomes

Reabilitar o projecto socialista
António Arnaut

Lembrar e seguir
António Coimbra Martins

Um inesquecível camarada
António Costa

Firmeza das convicções e coerência na acção
António José Seguro

A força das convicções no ideário socialista
António Reis

Militante da amizade
Antunes Ferreira

Figura cimeira da luta pela liberdade
Duarte Cordeiro

Um socialista de fortes convicções
Edmundo Pedro

Um homem de princípios
Germano Lima

Artífice da edificação do Partido Socialista
José Neves

Esta viagem a Tito de Morais é uma passagem geracional de testemunho
Luís Novaes Tito

Um socialista praticante
Manuel Alegre

Um ídolo da minha juventude
Manuel van Hoof Ribeiro

A coragem de um combatente e a fraternidade de um homem
Maria Carolina Tito de Morais

Um ícone da democracia
Maria do Carmo Romão

Porque sem ideias não há convicções e sem ambas não teria havido revolução
Maria Helena Carvalho dos Santos

Tem um lugar na História do país
Maria de Jesus Barroso

Homenagear Tito de Morais é homenagear Abril e a Liberdade
Maria José Gama

Uma referência do Partido Socialista
Maria Manuela Augusto

Memória de um amigo
Pedro Coelho

Manuel Tito de Morais e o 25 de Abril
Pedro Pezarat Correia

Grande lutador pelos valores da justiça social
Vasco Lourenço

Um patriota de excepcional coragem
Vítor Crespo

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15
Jul10

Legado, inspiração e estímulo - Editorial

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Logo que os recebi da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Tito de Morais, li detidamente, do primeiro ao último, os textos que dão corpo e alma à presente edição especial do “Portugal Socialista”.

De seguida, reli os depoimentos – igualmente em homenagem a Tito de Morais – também aqui dados à estampa em Outubro de 1996.

Completei a minha incursão percorrendo um livro já de folhas amarelecidas que reproduz a colecção de todos os números do “Portugal Socialista”, publicados na clandestinidade.

Tratou-se de um triplo itinerário – que vivamente recomendo aos mais jovens – de reencontro com a história, a memória, o património e os tesouros do nosso Partido Socialista. Tesouros de dedicação, tenacidade, sacrifício e entrega. E, simultaneamente, de coerência, fidelidade, fraternidade e humanismo.

São homens e mulheres cuja grandeza faz jus a que figurem na história do Partido Socialista e na História maior de Portugal. Portugueses que tudo na vida sacrificaram para que pudessem legar aos seus filhos uma terra de liberdade, democracia e justiça social.

Sem um esbirro em cada esquina, uma censura em cada voz e o risco de destruição em cada vida. Pela dignidade como estrutura essencial do homem e contra as injustiças gritantes ou sem voz.

Entre os combatentes heroicos por uma Pátria nova, indubitavelmente, avulta Manuel Tito de Morais. Cidadão tenaz, impoluto, nobre de sentimentos, para quem o homem não foi feito para vegetar na mediocridade. Não foi feito para a adaptação e a resignação. Daí que as actuais comemorações do seu centenário constituam uma justa homenagem e um oportuno estímulo.

Pela lição de vida de Tito de Morais, são comemorações que se colocam nos antípodas das que mumificam os vivos, estimulando-nos a reflectir em ordem a melhor responder às inquietações e perplexidades que nos assaltam.

Até porque, como Coimbra Martins lapidarmente deixa escrito adiante, “comemorar é partir de novo”.

O Partido Socialista é obra generosa e patriótica, decisivamente, do gesto precursor de Abril de 1964 de Mário Soares, Ramos da Costa e Tito de Morais e dos que em Abril de 1973 – Abril premonitório! – Se reuniram em Bad Munstereiffel.

O Partido Socialista é um corpo social, uma comunidade de mulheres e homens livres com valores comuns que o vocacionam para se assumir como a figuração da alma portuguesa.

Inspirados em Tito de Morais e noutros obreiros de referência do Partido Socialista, saibamos remar contra a corrente para chegarmos à nascente que ambicionamos e nos identifica.

“São ideias que mudam o mundo e não o mundo que muda as ideias” como, no seu testemunho, aqui nos recorda António Arnaut.

A natureza cria as nozes, mas não as parte. Tito de Morais e outros socialistas seus contemporâneos fizeram o que generosa e patrioticamente lhes cabia.

Façamos nós, neste tempo, o que nos cabe.

Com determinação e optimismo, enquanto força vital e vontade de futuro.

José Augusto Carvalho

Director do Portugal Socialista

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15
Jul10

Sempre em defesa dos valores republicanos e socialistas

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O Eng.º Tito de Morais foi uma das minhas referências políticas. É-o ainda a sua memória.

Conheci-o em Madrid, juntamente com Mário Soares, onde para os encontrar me desloquei, em pleno salazarismo. Mário Soares estava exilado em Paris, e Tito de Morais exilado em Itália. Eu advogava em Lourenço Marques, capital de Moçambique, e vinha com frequência a Lisboa, por motivos profissionais. Encontrava-me com o meu velho amigo Salgado Zenha, com Raul Rego, o Gustavo Soromenho, e os outros revolucionários do costume, que tinha conhecido por intermédio de Soares e Zenha.

O tema do encontro de Madrid foi, como sempre, o problema do Ultramar e o derrube do ditador.

Tito de Morais causou em mim uma forte impressão. O futuro viria a confirmá-la. Ele viria a editar e difundir o “Portugal Socialista” e, mais tarde, esteve entre os fundadores do Partido Socialista.

Reencontrámo-nos na exaltação dos cravos, quando ele e Mário Soares regressaram, livres, a Portugal. Eu estava em Lisboa quando a liberdade eclodiu, vivi a exaltação de ser livre, pela primeira vez, quarenta e oito anos depois de ter nascido e, pouco depois, regressei definitivamente a Portugal para integrar o primeiro governo provisório.

É inimaginável a alegria com que, na cerimónia da posse, pude encontrar a meu lado os meus velhos companheiros de luta Mário Soares, Salgado Zenha e Raul Rego. Além do meu amigo Prof. Adelino da Palma Carlos, como Primeiro-Ministro.

Como entrei para o Governo na qualidade de independente, o PS pôde contar sempre com um voto a mais nas reuniões dos sucessivos governos provisórios – nada menos de cinco – em que participei antes do primeiro governo constitucional. Neste e nos demais de que fiz parte, já votei como militante do P.S.

E foi nos encontros partidários e pessoais, não só como camarada, mas crescentemente amigo, que melhor conheci e crescentemente admirei o Manuel Tito de Morais. Foi para mim, sobretudo, um exemplo de dignidade pessoal. Como lutador político, e sobretudo como agente, foi sempre um corajoso exemplo de aprumo pessoal, rigor funcional, e exigência ética.

Nas reuniões do partido, esteve sempre do lado do respeito pelos princípios e os valores republicanos, democráticos e socialistas. Debalde se lhe oporiam exigências do pragmatismo e da realidade. Foi sempre, nesse sentido, um fervoroso cultor do pensamento utópico. Nunca cultivou a ambição de cargos ou se bateu por eles. Bem ao contrário, rejeitou alguns. No partido foi tudo o que quis ser. Pertenceu sempre aos mais altos órgãos. Fora dele, abriu apenas duas excepções: aceitou ser Secretário de Estado e Presidente da Assembleia da República.

Diferente terá sido a satisfação que um e outro desses cargos lhe proporcionaram. Tito de Morais não era um executivo. Se tivesse querido sê-lo, não lhe teriam faltado oportunidades. Na administração pública e fora dela. Mas não quis.

E não quis, entre outras razões, porque nunca o seduziram as altas honrarias e remunerações, ou mesmo a riqueza em si. Viveu modestamente até ao fim.

Onde terá bebido essa sua tão sedutora personalidade? Decerto nos princípios de ética política a que sempre foi fiel. Mas também nos genes e nos exemplos que herdou de seu pai, um ilustre oficial da Marinha que foi uma figura destacada da revolução republicana de cinco de Outubro de 1910. Bateu-se a partir de barcos surtos no Tejo, e é sabido que, o que mais cedo fez fugir o jovem rei D. Manuel, que não tinha nascido para actos de coragem, foi a bombarda com que um desses barcos logrou atingir o quarto de dormir do rei no Palácio das Necessidades. Em razão disso tomado de pânico, partiu para Mafra, daí para Ericeira, e daí para o exílio, no iate real que tinha estado na origem de um dos escandalosos adiantamentos não pagos à Casa Real, que tanto deterioraram a imagem do rei D. Carlos. Tito de Morais terá herdado de seu pai a mística de aprumo cívico e ético que foi a dominante de toda a sua vida.

Passa este ano o centenário de Manuel Tito de Morais. O País e a República têm para com ele umas dívidas de exemplar cidadania. E se saldássemos essa dívida?

Como seu camarada e amigo; como venerador da sua memória e do seu exemplo, eu veria isso com inultrapassável satisfação. Sei que a Câmara Municipal cogita num busto. Sei que a Assembleia da República programa também uma homenagem. Esses actos são justos. Mas não serão pouco?

António de Almeida Santos
Presidente do Partido Socialista

© CCTM (169)

15
Jul10

Exemplo de empenho cívico

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No centenário do seu nascimento, neste ano também centenário para a República, é tempo de reencontro evocativo com um republicano e socialista de têmpera como era Manuel Tito de Morais. E, por isso, quero deixar o meu testemunho sobre aquele que foi um dos principais obreiros do Partido Socialista. Um homem cujo empenho na causa socialista remonta a esses longínquos tempos em que ele, Mário Soares e Francisco Ramos da Costa fundaram a Acção Socialista Portuguesa, esse precioso embrião de um dos mais importantes pilares da nossa democracia, o Partido Socialista.

Conheci-o como homem de fortes convicções, determinado, lutador e corajoso, que viu a sua vida, nesses tempos difíceis da ditadura, transformar-se num permanente roteiro de exilado em luta pela liberdade do seu País. A ele devemos muito do que representa o nosso PS, porque ele sempre esteve lá, onde se decidiam os difíceis caminhos da liberdade e da democracia. Caminhos que, primeiro, a ASP e, depois, o PS sempre ousaram trilhar com a nobreza de alma dos seus fundadores.

Fundador e Presidente do PS, Presidente da Assembleia da República, deputado, constituinte e militante apaixonado da causa pública, Manuel Tito de Morais deixou-nos um testemunho exemplar de empenho cívico, de coerência moral, de espírito lutador e companheirismo solidário.

É por isso que, no Centenário do seu nascimento, o evoco com grande emoção e gratidão, em nome do PS e de todos aqueles que amam a liberdade e a democracia. E é uma coincidência gratificante que o possamos lembrar precisamente neste ano de evocação da também centenária República, dos seus ideais e dos seus valores de cidadania.

Valores que, afinal, também sempre foram os seus.

José Sócrates
Secretário-geral do Partido Socialista

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14
Jul10

Testemunho

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Conheci o engenheiro Manuel Tito de Morais, no Movimento de Unidade Democrática (MUD), em 1945, no imediato fim da II Grande Guerra, na Europa. Filho de um dos chamados "almirantes da República", do mesmo nome – como Afonso Cerqueira, Cabeçadas e Sousa Dias – revolucionários do 5 de Outubro e amigo do meu Pai, só tinha razões para simpatizar com ele e nos tornarmos camaradas, apesar da diferença de idades que havia entre nós.

Acresce que Manuel Alfredo Tito de Morais se revelou um activista antifascista sempre pronto a participar nas acções mais audaciosas, contra a ditadura, legais e para-legais, como então dizíamos. Era um tempo de euforia, dada a vitória das Democracias, na II Grande Guerra, e da União Soviética bem como da criação da ONU. Todos pensávamos, com lógica, que os pequenos e cruéis ditadores peninsulares – Salazar e Franco – não se aguentariam no poder, contra a corrente. Mas os interesses e os complexos caminhos da política, às vezes, desmentem a lógica das coisas. Foi o caso, sobretudo após se instalar a "guerra-fria", que dividiu o mundo em dois...

Essa aprendizagem difícil, fizemo-la os dois, conjuntamente, com os nossos amigos e camaradas, Manuel Mendes, Gustavo Soromenho, Maria Isabel Aboim Inglês, Luciano Serrão de Moura, Lobo Vilela, Teófilo Carvalho dos Santos, Ramos da Costa e alguns outros, tendo como referências principais duas figuras de excepção: Mário de Azevedo Gomes e Bento de Jesus Caraça, ambos Professores universitários e os dois compulsivamente demitidos por Salazar.

Manuel Alfredo Tito de Morais e eu próprio fizemos parte da Comissão Central do MUD (na segunda fase). Por isso, fomos processados e tivemos de depositar uma caução de cem contos, cada, uma soma considerável para a época, para ficarmos em liberdade. Mais tarde, fomos presos, tendo passado cerca de dois meses na mesma cela do Aljube, onde estavam também, Azevedo Gomes, Manuel Mendes, Mayer Garção e outros. Inclusivamente o meu Pai e o velho revolucionário Maldonado de Freitas, das Caldas da Rainha, mas esses por terem participado numa tentativa de um putsch militar frustrada...

Em 1949 participámos ambos na Campanha presidencial do general Norton de Matos – que foi uma farsa salazarista da chamada, por Salazar, "liberdade suficiente" – e, em consequência disso, voltámos a ser presos. Manuel Tito de Morais, por razões pessoais, resolveu ir para Angola. Por isso, participou, efemeramente na Campanha do general Humberto Delgado, em Angola, e eu em Lisboa. Os resultados são conhecidos: o roubo eleitoral da Ditadura foi evidente e o general, depois de ter estado exilado no Brasil e na Argélia, resolveu participar numa tentativa revolucionária em Portugal, que foi uma armadilha, onde foi assassinado pela PIDE, à ordem de Salazar.

Entretanto, anos antes, em 1961, deram-se os primeiros ataques nacionalistas em Angola. Na leva das prisões feitas pela ditadura foi incluído Tito de Morais, juntamente com os angolanos, apenas por ser reconhecido como oposicionista e anticolonialista. Prevenidos pela sua segunda Mulher, Maria Emília, escrevemos uma carta de protesto ao ministro das Colónias Adriano Moreira, que o fez regressar a Lisboa e o libertou. Tito, esteve pouco tempo em Lisboa. Resolveu exilar-se, voluntariamente, para a Argélia e, depois, para Itália.

Durante este longo período, em que estivemos tão distantes, mantivemos sempre o contacto, embora espaçado. Em 1964 num encontro que tivemos em Genève, no modesto Hotel Moderno, Ramos da Costa, Tito de Morais e eu, devidamente mandatados pelos nossos camaradas e amigos, fundámos a Acção Socialista Portuguesa (ASP) com a intenção, que veio a concretizar-se, de fundar um verdadeiro Partido Socialista. Porquê? Porque, dado o ambiente internacional da "guerra fria", que então atravessávamos, tínhamos a percepção de que se não nos autonomizássemos do PCP – que era então o único partido organizado, na clandestinidade – nunca conseguiríamos credibilizar-nos, junto da corrente socialista extremamente influente na Europa Ocidental.

Durante esse período da ASP, de 1964 a 1973, que foi uma fase de grande expansão, Tito vivia em Roma, onde lançou o jornal Portugal Socialista, com a ajuda do PS italiano, o Ramos da Costa em Paris e eu, em Lisboa, com os percalços habituais: prisões, deportação em São Tomé e finalmente exílio forçado, em Paris.

Em 1973 convertemos a ASP em Partido Socialista num Congresso realizado em Bad Münstereifel, Alemanha, em que participaram camaradas vindos de várias cidades do interior (Portugal) e camaradas exilados políticos em diferentes países europeus. Foi um período politicamente trabalhoso, em que multiplicámos os contactos internacionais, com os Partidos da Internacional Socialista – na qual fomos admitidos nesse mesmo ano – e não só, em vários Continentes, com a visão sempre presente de que o regime estava no fim. Não nos enganámos.

Em 24 de Abril de 1974, encontrávamo-nos os três – Ramos da Costa, Tito e eu – em Bona, a convite de Willy Brandt. Tentávamos convencer os camaradas do SPD, de que a revolução em Portugal estava para breve. Em vão. Estavam no Governo, tinham o poder – julgavam ter as melhores informações – e diziam-nos que a Ditadura de Caetano estava de pedra e cal. Para durar...

No dia seguinte de manhã, bem cedo, fomos acordados pelos camaradas alemães a informar-nos que, afinal, alguma coisa se estava a passar em Lisboa. Voámos para a sede do SPD e conseguimos falar telefonicamente com o Raul Rego, director do República. Disse-nos que de facto havia tropas revoltadas na rua, mas não se sabia quem as comandava e se eram da Direita (Kaúlza) ou da Esquerda (Spínola). Aconselhou-nos, sobretudo, que não regressássemos a Lisboa, para não sermos presos na fronteira.

Decidimos ir imediatamente, numa primeira etapa para Paris. E voltar daí a comunicar com Lisboa. Tito estava proibido de entrar em França. Teve de ir via Bruxelas e, depois, de automóvel, clandestinamente, para Paris. E, no dia seguinte, porque o aeroporto estava fechado, viemos de comboio para Lisboa.

25 de Abril foi a festa da liberdade, a revolução dos capitães, dos cravos e de sucesso, porque pacífica, sem efusão de sangue e que cumpriu todos os seus objectivos: descolonizar, democratizar e desenvolver, por esta ordem. O regime caiu de podre, sem resistência e deixou-nos o caos.

Daí para diante, a história é conhecida. Teve altos e baixos, momentos de grande exaltação e outros de enorme perigo ou de grandes dificuldades. Tito e eu estivemos praticamente sempre do mesmo lado da barricada. Tito foi o primeiro responsável da organização do PS. Uma posição chave, crucial. Só no primeiro mês tivemos cem mil novos aderentes-militantes. Foi deputado em todas as Legislaturas, Secretário de Estado da População e Emprego no I Governo PS, e Presidente da Assembleia da República. Pertenceu sempre ao núcleo duro do Partido. E até à sua morte, mantivemos sempre uma amizade sem mácula, impenetrável às intrigas e às controvérsias vivas que surgem num Partido democrático e pluralista, como o PS.

Manuel Alfredo Tito de Morais foi um homem bom, de carácter, valente, coerente com as suas ideias e sempre fiel às suas convicções e amizades. Foi um resistente intemerato contra a Ditadura. Em suma um cidadão exemplar.

Mário Soares

© CCTM (167)

14
Jul10

Guardião dos valores do socialismo democrático

CCTM

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A personalidade e o nome de Tito de Morais aparecerão sempre no topo das primeiras páginas duma História do Partido Socialista e da História da luta contra a ditadura salazarista, do seu derrube e do renascimento da Democracia em Portugal. Ele fez parte, e com grande relevo, da plêiade de gigantes que tudo sacrificaram nessa luta: Vida familiar, carreiras profissionais e a sua própria liberdade.

Preso, perseguido, exilado, Tito de Morais nunca quebrou. Pelo contrário, esta duradoura perseguição reforçaria o seu carácter e a sua persistência na luta pela vitória dos seus ideais, vitória que viria a surgir com o 25 de Abril.

Mas a sua luta não parou aqui, era necessário assegurar que a Revolução não se desviaria duma desejada Democracia Progressista. E Tito de Morais em todas as intervenções públicas ou no interior do Partido jamais deixou de defender com vigor, intransigência e frontalidade, as suas profundas convicções.

A este propósito, recordo encontros – almoços informais de um grupo de camaradas e amigos em que participei, ao lado de Magalhães Godinho, Raul Rego, Cal Brandão, Almeida Santos, Pinto e Melo, Gustavo Soromenho, onde naturalmente as conversas não deixavam de fora a vida política nacional e partidária. Aí ouvimos e não poucas vezes, Tito de Morais comentar com severidade o que considerava erros ou desvios programáticos e doutrinários cometidos por algum dos Órgãos do Partido.

Homem de uma só fé, atento e pronto a defender os princípios por que sempre se bateu. Assim era Tito de Morais, que eu nunca deixei de admirar pela sua coragem, pela sua coerência e pela sua frontalidade.

Ele era um verdadeiro Guardião dos valores do Socialismo Democrático.

São-lhe devidas todas as homenagens e tudo deve ser feito para que a Sua memória e o seu exemplo estejam sempre presentes no espírito das actuais e das futuras gerações.

J. Ferraz de Abreu

© CCTM (166)

14
Jul10

Representou a alma do Partido

CCTM

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Manuel Tito de Morais foi, indiscutivelmente, a pedra angular na construção do Partido Socialista em Portugal.

 Mário Soares é sem dúvida a figura central do socialismo português na segunda metade do século XX. Mas a verdade é que, durante décadas, antes e depois da Acção Socialista Portuguesa (ASP), com o PS ainda na clandestinidade e mais tarde com o arranque da sua actividade em Portugal, Manuel Tito de Morais sempre representou a alma do Partido e sempre foi o esteiro organizativo principal que o fez sobreviver e afirmar-se, sobretudo nos momentos decisivos da clandestinidade.

No Brasil, em Argel ou em Roma era sempre ele que mantinha “a máquina” em funcionamento e que garantia a edição do “Portugal Socialista”, um traço de união entre os seus membros.

Mas Manuel Tito de Morais foi mais do que um pilar organizativo. Ele representou sempre a fidelidade aos valores do PS nos momentos de dúvida, quando os caminhos do futuro eram incertos. Tito de Morais era uma referência segura: “Antes quebrar que torcer”.

Alguns porventura o consideravam teimoso, eu sempre vi nele uma firme determinação e um total apego aos princípios.

A sua herança perdurará para sempre, até mesmo para aqueles que não tiveram a oportunidade de com ele conviver e por isso não sabem que é em nome dos seus valores que travam as batalhas do presente.

Para mim, enquanto for vivo, ficará sempre, não apenas a referência sólida política, mas sobretudo a memória querida do amigo.

António Guterres

© CCTM (165)

13
Jul10

Um socialista sem medo

CCTM

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Os Partidos Socialistas e Sociais-Democratas europeus atravessam uma crise séria visível por derrotas sucessivas em recentes eleições, pelas dificuldades que apresentam os que governam, por uma certa desorientação das suas bases sociais e eleitorais. Isto acontece cerca de dois anos depois da explosão da crise financeira, que na actual fase se manifesta pela crise do Euro e dos financiamentos aos países expostos às dívidas públicas e privadas externas. Assim, uma crise global que não teve na origem excessos de despesa pública ou de défices, mas o aventureiríssimo e ganância irresponsáveis do capital financeiro privado, uma crise que não teve base na Europa, mas sim do outro lado do Atlântico, perante as fragilidades estruturais do processo de construção europeu e a incapacidade dos partidos de esquerda democrática em lidarem com a globalização transformou-se num processo de ataque àqueles que à primeira vista poderiam e deveriam ter emergido como seus beneficiários políticos.

Recordar o centésimo aniversário do nascimento de Tito de Morais é pois hoje mais do que nunca, relembrar a falta que nos faz, em Portugal, na Europa e no PS alguém que soube sempre aliar o realismo da sua análise, à coragem da sua postura e das suas convicções. No combate à ditadura, na edificação da democracia, na defesa de princípios e valores, Tito de Morais não se limitava a ser uma referência. Foi um activo e empenhado cidadão, um democrata sem medo, um homem da única esquerda verdadeira – a esquerda democrática.

Nos seis anos em que fui Ministro do primeiro governo do PS após dez anos de oposição, nos dois anos e meio em que fui, com muito orgulho, o Secretário-Geral do Partido, a figura de Tito de Morais foi para mim sempre fonte de inspiração, base de determinação. A política não é uma mera gestão do poder ou arbitragem entre poderes fácticos, a política é ou deveria ser a mais honesta actividade de serviço e de transformação do presente e futuro dos nossos concidadãos.

Para mim, Tito de Morais continua bem vivo.

Eduardo Ferro Rodrigues

© CCTM (164)

13
Jul10

Manuel Tito de Morais, o socialista

CCTM

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Evocar Tito nestes cem anos em que se comemoram sua vida e seu exemplo, se bem que uma obrigação, é, para mim, muito doloroso, porque sinto demais a falta de João (1), que estaria na linha de frente, com suas irmãs (2) e irmãos (3) a organizar estas tão justas homenagens ao pai, o ilustre cidadão, o homem de honra, o Socialista.

E digo, o Socialista e não apenas um grande socialista, porque, para mim, Manuel Tito de Morais foi o paradigma da vivência socialista, a imagem rigorosa do homem de Partido, o político sério, íntegro, inabalável na convicção de que o seu PS seria o garante -como foi – da democracia em Portugal.

Comecei a saber de Tito, ainda no exílio, no Rio de Janeiro, onde conheci João nos finais dos anos sessenta. Quando ambos, pai e filho, anos atrás haviam passado algum tempo em São Paulo, não tinha havido qualquer contacto, visto eu estar integrado no grupo da Oposição portuguesa do Rio e as articulações com São Paulo serem esporádicas.

Curiosamente, já depois do 25 de Abril, Maria Emília recordou uma carta minha dirigida a Tito, na Argélia, da qual não lembro, por certo com um motivo específico, não representando, contudo, qualquer linha de coordenação política, que aliás raramente aconteceu entre os grupos de Oposição no estrangeiro, na luta contra a Ditadura.

Foi com João que, alguns dias depois do 1ª de Maio florido de cravos, nos fuzis dos soldados e nas lapelas dos polícias, subi as escadas de São Pedro de Alcântara para ser apresentado a Tito, que encontrei na sua primeira sala de trabalho, modesta como todas as que ocupou no Partido Socialista. Logo na primeira conversa, ele distante, para avaliar se eu teria as qualidades necessárias, percebi na sua convocatória à luta "Não podemos perder tempo, o trabalho vai ser imenso!" o homem determinado que iria ser um pilar na construção do Partido, incansável e intransigente na defesa da liberdade e da justiça social.

João foi assim, desde esse dia, o elo permanente dum convívio com Tito, tão importante para a minha formação como militante activo do PS nos anos 70 e 80. Pai e filho constituíram um binário de enorme eficácia. Parece que estou sentado com eles na noite em que traçaram o roteiro para a conquista de Viana do Castelo para as hostes socialistas, acertando estratégias e a escolha dos camaradas que em cada lugar do Minho seriam os primeiros companheiros da empreitada, que trouxe grandes vitórias ao PS em toda aquela região, em sucessivas eleições pós 25 de Abril.

João varou o Minho com seu Citroen 2 cavalos, preparando as reuniões donde iam brotando as Secções do PS, após as intervenções galvanizadoras, as do camarada Tito, com voz firme e pausada, que doutrinava os assistentes, ávidos de democracia, e as do próprio João, em tom mais elevado, conclamando ao trabalho.

Falar de Tito no PS é também falar de Mário Soares. Quero declarar que ninguém lhe foi mais fiel do que Manuel Tito de Morais. Tito foi sempre tão frontal quanto leal na sua relação com o líder, que sempre estimou e a quem dedicou uma enorme confiança, como o timoneiro do Partido Socialista. Mário Soares nunca foi surpreendido por alguma posição divergente de Tito, sem antes ser avisado de que a iria tomar. Os mais velhos recordam bem como Tito foi o único voto público contrário ao Acordo com o CDS. E esse desassombro, essa coragem, só aumentaram o respeito que sempre mereceu.

Mas eu quero reviver Tito sobretudo como eixo fulcral de sua família, a extraordinária lição de como conseguiu reunir á sua volta as duas esposas, Maria da Conceição, a primeira, a mãe de família, Maria Emília, a segunda, a guerreira companheira de luta, as filhas, os filhos, os genros, as noras, os netos, as netas. Sua irmã Maria Palmira, seu irmão Augusto. Que admirável painel humano!

Depois de quase todos separados pelas vicissitudes da luta contra a ditadura, depois de tantos anos de dúvidas sobre se estavam bem, uns em Portugal, outros no exílio, mesmo depois das posições de confronto após o 25 de Abril por orientações políticas diversas, eis que em Lisboa, depois na Malveira da Serra, mais tarde em Terrugem – aqui lembro a festa dos 80 anos de Tito – foi possível ao chefe da clã sorrir do conforto de ter todos ao seu lado.

João, para a família, para nós os amigos também era Tito. Sempre o tratei por Tito, ele que foi um irmão de vida. Que ainda me traz lágrimas de saudade. Foi com ele e sua Lúcia (4), que eu e minha mulher Maria Ivone passámos a conviver de forma constante com a família Tito de Morais. A viver como nossos os bons e maus momentos. Destes, o abalo profundo da perda abrupta do Pereira – assim Tito o tratava – o marido de Titinha, homem bom, estimado por todos E também a imagem forte do velório do tio Augusto, rodeado toda a noite por seus alunos, numa demonstração de respeito e de dor pela partida do mestre e amigo.

Essa faceta de congregador da família, como também do Partido, foi a grande marca de Manuel Tito de Morais. Nasceu com a República. Honrou-a como poucos. Comemorar seu centenário junto com o da República é um ato de justiça.

Em nossas casas é comum ter fotos da família. Na minha casa da aldeia, além das fotos dos avós, pais e filhos, eu junto uma de Manuel Tito de Morais, sozinho, sentado numa mesa, com aquele olhar de missão a cumprir. Ele é a minha referência, como homem, político e cidadão.

(1) João Manuel Mealha Tito de Morais, grande militante do PS, no qual ocupou vários cargos de responsabilidade;
(2) Maria Carolina, a Titinha, Maria da Conceição, a Xãozinha, Teresa e Luísa, todas filhas como João, único filho do primeiro casamento de Tito, com Maria da Conceição Formosinho Mealha;
(3) Manuel, Luís e Pedro, filhos do segundo casamento de Tito com Maria Emília Adelaide Pedroso da Cunha Rego Monteiro dos Santos;
(4) Lúcia Melo Tito de Morais, a Lucinha, que João conheceu no exílio no Brasil, que o acompanhou em Portugal desde o 25 de Abril e com a qual se casou já nos anos 80.

Amândio Silva

* Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico

© CCTM (163)

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Nota do Webmaster (2022)

Este Blog está, como se pode ler no "feed", selado para memória desde o dia 2010.07.29, data em que a Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do nascimento de Tito de Morais se extinguiu.
O tempo (12 anos), em termos de evolução tecnológica, é inimigo das selagens e o Blog, para que continue a reflectir a memória, teve de ser tecnicamente “desselado” para manutenção.
Na minha qualidade de webmaster reactivei as imagens, uma vez que a base de dados onde estavam alojadas foi descontinuada, e procedi a alguns ajustes para permitir que este acervo se mantenha funcional. Estes trabalhos decorreram entre 14 e 25 de Setembro de 2022
Se em relação ao texto fica a garantia de praticamente nada ter sido alterado, com excepção de alguns links externos entretanto quebrados ou já inexistentes, já no grafismo original houve que fazer pequenos acertos.
A nota justificativa está registada na última (primeira) página do Blog.
Luís Novaes Tito
luismariatito@gmail.com
2022.09.25

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