Solidários no bom combate
Conheço o Manuel Tito de Morais há mais de cinquenta anos. Fomos amigos, velhos companheiros de lutas e de ideal, camaradas, cúmplices.
Tivemos inúmeras discussões políticas, às vezes noites inteiras, mas, nos momentos decisivos, estivemos sempre do mesmo lado, solidários no bom combate.
Tito de Morais, filho do Almirante do mesmo nome, herói da República, antigo ministro e personalidade cívica exemplar, que tive a honra de conhecer bastante bem, foi sempre um lutador contra a ditadura e também o grande organizador do Partido Socialista, na versão que lhe foi impressa desde a sua refundação, em Bad Münstereiffel, em 1973.
O Partido Socialista – e a democracia portuguesa – devem-lhe muito: à sua pertinácia, coragem, determinação e espírito de sacrifício. Podemos dizer, sem exagero, que dedicou o melhor da sua vida à causa do socialismo democrático em Portugal. Em momentos de crise – e grande dificuldade – foi devido, em grande parte, à vontade inquebrável de Manuel Tito de Morais que os obstáculos foram vencidos e o PS avançou.
Valeu-lhe essa acção incansável muitos sacrifícios e privações. Esteve preso, processado, exilado e foi, durante a ditadura, permanentemente discriminado e ostracizado. A sua família, os seus filhos, a sua mulher, Maria Emília Tito de Morais, grande militante, ela própria e a sua irmã, Maria Palmira Tito de Morais, grande figura profissional e ética, sofreram muitas dificuldades – a que sempre resistiram com estoicidade – em virtude da vida política tão acidentada de Manuel Tito de Morais.
Depois do 25 de Abril, Tito regressou a Portugal no chamado “comboio da liberdade” e foi recebido apoteoticamente em Santa Apolónia. Lançou-se logo, sem perda de um minuto, na organização do PS, numa época em que as adesões eram às centenas diárias, por todo o País e em que as estruturas partidárias, mal saídas da clandestinidade, tinham dificuldade em absorver tantos militantes, mas também – diga-se – alguns oportunistas. A destrinça entre uns e outros, entre o trigo e o joio, nem sempre fácil, foi em grande parte da responsabilidade de Manuel Tito de Morais.
Deputado por Viana do Castelo às Constituintes, foi Secretário de Estado do Emprego no VI Governo Provisório e da População e Emprego do I Governo Constitucional. Foi igualmente Vice-presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e, em 1983-84, Presidente da Assembleia da República.
Tito de Morais, hoje com mais de oitenta anos, felizmente com saúde, e com a admirável lucidez de sempre, é igual a si próprio, íntegro e determinado, actual e justamente reconhecido como o Presidente honorário do PS. A sua família e os militantes não só têm por ele o respeito que lhe é devido como também grande carinho. A sua vida é uma legenda que pode e deve ser conhecida pelos jovens, para que a sigam, se assim o entenderem. É bem necessário e oportuno.
Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996