Homens desta craveira merecem não ser esquecidos
Tendo por mim a desculpa da idade, não posso orgulhar-me de ter conhecido o Tito antes do 25 de Abril pois só o encontrei pela primeira vez, em Paris, em 1975.
Tive, porém, ao longo dos anos em que viveu desde então, a ocasião, ou melhor, várias ocasiões de apreender e de aprender qual a densidade da generosidade e da disponibilidade que este Homem dedicou à luta pela Liberdade e Democracia antes do 25 de Abril, e depois, pela sua consolidação.
O Manuel Tito de Morais, pela firmeza das suas convicções, foi para mim, jovem "débutant" na militância política, um exemplo.
Fosse em reuniões de carácter político ou em família e com os amigos, sempre encontrei um Tito afável e disposto a dar a sua contribuição ao debate e às discussões, que por vezes eram animadas.
Vi no Tito, um Homem que tinha o máximo respeito e sem qualquer género de complexos, pelas pessoas com quem lidava e em quaisquer circunstâncias.
A este propósito, quero apenas recordar um facto, ocorrido durante a sua Presidência da Assembleia da República:
Encontrando-me de férias em família, em Portugal, num belo dia de verão, vejo chegar dois automóveis particulares que pararam frente à minha casa. De um deles saiu o Tito, a sua esposa Maria Emília e dois dos seus filhos. Ao recebê-los, manifestei o meu orgulho por estar a receber em minha casa o Presidente da Assembleia da República. O seu comentário foi pronto e instantâneo: "Ora essa, então lá por ser Presidente da Assembleia da República já não teria o direito de visitar os amigos que visitava antes e visitarei depois de o ser?" Não deixou ainda de acrescentar, que tendo vindo ao Norte passar uns dias e passando perto de um amigo, nunca o faria sem o visitar.
Um pouco mais tarde, tendo sugerido que os guardas da AR que o acompanhavam se juntassem a nós, disse-me que evidentemente não via inconveniente.
Acho que comemorar o aniversário do nascimento do Tito é indispensável. Não só pela oportunidade de mais uma vez lhe render homenagem, mas também para recordar que Homens desta craveira – que infelizmente se tornam raros – merecem não ser esquecidos.
Germano Lima