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CCTM

Comemorações do Centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais

04
Jul10

Grande lutador pelos valores da justiça social

CCTM

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Conheci Manuel Tito de Morais, pouco depois do 25 de Abril, quando das conversações do MFA com a delegação do PS, no âmbito da formação do 1º governo provisório.

Como um militar que estava a entrar nos meandros da política, preocupado com o facto de o MFA não se ter preocupado devidamente com o dia seguinte, procurando evitar que Spínola e os seus homens ocupassem o espaço vazio que o MFA não ocupara, guardo, desses primeiros contactos entre a comissão coordenadora e a delegação do PS, a imagem de um homem determinado, convicto das suas posições alicerçadas numa experiência de luta política, desenvolvida no exílio.

Lembro-me da contradição de sentimentos então vividos, entre uma presença física que se não impunha de imediato e a firme determinação na defesa de posições, que nessa altura nos pareceram exageradas. Atitude que, pela firmeza e convicção que comportava, provocou a minha admiração e consideração.

Os tempos futuros proporcionaram-nos contactos diversos, com algumas divergências de opinião, mas com muito mais coincidências que nos aproximaram e nos tornaram amigos. Recordo que, quando alguns militares me queriam provocar, apontavam o Manuel Tito de Morais como um dos meus amigos do PS...

Posso dizer que a casa do Manuel e da Maria Emília foi uma das poucas casas de dirigentes partidários que eu e a minha mulher visitámos.

Recordo momentos difíceis, onde lutámos do mesmo lado da barreira, na defesa das liberdades e da democracia.

Recordo algumas discussões que tivemos, nomeadamente quando o verberava por atitudes do PS e ele, sempre, defendia denodadamente o seu partido. Confesso que não conheci ninguém que mais defendesse o partido a que pertencia do que o Manuel Tito de Morais. Mesmo quando essa defesa era praticamente impossível...

Como recordo com emoção e respeito a atitude que o Manuel Tito de Morais e o Manuel Alegre tiveram, quando da votação da revisão da Constituição, abandonarem o hemiciclo, para não acompanharem o voto (ia adjectivá-lo, mas por decoro prefiro não o fazer) que o PS exerceu. Estava em causa a forma como os militares de Abril foram tratados, no fim do período de transição...

Mais tarde, foi para nós militares de Abril reconfortante ver a alegria com que Manuel Tito de Morais assumiu o cargo de Presidente da Assembleia da República e, como tal, decidiu homenagear os militares de Abril que, como então salientou, com a sua acção lhe possibilitaram essa realização pessoal.

No mundo cão da política, onde nunca entrei precisamente porque constatei enormes diferenças entre o que é necessário fazer para ter sucesso e o que a minha consciência consegue aceitar, o Manuel Tito de Morais foi um dos políticos que mais me marcaram, pela positiva.

Fui amigo do Manuel Tito de Morais, digo-o com o sentimento de honra que isso me provoca. Sou seu amigo e recordo-o com um enorme carinho, um enorme respeito e uma maior consideração e estima.

Portugal perdeu, com a sua morte. O seu partido perdeu imenso – oh, como seriam úteis, nos dias de hoje, socialistas como o Manuel Tito de Morais!

Saibamos ser dignos da sua memória, seguindo o seu exemplo de grande lutador pelos valores da liberdade, da paz, da democracia, da igualdade, da fraternidade, da justiça social!

Até sempre, Manel!

Vasco Lourenço

© CCTM (139)

04
Jul10

Um patriota de excepcional coragem

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Conheci Tito de Morais num daqueles intensíssimos e indescritíveis dias que se seguiram ao 25 de Abril, em que todos os problemas do país caíam em catadupas sobre a Comissão Coordenadora do Programa com pedido de resolução. A azáfama não impediu, porém que tivéssemos tido, logo ali, uma longa e aberta conversa sobre o futuro político do país. Talvez a abertura e franqueza desta sua primeira conversa tivesse sido estimulada por lhe referir ter sido professor da Escola Naval e recordar o retrato de seu pai numa sala onde estavam representados os antigos Comandantes, de conhecer alguns aspectos da sua ilustre carreira na política e na Armada e, em particular, a sua participação no 5 de Outubro.

Sensibilizado, falou-me com enorme entusiasmo de valores republicanos e logo aí pude observar a funda convicção com que os cultivava e a apologia que logo deles fez para o Portugal recém-saído da ditadura. Sabia ser uma das principais personalidades responsáveis pela organização e estímulo da heroica luta antifascista que durante tantos anos e com tantos sacrifícios fora travada contra o regime deposto, e por isso, perante a sua generosidade e abertura, logo o quis ouvir sobre as formas de garantir a construção de um regime democrático e de progresso para Portugal, o que constituía a principal preocupação do grupo de militares com que me relacionei na preparação política do 25 de Abril.

Foi aí, durante a conversa mantida sobre este tema, que verdadeiramente conheci e passei a admirar Tito de Morais. Na alegria transbordante com que participava na construção do Portugal livre revelava-se o homem de profundas convicções, o democrata intransigente, o militante de esquerda, para quem o socialismo é um desígnio a construir em liberdade e inteiro respeito pela pessoa humana. O homem para quem o progresso não é apenas material, mas deve também reflectir-se, na justiça, na verdade, na melhoria dos comportamentos sociais, em tudo o que possa contribuir para o aperfeiçoamento, a elevação e a dignificação do homem.

Recordo ainda vivamente, a sensibilidade que revelou aos episódios ocorridos com o programa do MFA na Pontinha, de que já tinha conhecimento, e aos nossos receios de que os militares pretendessem manter-se na política, particularmente através da Junta de Salvação Nacional; a satisfação que sentiu quando lhe chamámos a atenção para o facto do programa referir, por nossa vontade expressa, a constituição de um governo civil, que gostaríamos de ver rapidamente implantado e com poder; o clima de entendimento que logo se estabeleceu ao saber que aquele sector do movimento entendia intransigentemente que a política deve ser praticada por políticos e partidos e não por militares e a grande importância que, por isso, dávamos ao estrito cumprimento do Programa do MFA para se obterem, no tempo marcado, órgãos e políticas com legitimidade democrática.

Ficou-me gravada para sempre a reflexão que fez, com grande realismo, sobre as diferenças de organização, implantação e métodos entre os dois partidos então existentes, a análise dos riscos que então se perfilavam, acabando por afirmar a sua profunda convicção na pujança dos ideais defendidos pelo Partido Socialista, a sua inabalável certeza na capacidade de atrair militantes, de organizar o PS como grande força política nacional, capaz de obter o apoio democrático que permitisse ir construindo a sociedade de liberdade e progresso que há tantos anos ardentemente desejávamos.

Estabeleci desde então laços de confiança e respeito por Tito de Morais que mais se aprofundaram durante os tempos difíceis que o país viveu durante o verão de 1975, onde juntos integrámos o VI Governo Provisório e onde separadamente, mas com contactos e no mesmo sentido, lutámos pela vitória da democracia e da liberdade.

Por todo esse passado de estima e admiração, é com grande emoção que me associo à homenagem a Tito de Morais por ocasião do seu centenário.

Num momento tão delicado para a vida nacional deve lembrar-se ao país que também em épocas bem difíceis da história nacional, houve um patriota que, com a sua excepcional coragem pessoal e sentido de dever cívico, empenhou toda a sua vida na causa da liberdade e do progresso do seu país e do seu povo.

É bom evocar o seu contributo para a construção e consolidação da democracia do Portugal renovado pelo 25 de Abril, na qualidade de membro fundador e grande militante do Partido Socialista, de político extremamente empenhado na construção de uma sociedade de direitos, justiça e progresso e na rectidão da sua acção como Vice-presidente e Presidente da Assembleia da República.

É salutarmente didáctico, neste tempo de anemia de valores, lembrar ao país a exemplaridade da sua estatura cívica, a verticalidade do seu carácter, o sentido ético que orientou toda a sua vida, prestar homenagem ao cidadão Tito de Morais.

Vítor Crespo

© CCTM (138)

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Nota do Webmaster (2022)

Este Blog está, como se pode ler no "feed", selado para memória desde o dia 2010.07.29, data em que a Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do nascimento de Tito de Morais se extinguiu.
O tempo (12 anos), em termos de evolução tecnológica, é inimigo das selagens e o Blog, para que continue a reflectir a memória, teve de ser tecnicamente “desselado” para manutenção.
Na minha qualidade de webmaster reactivei as imagens, uma vez que a base de dados onde estavam alojadas foi descontinuada, e procedi a alguns ajustes para permitir que este acervo se mantenha funcional. Estes trabalhos decorreram entre 14 e 25 de Setembro de 2022
Se em relação ao texto fica a garantia de praticamente nada ter sido alterado, com excepção de alguns links externos entretanto quebrados ou já inexistentes, já no grafismo original houve que fazer pequenos acertos.
A nota justificativa está registada na última (primeira) página do Blog.
Luís Novaes Tito
luismariatito@gmail.com
2022.09.25

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