Grande lutador pelos valores da justiça social
Conheci Manuel Tito de Morais, pouco depois do 25 de Abril, quando das conversações do MFA com a delegação do PS, no âmbito da formação do 1º governo provisório.
Como um militar que estava a entrar nos meandros da política, preocupado com o facto de o MFA não se ter preocupado devidamente com o dia seguinte, procurando evitar que Spínola e os seus homens ocupassem o espaço vazio que o MFA não ocupara, guardo, desses primeiros contactos entre a comissão coordenadora e a delegação do PS, a imagem de um homem determinado, convicto das suas posições alicerçadas numa experiência de luta política, desenvolvida no exílio.
Lembro-me da contradição de sentimentos então vividos, entre uma presença física que se não impunha de imediato e a firme determinação na defesa de posições, que nessa altura nos pareceram exageradas. Atitude que, pela firmeza e convicção que comportava, provocou a minha admiração e consideração.
Os tempos futuros proporcionaram-nos contactos diversos, com algumas divergências de opinião, mas com muito mais coincidências que nos aproximaram e nos tornaram amigos. Recordo que, quando alguns militares me queriam provocar, apontavam o Manuel Tito de Morais como um dos meus amigos do PS...
Posso dizer que a casa do Manuel e da Maria Emília foi uma das poucas casas de dirigentes partidários que eu e a minha mulher visitámos.
Recordo momentos difíceis, onde lutámos do mesmo lado da barreira, na defesa das liberdades e da democracia.
Recordo algumas discussões que tivemos, nomeadamente quando o verberava por atitudes do PS e ele, sempre, defendia denodadamente o seu partido. Confesso que não conheci ninguém que mais defendesse o partido a que pertencia do que o Manuel Tito de Morais. Mesmo quando essa defesa era praticamente impossível...
Como recordo com emoção e respeito a atitude que o Manuel Tito de Morais e o Manuel Alegre tiveram, quando da votação da revisão da Constituição, abandonarem o hemiciclo, para não acompanharem o voto (ia adjectivá-lo, mas por decoro prefiro não o fazer) que o PS exerceu. Estava em causa a forma como os militares de Abril foram tratados, no fim do período de transição...
Mais tarde, foi para nós militares de Abril reconfortante ver a alegria com que Manuel Tito de Morais assumiu o cargo de Presidente da Assembleia da República e, como tal, decidiu homenagear os militares de Abril que, como então salientou, com a sua acção lhe possibilitaram essa realização pessoal.
No mundo cão da política, onde nunca entrei precisamente porque constatei enormes diferenças entre o que é necessário fazer para ter sucesso e o que a minha consciência consegue aceitar, o Manuel Tito de Morais foi um dos políticos que mais me marcaram, pela positiva.
Fui amigo do Manuel Tito de Morais, digo-o com o sentimento de honra que isso me provoca. Sou seu amigo e recordo-o com um enorme carinho, um enorme respeito e uma maior consideração e estima.
Portugal perdeu, com a sua morte. O seu partido perdeu imenso – oh, como seriam úteis, nos dias de hoje, socialistas como o Manuel Tito de Morais!
Saibamos ser dignos da sua memória, seguindo o seu exemplo de grande lutador pelos valores da liberdade, da paz, da democracia, da igualdade, da fraternidade, da justiça social!
Até sempre, Manel!
Vasco Lourenço
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