Homenagear Tito de Morais é homenagear Abril e a Liberdade
Todo o programa das Comemorações do Centenário de Nascimento de Manuel Alfredo Tito de Morais envolve um relevante significado dada a justa Homenagem que se presta à sua luta constante, empenhada e determinada, que sem tréguas travou pela implantação da Liberdade em Portugal.
Contudo não posso, nem devo, deixar de salientar a importância que representa esta Edição Especial do Portugal Socialista. Considero-a um dos pontos altos, porque se traduz numa colectânea de textos escritos, por quem o conheceu efectivamente, dando-se assim testemunho da sua vida quer familiar quer política, pois ambas permaneceram indissociáveis.
Muitos dos testemunhos aqui publicados foram escritos por protagonistas da Revolução de Abril, mas todos eles, transmitirão às jovens gerações a memória da acção que foi necessária implementar para que a Revolução dos Capitães não tivesse sido em vão e se garantisse a necessária estabilidade democrática. Por outro lado, não menos importante, trata-se de editar o Órgão Central do Partido Socialista fundado e lançado exactamente por Tito de Morais na clandestinidade. Nessa ocasião editar e distribuí-lo em Portugal foi uma temeridade e foi um marco histórico.
Ao regressar, a calorosa recepção do País a Tito de Morais, Mário Soares e Ramos da Costa, bem presente na nossa memória, poder-se-á considerar como a 1ª Homenagem prestada por toda uma Nação agradecida e consciente.
Esta comunhão de sentimentos, profundamente contagiante, ficou espelhada na foto que lhe foi tirada à chegada e onde está bem patente a sua grande felicidade. Tito de Morais até parecia ter esquecido o seu passado difícil e conturbado. Como as perseguições, as prisões e o exílio que o obrigaram a sacrificar uma promissora carreira profissional, na sua qualidade de engenheiro, bem como a tranquilidade do lar.
A par da política dirigia o seu carinho e encantava-o a família que gostava de ter junto de si, certamente para compensar os anos em que isso bastas vezes lhe foi negado pela força das circunstâncias de resistente antifascista. Felizmente este seu legítimo sonho encontrou eco nos familiares e foi de tal forma conseguido e evidente que, curiosamente, sempre se considerou a Família Tito de Morais como um verdadeiro “clã”, no sentido mais nobre da expressão.
Por vezes no nosso imaginário criam-se mitos que se desvanecem ao privar-se de perto com os visados. No entanto, com Tito acontecia precisamente o contrário. Todos, que de qualquer modo tivemos o privilégio de consigo colaborar, considerávamos que à medida que mais privávamos e melhor o conhecíamos mais aumentava o nosso respeito e admiração. Recordamo-lo, segundo as diversas áreas de intervenção, como uma personalidade humanista de grande carácter e integridade que pôs a sua inteligência, cultura, saber e enorme capacidade de trabalho ao serviço do seu país, o qual amou intensamente. A sua preocupação e principal objectivo, antes e após o 25 de Abril, visava designadamente o desenvolvimento social e económico.
Jamais se coibiu de alertar com frontalidade e de manifestar a sua discordância, quando era caso disso. Expressava as suas críticas e apresentava sugestões alternativas. Procurava o diálogo. Argumentava dando a conhecer o seu pensamento analítico. Guiava-o a firme ambição de que efectivamente se concretizasse a prática dos valores republicanos de Justiça, Igualdade e Fraternidade.
Tito de Morais, que foi, é e será sempre uma grande referência, permanecerá na memória colectiva e nos nossos corações.
Maria José Gama
© CCTM (143)