Um inesquecível camarada
Manuel Alfredo Tito de Morais Homenagear este nosso fundador do Partido Socialista é pensar no que sentiriam os socialistas portugueses quando iniciaram a frente de opinião a que chamaram Acção Socialista Portuguesa, em 1964. Portugal, dominado por uma ditadura política e económica, que o empenhava numa guerra colonial sem sentido e contra os sinais que o Mundo dava desde o fim da Segunda Guerra Mundial, perseguia opositores e negava o direito à autodeterminação dos povos.
Tito de Morais, exilado em Roma, com Mário Soares e Ramos da Costa, exilado depois da Acção Militar de Beja em Paris, eram os dinamizadores da Acção Socialista e do seu "jornal", editado em Roma. Esta organização, precursora do PS chega a 1973 com 115 membros, a maioria exilados, alguns presos e outros condenados.
A importância que se tem de atribuir a Tito de Morais resulta da força das suas convicções republicanas, democráticas e socialistas. Eram poucos mas lutavam como se fossem muitos. Com grande desigualdade de meios, para enfrentar a repressão do regime salazarista, lutavam com orgulho e convicção. E legaram à nossa geração um Partido Socialista, que se tornou um grande partido nacional, popular, decisivo em todos os combates decisivos, pela liberdade, democracia, descolonização, integração europeia.
E a firme convicção que o combate à injustiça, às descriminações, contra a falta de igualdade de oportunidades, é um combate quotidiano e de sempre e para sempre.
A maior homenagem que podemos prestar a este grande socialista e republicano no ano do seu centenário é dizer que ele venceu. Deve ter pensado, em alguns momentos, para dentro de si mesmo, no tempo que a sua ideia de Liberdade demoraria a triunfar no seu país, dominado por uma ditadura fascizante. Mas Tito de Morais e os seus camaradas nunca esmoreceram. E ganharam! Já assistimos a Primeiros-Ministros e Presidentes da República do nosso Partido Socialista, eleitos por mais de três milhões de portugueses. Tito de Morais poderia ter sido um destes. Mas não foi menos importante a sua acção como deputado, Presidente da Assembleia da República e Presidente do Partido. E como cidadão. Creio que era a sua única ambição. E foi um cidadão exemplar. E um inesquecível camarada, mesmo para os mais jovens que com ele privaram. Criou-me uma vez uma dificuldade. O Engenheiro Tito de Morais tratava todos os camaradas por tu, na boa tradição socialista, que ele se esmerava em cultivar. E obrigou-me a tratá-lo, também, por tu. Desobedeci-lhe sempre.
António Costa
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