Legado, inspiração e estímulo - Editorial
Logo que os recebi da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Tito de Morais, li detidamente, do primeiro ao último, os textos que dão corpo e alma à presente edição especial do “Portugal Socialista”.
De seguida, reli os depoimentos – igualmente em homenagem a Tito de Morais – também aqui dados à estampa em Outubro de 1996.
Completei a minha incursão percorrendo um livro já de folhas amarelecidas que reproduz a colecção de todos os números do “Portugal Socialista”, publicados na clandestinidade.
Tratou-se de um triplo itinerário – que vivamente recomendo aos mais jovens – de reencontro com a história, a memória, o património e os tesouros do nosso Partido Socialista. Tesouros de dedicação, tenacidade, sacrifício e entrega. E, simultaneamente, de coerência, fidelidade, fraternidade e humanismo.
São homens e mulheres cuja grandeza faz jus a que figurem na história do Partido Socialista e na História maior de Portugal. Portugueses que tudo na vida sacrificaram para que pudessem legar aos seus filhos uma terra de liberdade, democracia e justiça social.
Sem um esbirro em cada esquina, uma censura em cada voz e o risco de destruição em cada vida. Pela dignidade como estrutura essencial do homem e contra as injustiças gritantes ou sem voz.
Entre os combatentes heroicos por uma Pátria nova, indubitavelmente, avulta Manuel Tito de Morais. Cidadão tenaz, impoluto, nobre de sentimentos, para quem o homem não foi feito para vegetar na mediocridade. Não foi feito para a adaptação e a resignação. Daí que as actuais comemorações do seu centenário constituam uma justa homenagem e um oportuno estímulo.
Pela lição de vida de Tito de Morais, são comemorações que se colocam nos antípodas das que mumificam os vivos, estimulando-nos a reflectir em ordem a melhor responder às inquietações e perplexidades que nos assaltam.
Até porque, como Coimbra Martins lapidarmente deixa escrito adiante, “comemorar é partir de novo”.
O Partido Socialista é obra generosa e patriótica, decisivamente, do gesto precursor de Abril de 1964 de Mário Soares, Ramos da Costa e Tito de Morais e dos que em Abril de 1973 – Abril premonitório! – Se reuniram em Bad Munstereiffel.
O Partido Socialista é um corpo social, uma comunidade de mulheres e homens livres com valores comuns que o vocacionam para se assumir como a figuração da alma portuguesa.
Inspirados em Tito de Morais e noutros obreiros de referência do Partido Socialista, saibamos remar contra a corrente para chegarmos à nascente que ambicionamos e nos identifica.
“São ideias que mudam o mundo e não o mundo que muda as ideias” como, no seu testemunho, aqui nos recorda António Arnaut.
A natureza cria as nozes, mas não as parte. Tito de Morais e outros socialistas seus contemporâneos fizeram o que generosa e patrioticamente lhes cabia.
Façamos nós, neste tempo, o que nos cabe.
Com determinação e optimismo, enquanto força vital e vontade de futuro.
José Augusto Carvalho
Director do Portugal Socialista
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