Tenacidade, coerência e teimosia
O Manuel Tito de Morais é a pessoa mais teimosa que conheço. Não se interprete mal este qualificativo. No essencial, a sua teimosia traduziu-se quase sempre numa vida de combate tenaz pelos ideais do socialismo e da liberdade. Sem cedências ou compromissos, mesmo aqueles que a generalidade dos dirigentes considerou razoáveis ou necessários.
Conheci o Manuel Tito em 1971 ou 72, suponho que em Amesterdão. Na véspera de uma reunião da Acção Socialista Portuguesa, Mário Soares avisou-me do pedido de demissão de Tito de Morais de responsável pelo Portugal Socialista. A razão era simples: O Tito queixava-se de falta de colaboração dos militantes do interior do País no envio de artigos. Creio que não fui muito convicto na promessa de que tudo mudaria na participação do interior do jornal, mas depressa percebi que a última coisa que ele faria era demitir-se ou desistir.
Creio que o Tito nunca se terá demitido de nada. Tenho a certeza de que não terão sido poucas as vezes que ele discordou profundamente das deliberações do PS, mas considerou sempre que a sua missão era a de lutar até ao fim dentro das estruturas e não bater com a porta.
Esta mistura entre a teimosia e pertinácia não poucas vezes foi levada a um extremo insólito. Pouco lhe importa que esteja isolado, completamente isolado frente a uma Comissão Nacional inteira, como aconteceu ainda há uns meses.
Esta energia inquebrantável, em que uma retaguarda influente e activíssima está a Maria Emília, é a marca mais nítida do Manuel Tito de Morais. Toda a sua vida de combate e dedicação, primeiro à luta contra o regime fascista, depois à afirmação do PS como grande Partido popular no respeito integral pelos seus valores e referências, passa por essa energia.
Obrigado, Tito! Ou melhor, obrigado Camarada Tito.
Alberto Arons de Carvalho
Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996