Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CCTM

Comemorações do Centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais

14
Jul10

Testemunho

CCTM

20100702PortugalSocialista07Soares.jpg

Conheci o engenheiro Manuel Tito de Morais, no Movimento de Unidade Democrática (MUD), em 1945, no imediato fim da II Grande Guerra, na Europa. Filho de um dos chamados "almirantes da República", do mesmo nome – como Afonso Cerqueira, Cabeçadas e Sousa Dias – revolucionários do 5 de Outubro e amigo do meu Pai, só tinha razões para simpatizar com ele e nos tornarmos camaradas, apesar da diferença de idades que havia entre nós.

Acresce que Manuel Alfredo Tito de Morais se revelou um activista antifascista sempre pronto a participar nas acções mais audaciosas, contra a ditadura, legais e para-legais, como então dizíamos. Era um tempo de euforia, dada a vitória das Democracias, na II Grande Guerra, e da União Soviética bem como da criação da ONU. Todos pensávamos, com lógica, que os pequenos e cruéis ditadores peninsulares – Salazar e Franco – não se aguentariam no poder, contra a corrente. Mas os interesses e os complexos caminhos da política, às vezes, desmentem a lógica das coisas. Foi o caso, sobretudo após se instalar a "guerra-fria", que dividiu o mundo em dois...

Essa aprendizagem difícil, fizemo-la os dois, conjuntamente, com os nossos amigos e camaradas, Manuel Mendes, Gustavo Soromenho, Maria Isabel Aboim Inglês, Luciano Serrão de Moura, Lobo Vilela, Teófilo Carvalho dos Santos, Ramos da Costa e alguns outros, tendo como referências principais duas figuras de excepção: Mário de Azevedo Gomes e Bento de Jesus Caraça, ambos Professores universitários e os dois compulsivamente demitidos por Salazar.

Manuel Alfredo Tito de Morais e eu próprio fizemos parte da Comissão Central do MUD (na segunda fase). Por isso, fomos processados e tivemos de depositar uma caução de cem contos, cada, uma soma considerável para a época, para ficarmos em liberdade. Mais tarde, fomos presos, tendo passado cerca de dois meses na mesma cela do Aljube, onde estavam também, Azevedo Gomes, Manuel Mendes, Mayer Garção e outros. Inclusivamente o meu Pai e o velho revolucionário Maldonado de Freitas, das Caldas da Rainha, mas esses por terem participado numa tentativa de um putsch militar frustrada...

Em 1949 participámos ambos na Campanha presidencial do general Norton de Matos – que foi uma farsa salazarista da chamada, por Salazar, "liberdade suficiente" – e, em consequência disso, voltámos a ser presos. Manuel Tito de Morais, por razões pessoais, resolveu ir para Angola. Por isso, participou, efemeramente na Campanha do general Humberto Delgado, em Angola, e eu em Lisboa. Os resultados são conhecidos: o roubo eleitoral da Ditadura foi evidente e o general, depois de ter estado exilado no Brasil e na Argélia, resolveu participar numa tentativa revolucionária em Portugal, que foi uma armadilha, onde foi assassinado pela PIDE, à ordem de Salazar.

Entretanto, anos antes, em 1961, deram-se os primeiros ataques nacionalistas em Angola. Na leva das prisões feitas pela ditadura foi incluído Tito de Morais, juntamente com os angolanos, apenas por ser reconhecido como oposicionista e anticolonialista. Prevenidos pela sua segunda Mulher, Maria Emília, escrevemos uma carta de protesto ao ministro das Colónias Adriano Moreira, que o fez regressar a Lisboa e o libertou. Tito, esteve pouco tempo em Lisboa. Resolveu exilar-se, voluntariamente, para a Argélia e, depois, para Itália.

Durante este longo período, em que estivemos tão distantes, mantivemos sempre o contacto, embora espaçado. Em 1964 num encontro que tivemos em Genève, no modesto Hotel Moderno, Ramos da Costa, Tito de Morais e eu, devidamente mandatados pelos nossos camaradas e amigos, fundámos a Acção Socialista Portuguesa (ASP) com a intenção, que veio a concretizar-se, de fundar um verdadeiro Partido Socialista. Porquê? Porque, dado o ambiente internacional da "guerra fria", que então atravessávamos, tínhamos a percepção de que se não nos autonomizássemos do PCP – que era então o único partido organizado, na clandestinidade – nunca conseguiríamos credibilizar-nos, junto da corrente socialista extremamente influente na Europa Ocidental.

Durante esse período da ASP, de 1964 a 1973, que foi uma fase de grande expansão, Tito vivia em Roma, onde lançou o jornal Portugal Socialista, com a ajuda do PS italiano, o Ramos da Costa em Paris e eu, em Lisboa, com os percalços habituais: prisões, deportação em São Tomé e finalmente exílio forçado, em Paris.

Em 1973 convertemos a ASP em Partido Socialista num Congresso realizado em Bad Münstereifel, Alemanha, em que participaram camaradas vindos de várias cidades do interior (Portugal) e camaradas exilados políticos em diferentes países europeus. Foi um período politicamente trabalhoso, em que multiplicámos os contactos internacionais, com os Partidos da Internacional Socialista – na qual fomos admitidos nesse mesmo ano – e não só, em vários Continentes, com a visão sempre presente de que o regime estava no fim. Não nos enganámos.

Em 24 de Abril de 1974, encontrávamo-nos os três – Ramos da Costa, Tito e eu – em Bona, a convite de Willy Brandt. Tentávamos convencer os camaradas do SPD, de que a revolução em Portugal estava para breve. Em vão. Estavam no Governo, tinham o poder – julgavam ter as melhores informações – e diziam-nos que a Ditadura de Caetano estava de pedra e cal. Para durar...

No dia seguinte de manhã, bem cedo, fomos acordados pelos camaradas alemães a informar-nos que, afinal, alguma coisa se estava a passar em Lisboa. Voámos para a sede do SPD e conseguimos falar telefonicamente com o Raul Rego, director do República. Disse-nos que de facto havia tropas revoltadas na rua, mas não se sabia quem as comandava e se eram da Direita (Kaúlza) ou da Esquerda (Spínola). Aconselhou-nos, sobretudo, que não regressássemos a Lisboa, para não sermos presos na fronteira.

Decidimos ir imediatamente, numa primeira etapa para Paris. E voltar daí a comunicar com Lisboa. Tito estava proibido de entrar em França. Teve de ir via Bruxelas e, depois, de automóvel, clandestinamente, para Paris. E, no dia seguinte, porque o aeroporto estava fechado, viemos de comboio para Lisboa.

25 de Abril foi a festa da liberdade, a revolução dos capitães, dos cravos e de sucesso, porque pacífica, sem efusão de sangue e que cumpriu todos os seus objectivos: descolonizar, democratizar e desenvolver, por esta ordem. O regime caiu de podre, sem resistência e deixou-nos o caos.

Daí para diante, a história é conhecida. Teve altos e baixos, momentos de grande exaltação e outros de enorme perigo ou de grandes dificuldades. Tito e eu estivemos praticamente sempre do mesmo lado da barricada. Tito foi o primeiro responsável da organização do PS. Uma posição chave, crucial. Só no primeiro mês tivemos cem mil novos aderentes-militantes. Foi deputado em todas as Legislaturas, Secretário de Estado da População e Emprego no I Governo PS, e Presidente da Assembleia da República. Pertenceu sempre ao núcleo duro do Partido. E até à sua morte, mantivemos sempre uma amizade sem mácula, impenetrável às intrigas e às controvérsias vivas que surgem num Partido democrático e pluralista, como o PS.

Manuel Alfredo Tito de Morais foi um homem bom, de carácter, valente, coerente com as suas ideias e sempre fiel às suas convicções e amizades. Foi um resistente intemerato contra a Ditadura. Em suma um cidadão exemplar.

Mário Soares

© CCTM (167)

14
Jul10

Guardião dos valores do socialismo democrático

CCTM

20100702PortugalSocialista08FerrazAbreu.jpg

A personalidade e o nome de Tito de Morais aparecerão sempre no topo das primeiras páginas duma História do Partido Socialista e da História da luta contra a ditadura salazarista, do seu derrube e do renascimento da Democracia em Portugal. Ele fez parte, e com grande relevo, da plêiade de gigantes que tudo sacrificaram nessa luta: Vida familiar, carreiras profissionais e a sua própria liberdade.

Preso, perseguido, exilado, Tito de Morais nunca quebrou. Pelo contrário, esta duradoura perseguição reforçaria o seu carácter e a sua persistência na luta pela vitória dos seus ideais, vitória que viria a surgir com o 25 de Abril.

Mas a sua luta não parou aqui, era necessário assegurar que a Revolução não se desviaria duma desejada Democracia Progressista. E Tito de Morais em todas as intervenções públicas ou no interior do Partido jamais deixou de defender com vigor, intransigência e frontalidade, as suas profundas convicções.

A este propósito, recordo encontros – almoços informais de um grupo de camaradas e amigos em que participei, ao lado de Magalhães Godinho, Raul Rego, Cal Brandão, Almeida Santos, Pinto e Melo, Gustavo Soromenho, onde naturalmente as conversas não deixavam de fora a vida política nacional e partidária. Aí ouvimos e não poucas vezes, Tito de Morais comentar com severidade o que considerava erros ou desvios programáticos e doutrinários cometidos por algum dos Órgãos do Partido.

Homem de uma só fé, atento e pronto a defender os princípios por que sempre se bateu. Assim era Tito de Morais, que eu nunca deixei de admirar pela sua coragem, pela sua coerência e pela sua frontalidade.

Ele era um verdadeiro Guardião dos valores do Socialismo Democrático.

São-lhe devidas todas as homenagens e tudo deve ser feito para que a Sua memória e o seu exemplo estejam sempre presentes no espírito das actuais e das futuras gerações.

J. Ferraz de Abreu

© CCTM (166)

14
Jul10

Representou a alma do Partido

CCTM

20100702PortugalSocialista09Guterres.jpg

Manuel Tito de Morais foi, indiscutivelmente, a pedra angular na construção do Partido Socialista em Portugal.

 Mário Soares é sem dúvida a figura central do socialismo português na segunda metade do século XX. Mas a verdade é que, durante décadas, antes e depois da Acção Socialista Portuguesa (ASP), com o PS ainda na clandestinidade e mais tarde com o arranque da sua actividade em Portugal, Manuel Tito de Morais sempre representou a alma do Partido e sempre foi o esteiro organizativo principal que o fez sobreviver e afirmar-se, sobretudo nos momentos decisivos da clandestinidade.

No Brasil, em Argel ou em Roma era sempre ele que mantinha “a máquina” em funcionamento e que garantia a edição do “Portugal Socialista”, um traço de união entre os seus membros.

Mas Manuel Tito de Morais foi mais do que um pilar organizativo. Ele representou sempre a fidelidade aos valores do PS nos momentos de dúvida, quando os caminhos do futuro eram incertos. Tito de Morais era uma referência segura: “Antes quebrar que torcer”.

Alguns porventura o consideravam teimoso, eu sempre vi nele uma firme determinação e um total apego aos princípios.

A sua herança perdurará para sempre, até mesmo para aqueles que não tiveram a oportunidade de com ele conviver e por isso não sabem que é em nome dos seus valores que travam as batalhas do presente.

Para mim, enquanto for vivo, ficará sempre, não apenas a referência sólida política, mas sobretudo a memória querida do amigo.

António Guterres

© CCTM (165)

13
Jul10

Um socialista sem medo

CCTM

20100702PortugalSocialista10FerroRodrigues.jpg

Os Partidos Socialistas e Sociais-Democratas europeus atravessam uma crise séria visível por derrotas sucessivas em recentes eleições, pelas dificuldades que apresentam os que governam, por uma certa desorientação das suas bases sociais e eleitorais. Isto acontece cerca de dois anos depois da explosão da crise financeira, que na actual fase se manifesta pela crise do Euro e dos financiamentos aos países expostos às dívidas públicas e privadas externas. Assim, uma crise global que não teve na origem excessos de despesa pública ou de défices, mas o aventureiríssimo e ganância irresponsáveis do capital financeiro privado, uma crise que não teve base na Europa, mas sim do outro lado do Atlântico, perante as fragilidades estruturais do processo de construção europeu e a incapacidade dos partidos de esquerda democrática em lidarem com a globalização transformou-se num processo de ataque àqueles que à primeira vista poderiam e deveriam ter emergido como seus beneficiários políticos.

Recordar o centésimo aniversário do nascimento de Tito de Morais é pois hoje mais do que nunca, relembrar a falta que nos faz, em Portugal, na Europa e no PS alguém que soube sempre aliar o realismo da sua análise, à coragem da sua postura e das suas convicções. No combate à ditadura, na edificação da democracia, na defesa de princípios e valores, Tito de Morais não se limitava a ser uma referência. Foi um activo e empenhado cidadão, um democrata sem medo, um homem da única esquerda verdadeira – a esquerda democrática.

Nos seis anos em que fui Ministro do primeiro governo do PS após dez anos de oposição, nos dois anos e meio em que fui, com muito orgulho, o Secretário-Geral do Partido, a figura de Tito de Morais foi para mim sempre fonte de inspiração, base de determinação. A política não é uma mera gestão do poder ou arbitragem entre poderes fácticos, a política é ou deveria ser a mais honesta actividade de serviço e de transformação do presente e futuro dos nossos concidadãos.

Para mim, Tito de Morais continua bem vivo.

Eduardo Ferro Rodrigues

© CCTM (164)

13
Jul10

Manuel Tito de Morais, o socialista

CCTM

20100702PortugalSocialista11AmandioSilva.jpg

Evocar Tito nestes cem anos em que se comemoram sua vida e seu exemplo, se bem que uma obrigação, é, para mim, muito doloroso, porque sinto demais a falta de João (1), que estaria na linha de frente, com suas irmãs (2) e irmãos (3) a organizar estas tão justas homenagens ao pai, o ilustre cidadão, o homem de honra, o Socialista.

E digo, o Socialista e não apenas um grande socialista, porque, para mim, Manuel Tito de Morais foi o paradigma da vivência socialista, a imagem rigorosa do homem de Partido, o político sério, íntegro, inabalável na convicção de que o seu PS seria o garante -como foi – da democracia em Portugal.

Comecei a saber de Tito, ainda no exílio, no Rio de Janeiro, onde conheci João nos finais dos anos sessenta. Quando ambos, pai e filho, anos atrás haviam passado algum tempo em São Paulo, não tinha havido qualquer contacto, visto eu estar integrado no grupo da Oposição portuguesa do Rio e as articulações com São Paulo serem esporádicas.

Curiosamente, já depois do 25 de Abril, Maria Emília recordou uma carta minha dirigida a Tito, na Argélia, da qual não lembro, por certo com um motivo específico, não representando, contudo, qualquer linha de coordenação política, que aliás raramente aconteceu entre os grupos de Oposição no estrangeiro, na luta contra a Ditadura.

Foi com João que, alguns dias depois do 1ª de Maio florido de cravos, nos fuzis dos soldados e nas lapelas dos polícias, subi as escadas de São Pedro de Alcântara para ser apresentado a Tito, que encontrei na sua primeira sala de trabalho, modesta como todas as que ocupou no Partido Socialista. Logo na primeira conversa, ele distante, para avaliar se eu teria as qualidades necessárias, percebi na sua convocatória à luta "Não podemos perder tempo, o trabalho vai ser imenso!" o homem determinado que iria ser um pilar na construção do Partido, incansável e intransigente na defesa da liberdade e da justiça social.

João foi assim, desde esse dia, o elo permanente dum convívio com Tito, tão importante para a minha formação como militante activo do PS nos anos 70 e 80. Pai e filho constituíram um binário de enorme eficácia. Parece que estou sentado com eles na noite em que traçaram o roteiro para a conquista de Viana do Castelo para as hostes socialistas, acertando estratégias e a escolha dos camaradas que em cada lugar do Minho seriam os primeiros companheiros da empreitada, que trouxe grandes vitórias ao PS em toda aquela região, em sucessivas eleições pós 25 de Abril.

João varou o Minho com seu Citroen 2 cavalos, preparando as reuniões donde iam brotando as Secções do PS, após as intervenções galvanizadoras, as do camarada Tito, com voz firme e pausada, que doutrinava os assistentes, ávidos de democracia, e as do próprio João, em tom mais elevado, conclamando ao trabalho.

Falar de Tito no PS é também falar de Mário Soares. Quero declarar que ninguém lhe foi mais fiel do que Manuel Tito de Morais. Tito foi sempre tão frontal quanto leal na sua relação com o líder, que sempre estimou e a quem dedicou uma enorme confiança, como o timoneiro do Partido Socialista. Mário Soares nunca foi surpreendido por alguma posição divergente de Tito, sem antes ser avisado de que a iria tomar. Os mais velhos recordam bem como Tito foi o único voto público contrário ao Acordo com o CDS. E esse desassombro, essa coragem, só aumentaram o respeito que sempre mereceu.

Mas eu quero reviver Tito sobretudo como eixo fulcral de sua família, a extraordinária lição de como conseguiu reunir á sua volta as duas esposas, Maria da Conceição, a primeira, a mãe de família, Maria Emília, a segunda, a guerreira companheira de luta, as filhas, os filhos, os genros, as noras, os netos, as netas. Sua irmã Maria Palmira, seu irmão Augusto. Que admirável painel humano!

Depois de quase todos separados pelas vicissitudes da luta contra a ditadura, depois de tantos anos de dúvidas sobre se estavam bem, uns em Portugal, outros no exílio, mesmo depois das posições de confronto após o 25 de Abril por orientações políticas diversas, eis que em Lisboa, depois na Malveira da Serra, mais tarde em Terrugem – aqui lembro a festa dos 80 anos de Tito – foi possível ao chefe da clã sorrir do conforto de ter todos ao seu lado.

João, para a família, para nós os amigos também era Tito. Sempre o tratei por Tito, ele que foi um irmão de vida. Que ainda me traz lágrimas de saudade. Foi com ele e sua Lúcia (4), que eu e minha mulher Maria Ivone passámos a conviver de forma constante com a família Tito de Morais. A viver como nossos os bons e maus momentos. Destes, o abalo profundo da perda abrupta do Pereira – assim Tito o tratava – o marido de Titinha, homem bom, estimado por todos E também a imagem forte do velório do tio Augusto, rodeado toda a noite por seus alunos, numa demonstração de respeito e de dor pela partida do mestre e amigo.

Essa faceta de congregador da família, como também do Partido, foi a grande marca de Manuel Tito de Morais. Nasceu com a República. Honrou-a como poucos. Comemorar seu centenário junto com o da República é um ato de justiça.

Em nossas casas é comum ter fotos da família. Na minha casa da aldeia, além das fotos dos avós, pais e filhos, eu junto uma de Manuel Tito de Morais, sozinho, sentado numa mesa, com aquele olhar de missão a cumprir. Ele é a minha referência, como homem, político e cidadão.

(1) João Manuel Mealha Tito de Morais, grande militante do PS, no qual ocupou vários cargos de responsabilidade;
(2) Maria Carolina, a Titinha, Maria da Conceição, a Xãozinha, Teresa e Luísa, todas filhas como João, único filho do primeiro casamento de Tito, com Maria da Conceição Formosinho Mealha;
(3) Manuel, Luís e Pedro, filhos do segundo casamento de Tito com Maria Emília Adelaide Pedroso da Cunha Rego Monteiro dos Santos;
(4) Lúcia Melo Tito de Morais, a Lucinha, que João conheceu no exílio no Brasil, que o acompanhou em Portugal desde o 25 de Abril e com a qual se casou já nos anos 80.

Amândio Silva

* Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico

© CCTM (163)

13
Jul10

Combatividade inquebrantável e fidelidade à ética republicana

CCTM

20100702PortugalSocialista12AnaGomes.jpg

O nome de Manuel Alfredo Tito de Morais faz parte não apenas do património do Partido Socialista, mas da história da Democracia em Portugal.

Comprometido politicamente com a resistência antifascista já desde o Movimento de Unidade Democrática em 1945, cedo foi forçado a tomar os caminhos do exílio, canalizando toda a sua energia e determinação para a luta patriótica pelo derrube da ditadura do Estado Novo. Fundou em 1964, na Suíça, a Acção Socialista Portuguesa que, mais tarde, em 1973, haveria de dar origem ao Partido Socialista. Além de fundador e principal impulsionador do PS, Manuel Alfredo Tito de Morais seria seu deputado à Assembleia Constituinte, depois Vice-Presidente da Assembleia da República e ainda Presidente do PS, entre 1986 e 1988.

O percurso pessoal de Manuel Alfredo Tito de Morais confunde-se com o caminho de Portugal, ao longo de décadas, na luta pela Liberdade e pela restauração democrática. Felizmente que ele teve a satisfação de ver esse desígnio da sua vida concretizado, a 25 de Abril de 1974. E felizmente que nós todos, portugueses, tivemos o benefício da sua contribuição devotada e experiente, por ainda muitos anos mais, ajudando-nos a superar os tremendos desafios da descolonização, das reformas económicas e políticas e da aprendizagem das liberdades e da tolerância democrática.

Nos anos 80 e 90 cruzei-me com o Eng. Tito de Morais nas mais diversas circunstâncias, de acções de rua aos salões do Palácio da Ajuda – eu jovem diplomata, ele um peso pesado da vida política nacional. Sempre me impressionou o olhar penetrante, a extrema afabilidade. E, sobretudo, o comentário atento e arguto, evidenciando combatividade inquebrável, fidelidade à ética republicana e firmeza de carácter.

Manuel Alfredo Tito de Morais faria este mês cem anos e os Socialistas e o país devem-lhe uma sentida homenagem: por não ter nunca desistido do sonho de um Portugal livre e por ter trabalhado incansavelmente, esclarecidamente, para o tornar realidade para todos nós.

Ana Gomes

© CCTM (162)

12
Jul10

Reabilitar o projecto socialista

CCTM

20100702PortugalSocialista13Arnaut.jpg

Manuel Alfredo Tito de Morais, que todos tratavam afectuosamente por Tito, foi um dos camaradas mais íntegros, devotados e generosos que tive o privilégio de conhecer nas lides políticas. Democrata em toda a dimensão ética do conceito e socialista em toda a compreensão redentora da ideia, foi, por isso mesmo, um humanista comprometido com o Povo e com a Pátria. Aliando o pensamento à acção, soube conjugar as atribulações diárias do combate concreto com a utopia radiosa da sociedade sem classes, justa, livre e fraterna com que sonharam os poetas e revolucionários de todos os tempos. Ele sabia que é necessário ousar o impossível para realizar o indispensável.

A ideia socialista, que lhe foi tão cara e que é a ideia mais velha do mundo, parece hoje enclausurada por um capitalismo sem açaimo, desavergonhado e voraz, que colocou impunemente o mundo à beira da catástrofe, obrigando os governos a endividar-se para evitar o colapso económico-social. E agora, que o perigo foi debelado, os especuladores financeiros, responsáveis pela crise, retomam o cenho feroz de donos do nosso destino, fixam as taxas de juros dos empréstimos a que os Estados têm de recorrer e querem obrigá-los, incluindo Portugal, a vender bens públicos para reduzir o défice que eles próprios provocaram!

É preciso romper o cerco, reabilitar o projecto socialista e derrubar as novas muralhas da Jericó. Em memória e em homenagem ao Tito – e a tantos que, como ele, sofreram a prisão e o exílio por fidelidade aos seus ideais – é preciso que o PS respeite o seu compromisso histórico e a sua matriz identitária. Se o mundo mudou e o socialismo democrático enfrenta hoje novas realidades, são ainda iguais os principais problemas que dilaceram as classes desfavorecidas, como o desemprego, a precariedade e a exclusão da cidadania. Não é o mundo que deve mudar as ideias, são as ideais que devem mudar o mundo. Por isso os socialistas têm a obrigação indeclinável de fazer tudo quanto em si caiba, atendendo à situação concreta do país, para reduzir as injustiças e encurtar as desigualdades, cujo agravamento ameaça atingir o ponto de ruptura. A construção do Estado Social, sem cedências nem tergiversações, não é apenas uma decorrência ideológica ou uma exigência constitucional, mas um imperativo categórico. Quer dizer, é uma condição irrenunciável para que o PS mereça o nome que tem e continue a ser o Partido do nosso saudoso Tito. E também para que o título deste jornal, que ele fundou ainda antes da (re)fundação do PS, continue a ser mensageiro da esperança de um “Portugal Socialista”.

António Arnaut

© CCTM (161)

12
Jul10

Lembrar e seguir

CCTM

20100702PortugalSocialista14CoimbraMartins.jpg

Nasceu com a primeira República, foi obreiro incansável da segunda. A democracia portuguesa, é devedora para com ele de um empenho sem tréguas, sem concessões, sem desânimos… Ao longo da noite, manteve e espertou a chama, travou e renovou o combate, esforçou quem enfraquecia, tomou a iniciativa, quando elas faltaram. Congregou e exigiu de quem o acompanhou. Foi o Tito, foi o exemplo; rigoroso quanto à linha a seguir, teimoso, empreendedor.

Com a mulher que escolhera para companheira e esposa, que sempre partilhou a luta e nela o apoiou, inventou o itinerário em função das circunstâncias, e, dentro e fora de Portugal, o modo e as peripécias mais eficazes em função dessas mesmas circunstâncias. Nunca descansou na vida, porque não descansava da luta. Imaginou a comunicação entre os núcleos surgidos no estrangeiro, e os focos de resistência em Portugal. O fio condutor desta rede foi o Portugal Socialista, anunciador, no tempo certo, da mudança inelutável, mas que a tentação da inércia e da resignação fazia julgar impossível.

Desde os primeiros números foi a surpresa. O jornal viveu. Muitos artigos acertavam em cheio. E todos significavam, de uma maneira ou doutra, que o tempo da opressão estava perdendo o contexto que o permitia. O Portugal Socialista herdara uma certeza que lhe emprestara o Tito.

Na encruzilhada, em que estamos hoje, na encruzilhada da Europa a que pudemos aderir, graças a combatentes como o Tito, precisamos de uma convicção como a dele, num destino colectivo de nova dimensão.

Às falsas ideologias sucederam os grandes desequilíbrios, geradores de conflito, as primícias de uma idade post-europeia. Num rectângulo português que assimile a modernidade, numa União europeia que se demonstre em factos, nas raízes portuguesas de um mundo emergente em que deixámos sementes, ao longo da história, havemos de comparecer e competir.

Que comemorar seja partir de novo. E, tanto mais quanto à escala da Europa, mais precisamos de vontade, invenção, solidariedade. A Europa, quando nasce é para todos. Todos os Europeus enquanto Europeus. E todos os continentes, enquanto hóspedes deste mundo em transformação, com os mesmos direitos compatíveis, à vida, ao entendimento e à promoção.

António Coimbra Martins

© CCTM (160)

12
Jul10

Um inesquecível camarada

CCTM

20100702PortugalSocialista15Costa.jpg

Manuel Alfredo Tito de Morais Homenagear este nosso fundador do Partido Socialista é pensar no que sentiriam os socialistas portugueses quando iniciaram a frente de opinião a que chamaram Acção Socialista Portuguesa, em 1964. Portugal, dominado por uma ditadura política e económica, que o empenhava numa guerra colonial sem sentido e contra os sinais que o Mundo dava desde o fim da Segunda Guerra Mundial, perseguia opositores e negava o direito à autodeterminação dos povos.

Tito de Morais, exilado em Roma, com Mário Soares e Ramos da Costa, exilado depois da Acção Militar de Beja em Paris, eram os dinamizadores da Acção Socialista e do seu "jornal", editado em Roma. Esta organização, precursora do PS chega a 1973 com 115 membros, a maioria exilados, alguns presos e outros condenados.

A importância que se tem de atribuir a Tito de Morais resulta da força das suas convicções republicanas, democráticas e socialistas. Eram poucos mas lutavam como se fossem muitos. Com grande desigualdade de meios, para enfrentar a repressão do regime salazarista, lutavam com orgulho e convicção. E legaram à nossa geração um Partido Socialista, que se tornou um grande partido nacional, popular, decisivo em todos os combates decisivos, pela liberdade, democracia, descolonização, integração europeia.

E a firme convicção que o combate à injustiça, às descriminações, contra a falta de igualdade de oportunidades, é um combate quotidiano e de sempre e para sempre.

A maior homenagem que podemos prestar a este grande socialista e republicano no ano do seu centenário é dizer que ele venceu. Deve ter pensado, em alguns momentos, para dentro de si mesmo, no tempo que a sua ideia de Liberdade demoraria a triunfar no seu país, dominado por uma ditadura fascizante. Mas Tito de Morais e os seus camaradas nunca esmoreceram. E ganharam! Já assistimos a Primeiros-Ministros e Presidentes da República do nosso Partido Socialista, eleitos por mais de três milhões de portugueses. Tito de Morais poderia ter sido um destes. Mas não foi menos importante a sua acção como deputado, Presidente da Assembleia da República e Presidente do Partido. E como cidadão. Creio que era a sua única ambição. E foi um cidadão exemplar. E um inesquecível camarada, mesmo para os mais jovens que com ele privaram. Criou-me uma vez uma dificuldade. O Engenheiro Tito de Morais tratava todos os camaradas por tu, na boa tradição socialista, que ele se esmerava em cultivar. E obrigou-me a tratá-lo, também, por tu. Desobedeci-lhe sempre.

António Costa

© CCTM (159)

11
Jul10

Firmeza das convicções e coerência na acção

CCTM

20100702PortugalSocialista16Seguro.jpg

Acedi, de imediato, ao convite para escrever um depoimento por ocasião das comemorações do primeiro centenário do nascimento do meu camarada Tito de Morais. Mais tarde, reflectindo, perguntei-me o que mais poderia acrescentar ao que já se disse e se escreveu, e bem, sobre Manuel Tito de Morais.

Não acrescentarei nada, é certo, mas não quero deixar de juntar o meu reconhecimento à justa homenagem que lhe é prestada. Particularmente nos tempos que correm, sabe bem reconhecer num dos distintos membros da nossa família socialista a firmeza das suas convicções e a coerência da sua acção.

Recordar e celebrar a vida de Manuel Tito de Morais é um dever para quem acredita nos valores e nos princípios que devem guiar a vida pública.

Militava eu na Juventude Socialista quando conheci, pessoalmente, Manuel Tito de Morais. Conversámos algumas vezes. Sentia-se que estávamos na presença de uma personalidade singular para quem a lealdade e a solidariedade tinham significado.

Separados por várias gerações, encontramo-nos no espaço dos nossos valores socialistas e no combate pela qualidade da nossa República. Manuel Tito de Morais nasceu com a República e emprestou-lhe muito das suas forças e da sua dedicação.

Não o esqueceremos!

António José Seguro

© CCTM (158)

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Contactos

Largo do Rato nº 2
1269-143 Lisboa
(inactivo)
cctm@sapo.pt (inactivo)
ATM - Associação Tito de Morais
Rua Abel Salazar, 37B
Alto da Faia
1600-817 Lisboa
titomorais@titomorais.pt (ATM)
luismariatito@gmail.com (webmaster)

ATM

Nota do Webmaster (2022)

Este Blog está, como se pode ler no "feed", selado para memória desde o dia 2010.07.29, data em que a Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do nascimento de Tito de Morais se extinguiu.
O tempo (12 anos), em termos de evolução tecnológica, é inimigo das selagens e o Blog, para que continue a reflectir a memória, teve de ser tecnicamente “desselado” para manutenção.
Na minha qualidade de webmaster reactivei as imagens, uma vez que a base de dados onde estavam alojadas foi descontinuada, e procedi a alguns ajustes para permitir que este acervo se mantenha funcional. Estes trabalhos decorreram entre 14 e 25 de Setembro de 2022
Se em relação ao texto fica a garantia de praticamente nada ter sido alterado, com excepção de alguns links externos entretanto quebrados ou já inexistentes, já no grafismo original houve que fazer pequenos acertos.
A nota justificativa está registada na última (primeira) página do Blog.
Luís Novaes Tito
luismariatito@gmail.com
2022.09.25

Links

redes sociais

blogs da casa

outros blogs

outros sítios

institucionais

comunicação social

.

Arquivo