Democracia
Manuel Alegre, Manuel Tito de Morais e Mário Soares
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Manuel Alegre, Manuel Tito de Morais e Mário Soares
Numa Lisboa entontecida pela liberdade conquistada, conheci o camarada Tito de Morais. Na Sede de S. Pedro de Alcântara. Logo nos primeiros dias de Abril, no princípio daquele Maio impregnado de um cheiro forte de cravos redentores.
Apesar de chegado na primeira leva de exilados no Brasil, naquele 1º de Maio mágico e indescritível, apesar de já me saber amigo do seu filho João, mesmo assim, mediu-me, avaliador, cioso de gente boa para o Partido.
Mais tarde visitei-o no seu apartamento do Arco do Cego, onde só se respira PS. A Maria Emília recordava-se do meu nome por uma mensagem que eu tinha enviado do Rio de Janeiro para Argel, nos idos de 61 ou 62. O primeiro laço, no exílio. Na sua casa, onde me recebeu tantas vezes, não me lembro de um só dia, de uma só noite, onde não puxasse conversa sobre o PS.
O que mais me emociona na figura de Tito é essa extraordinária dedicação a uma causa, a da liberdade e do socialismo, só é possível de defender, na sua perspectiva, através de um PS forte e vencedor. E por isso a sua inquebrantável confiança na vitória. A vitória do Partido, a vitória do seu PS.
Nesta década onde se acentuam as estratégias neoliberais, destrutivas das ideologias, inimigas do livre pensamento, castradoras da solidariedade, robotizadas das consciências, exploradoras da liberdade, com certeza que Manuel Tito de Morais, foi um dos que lhe ficou completamente imune, fortalecido por sua sólida convicção socialista.
Duas palavras sobre a sua afeição por Mário Soares. Penso que ninguém soube ser mais amigo. Duro na crítica do que pareceu desvio. Frontal na discórdia. “Ó Mário, tu não podes fazer isso!”. Mas sempre leal. Um baluarte com que Mário Soares sempre contou nos momentos cruciais de consolidação democrática do nosso Portugal.
Lembro agora o seu voto solitário contra a aliança de governo com o CDS. Quantos gostariam de ter podido fazer o mesmo? Os que aplaudiram, os que contestaram, socialistas ou não, tiveram de reconhecer a coerência do seu gesto. Para ser Tito de Morais, tinha de votar contra. E votou!
Presidente da Assembleia da República. Presidente honorário do nosso Partido. Arauto dos princípios socialistas. Um homem de esquerda. A integridade em pessoa. Fonte de respeito. Como é bom ser amigo do Tito. Uma bandeira do PS. Um grande português. Na minha casa, tenho uma fotografia do Manuel Tito de Morais. No meio das outras da família. Gosto de ver a sua cara, aquele olhar acutilante, aquela fonte firme. É o meu símbolo, a minha referência. Um exemplar protagonista do socialismo. Um marco de liberdade.
Obrigado, Manel. Porque desta vida ao PS, o PS não morrerá. Como nos ensinaste, Partido Socialista sempre!
Amândio Silva
Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996
Parabéns, Mário Soares
O Manuel Tito de Morais é a pessoa mais teimosa que conheço. Não se interprete mal este qualificativo. No essencial, a sua teimosia traduziu-se quase sempre numa vida de combate tenaz pelos ideais do socialismo e da liberdade. Sem cedências ou compromissos, mesmo aqueles que a generalidade dos dirigentes considerou razoáveis ou necessários.
Conheci o Manuel Tito em 1971 ou 72, suponho que em Amesterdão. Na véspera de uma reunião da Acção Socialista Portuguesa, Mário Soares avisou-me do pedido de demissão de Tito de Morais de responsável pelo Portugal Socialista. A razão era simples: O Tito queixava-se de falta de colaboração dos militantes do interior do País no envio de artigos. Creio que não fui muito convicto na promessa de que tudo mudaria na participação do interior do jornal, mas depressa percebi que a última coisa que ele faria era demitir-se ou desistir.
Creio que o Tito nunca se terá demitido de nada. Tenho a certeza de que não terão sido poucas as vezes que ele discordou profundamente das deliberações do PS, mas considerou sempre que a sua missão era a de lutar até ao fim dentro das estruturas e não bater com a porta.
Esta mistura entre a teimosia e pertinácia não poucas vezes foi levada a um extremo insólito. Pouco lhe importa que esteja isolado, completamente isolado frente a uma Comissão Nacional inteira, como aconteceu ainda há uns meses.
Esta energia inquebrantável, em que uma retaguarda influente e activíssima está a Maria Emília, é a marca mais nítida do Manuel Tito de Morais. Toda a sua vida de combate e dedicação, primeiro à luta contra o regime fascista, depois à afirmação do PS como grande Partido popular no respeito integral pelos seus valores e referências, passa por essa energia.
Obrigado, Tito! Ou melhor, obrigado Camarada Tito.
Alberto Arons de Carvalho
Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996
No próximo dia 14 de Dezembro passam 10 anos sobre a morte de Manuel Alfredo Tito de Morais.
A CCTM está a promover uma acção que marcará a data com a evocação da memória, no cemitério de Cascais, junto à placa onde é recordado o percurso de Tito de Morais.
A evocação, de que daremos notícia com mais pormenor neste Blog, terá lugar no dia 14 pelas 13:00 horas.
Chegada a Santa Apolónia, em 1974.04.27, de Ramos da Costa, Manuel Tito de Morais e Mário Soares
Imagem: Santa Apolónia 27 de Abril de 1974 - Ramos da Costa, Tito de Morais, Magalhães Godinho, Mário Soares e Palma Inácio
Há nele uma nobreza e uma inteireza antigas. E dele se poderia dizer, como Sá de Miranda: “Homem de um só rosto e de um só parecer”. Homem que nunca quebrou nem torceu: nem na cadeia, nem no exílio, nem nas horas mais duras e amargas de uma vida cuja história se confunde em grande parte com a história da resistência anti-fascista e do combate pela instauração da Democracia em Portugal. Antes e depois do 25 de Abril. No MUNAF, no MUD, nas campanhas de Norton de Matos, e de Humberto Delgado, na luta clandestina e revolucionária, nos movimentos de unidade antifascista e nas múltiplas iniciativas que haveriam de conduzir, primeiro à Acção Socialista Portuguesa, depois ao partido Socialista. No interior, em Angola, no Brasil, em Argel, em Roma, Manuel Tito de Morais esteve sempre na primeira linha. Fundador, com Piteira Santos, da emissora de resistência, “A Voz da Liberdade”, fundador do “Portugal Socialista”, fundador, com Mário Soares e Ramos da Costa, do Partido Socialista, nunca desistiu, nunca se rendeu, nunca deixou de acreditar.
Quando o conheci em Argel, ainda não havia Partido Socialista. Mas de certo modo ele já era o PS antes de o PS o ser. Será sempre o PS, mesmo quando o PS tiver a tentação de o deixar de ser.
Não há ninguém tão teimoso. Mas é difícil encontrar alguém tão firme nas suas convicções e ao mesmo tempo tão fraterno. No exílio, a sua casa estava sempre aberta, havia sempre lugar à mesa para mais uma havia sempre um colchão onde deitar um camarada recém-chegado. Assim continuou sendo pela vida fora.
Não é preciso bater à porta de Tito de Morais: ela está sempre aberta. Como o seu coração de socialista eu não se rende nem se acomoda nem se deixa enganar por modas. É certo que não gosta que mexam nos símbolos. Não é por conservadorismo. Mas pela convicção de que a subversão dos princípios começa sempre pela diluição dos símbolos. Por isso está atento, vigilante e não deixa nunca de protestar e rezingar. Não quer uma esquerda envergonhada nem um PS disfarçado. Quer uma esquerda que não tenha medo de ser esquerda e quer um PS que não tenha vergonha de ser socialista.
Ele é o PS de punho e bandeira vermelha. Porque ele é o Tito. O camarada Tito. Aquele que sendo Presidente honorário do Partido e tendo sido a segunda figura do Estado é, antes de tudo, um militante. Alguém que gosta da palavra camarada. Um símbolo da esquerda portuguesa. Uma referência insubstituível do Partido Socialista.
Manuel Alegre
Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996
Muitas vezes olhei demoradamente aquela fotografia. Tirada em 19 de Abril de 1973, em Bad Münstereiffel, no célebre Congresso da Fundação que marcou a transformação da Acção Socialista Portuguesa em Partido Socialista, a foto enquadra os heroicos fundadores. Entre eles, Manuel Tito de Morais histórico entre os históricos, alma e corpo da história do PS, um dos primeiros entre alguns dos primeiros.
Manuel Tito de Morais sempre deu tudo pela liberdade, sempre deu tudo pela democracia, sempre deu tudo pelo PS.
Para assim dar tudo por Portugal.
Foi perseguido, preso, torturado, sofreu o exílio, o afastamento de familiares e amigos. Mas nunca desistiu de lutar pelos seus ideais de sempre. Nunca desistiu de ser livre, de ver os portugueses livres, de ver Portugal pleno de liberdade.
Esteve na linha da frente do Movimento de Unidade Democrática, da Resistência Republicana e Socialista, nas candidaturas dos Generais Norton de Matos e Humberto Delgado, na Frente Patriótica de Libertação nacional, e, repito, na fundação da Acção Socialista Portuguesa e do Partido Socialista.
Alcançada a liberdade, Manuel Tito de Morais ajudou a consolidá-la. Conseguida a democracia, contribuiu decisivamente para a sua verdadeira implementação.
Dentro do PS, de que é Presidente honorário, desempenhou as mais altas e destacadas funções.
Engenheiro brilhante, político sólido, lutador e sagaz, de uma tenacidade invulgar, foi membro de vários governos saídos de Abril de 1974, Presidente da Assembleia da República, deputado ilustre.
Mas Manuel Tito de Morais, permitam-me o sublinhado, sempre me impressionou vivamente, também como homem de grande carácter, honestidade e integridade à prova de bala, elevadíssima estatura moral, uma bondade verdadeiramente tocante. Manuel Tito de Morais é para mim um exemplo.
Um exemplo para toda a família socialista e para todos os portugueses.
Um exemplo para Portugal.
António Guterres
Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996
Grupo Argel na passagem do ano de 1965 (1965.12.31)
Da esquerda para a direita:
à frente – Duartina Barbosa, Silva, Ema Silva, Manuel Alegre, Isabel Alegre, ?, ?, Banza (a menina), António Barbosa, Manuel Tito de Morais.
no meio – ???, o último à direita é o Manel filho.
atrás, em pé – Luís Bernardino, Mário Pádua, Luísa Tito de Morais, Pedro Ramos de Almeida, Nuno (o menino), João Ruela, Teresa Ruela, Ruela, Isabel Landeiro, Jorge Landeiro.
Neste primeiro post no Blog comemorativo do centenário do nascimento do meu Pai, quero deixar um pensamento para com o meu Avô, Tito Augusto de Morais, que não conheci pessoalmente, mas de quem o meu Pai falava muitas vezes, lamentando nunca lhe ter sido prestada a devida homenagem, como figura da revolução de 1910 e como patriota que foi.
(nota do webmaster na revisão do Blog em 2022:
"Na madrugada do dia 04 de Outubro de 1910 uma parte da sua guarnição envolveu-se na insurreição republicana e deteve o comandante e a meio da manhã entrava a bordo o 2 ºTen. Tito de Morais que fora enviado pelo comité revolucionário de Marinha para comandar o navio."
Fonte: Arquivo histórico da Biblioteca Central da Marinha)
A tomada do Cruzador São Rafael e o apontar os canhões ao Palácio das Necessidades na revolução de 5 de Outubro, o seu papel como Ministro e Deputado, o seu papel como Homem da República e da Democracia, foi membro do Partido Republicano e Governador da India.
Outros dois pensamentos vão para os meus Tios: Maria Palmira Tito de Morais e Augusto Tito de Morais.
A Tia Maria Palmira, depois de se ter licenciado em Histórico-Filosóficas, em Lisboa, licenciou-se e fez mestrado em Enfermagem nos Estados Unidos, fundou o Centro de Saúde de Lisboa, foi professora na Escola Técnica de Enfermagem, tendo sido a primeira professora portuguesa a dar aulas naquele estabelecimento afastada pelo governo fascista de leccionar pela sua actividade política, nomeadamente na campanha presidencial de Norton de Matos. Saiu do país em 1951. Foi então convidada pela ONU para os quadros da OMS onde trabalhou mais de 20 anos.
O Tio Augusto especialista em medicina tropical, aos 20/30 anos foi trapezista e tinha grande orgulho nisso. Viveu em Moçambique, onde começou a carreira profissional, trabalhou com o sogro, em campanhas para a erradicação de doenças tropicais como a bilharziose e a malária, publicou várias obras sobre o assunto. Sai de Moçambique em 1961 depois de lhe terem sido feitas propostas impossíveis de aceitar..., vai para os EUA como bolseiro da Fundação Fullbright e aí fica até 1963. Convidado para trabalhar na Organização Mundial de Saúde trabalha em comissão de serviço em diversos países, Iraque, Indonésia, Filipinas, Camboja. Vive na Suíça e na Suécia. Era um desenhador exímio, tem várias bandas desenhadas de sua autoria. Regressa a Portugal depois do 25 de Abril dá aulas de saúde pública e anos mais tarde conclui o doutoramento e torna-se Professor catedrático no Instituto de Medicina Tropical.
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