Reconhecer a mestria
Primeiro conheci-lhe a voz, depois os feitos e só após a Revolução vim a conhecê-lo pessoalmente. Trabalhei com ele no seu Gabinete quando foi Secretário de Estado do Emprego, no VI Governo Provisório e como seu Secretário Pessoal quando, no I Governo Constitucional, foi Secretário de Estado da População e Emprego. Ao ser eleito Presidente da Assembleia da República, Manuel Tito de Morais nomeou-me seu adjunto, a quem ele apelidava do seu jovem de confiança pessoal e política, com quem partilhava todas as cumplicidades de quem desempenhava tão elevado cargo e com quem trabalhava, sempre, mais de doze horas por dia.
Do Tito guardo imagens que me marcaram para toda a vida e do seu exemplo fiz o meu padrão político. No que alguns reconheciam teimosia, identifiquei sempre determinação. No que outros apelidavam casmurrice, sabia-lhe eu a integridade moral, política e cívica. No que ainda outros caracterizavam de intransigência identificava-lhe rectidão, coerência e insubmissão.
Manuel Tito de Morais era notável pela capacidade de trabalho, pelo profissionalismo, pelo sentido do dever e principalmente por nunca se deixar deslumbrar pelo poder ou pelas honrarias. O seu slogan de "antes quebrar que torcer" faziam dele um incorrupto puro onde nem o dinheiro nem o poder puderam fazer germinar qualquer apetência inconciliável com o seu percurso, aquilo que ele designava como ética republicana.
Homem corajoso, afável, com um humor fino e sagaz. Homem de pensamento limpo, de estratégia brilhante e de visão que lhe permitia antecipar cenários e preparar-se para eles.
Recordo sempre Tito de Morais com o carinho que merecem aqueles a quem consideramos mestres de vida. Ao longo do tempo de vida deste Blog não me faltarão oportunidades para relatos e episódios. Assim não me falhe a memória para os poder recordar.
Imagem: Assinatura do Livro de Honra do Navio-escola polaco. (1983)