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CCTM

Comemorações do Centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais

12
Jul10

Reabilitar o projecto socialista

CCTM

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Manuel Alfredo Tito de Morais, que todos tratavam afectuosamente por Tito, foi um dos camaradas mais íntegros, devotados e generosos que tive o privilégio de conhecer nas lides políticas. Democrata em toda a dimensão ética do conceito e socialista em toda a compreensão redentora da ideia, foi, por isso mesmo, um humanista comprometido com o Povo e com a Pátria. Aliando o pensamento à acção, soube conjugar as atribulações diárias do combate concreto com a utopia radiosa da sociedade sem classes, justa, livre e fraterna com que sonharam os poetas e revolucionários de todos os tempos. Ele sabia que é necessário ousar o impossível para realizar o indispensável.

A ideia socialista, que lhe foi tão cara e que é a ideia mais velha do mundo, parece hoje enclausurada por um capitalismo sem açaimo, desavergonhado e voraz, que colocou impunemente o mundo à beira da catástrofe, obrigando os governos a endividar-se para evitar o colapso económico-social. E agora, que o perigo foi debelado, os especuladores financeiros, responsáveis pela crise, retomam o cenho feroz de donos do nosso destino, fixam as taxas de juros dos empréstimos a que os Estados têm de recorrer e querem obrigá-los, incluindo Portugal, a vender bens públicos para reduzir o défice que eles próprios provocaram!

É preciso romper o cerco, reabilitar o projecto socialista e derrubar as novas muralhas da Jericó. Em memória e em homenagem ao Tito – e a tantos que, como ele, sofreram a prisão e o exílio por fidelidade aos seus ideais – é preciso que o PS respeite o seu compromisso histórico e a sua matriz identitária. Se o mundo mudou e o socialismo democrático enfrenta hoje novas realidades, são ainda iguais os principais problemas que dilaceram as classes desfavorecidas, como o desemprego, a precariedade e a exclusão da cidadania. Não é o mundo que deve mudar as ideias, são as ideais que devem mudar o mundo. Por isso os socialistas têm a obrigação indeclinável de fazer tudo quanto em si caiba, atendendo à situação concreta do país, para reduzir as injustiças e encurtar as desigualdades, cujo agravamento ameaça atingir o ponto de ruptura. A construção do Estado Social, sem cedências nem tergiversações, não é apenas uma decorrência ideológica ou uma exigência constitucional, mas um imperativo categórico. Quer dizer, é uma condição irrenunciável para que o PS mereça o nome que tem e continue a ser o Partido do nosso saudoso Tito. E também para que o título deste jornal, que ele fundou ainda antes da (re)fundação do PS, continue a ser mensageiro da esperança de um “Portugal Socialista”.

António Arnaut

© CCTM (161)

12
Jul10

Lembrar e seguir

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Nasceu com a primeira República, foi obreiro incansável da segunda. A democracia portuguesa, é devedora para com ele de um empenho sem tréguas, sem concessões, sem desânimos… Ao longo da noite, manteve e espertou a chama, travou e renovou o combate, esforçou quem enfraquecia, tomou a iniciativa, quando elas faltaram. Congregou e exigiu de quem o acompanhou. Foi o Tito, foi o exemplo; rigoroso quanto à linha a seguir, teimoso, empreendedor.

Com a mulher que escolhera para companheira e esposa, que sempre partilhou a luta e nela o apoiou, inventou o itinerário em função das circunstâncias, e, dentro e fora de Portugal, o modo e as peripécias mais eficazes em função dessas mesmas circunstâncias. Nunca descansou na vida, porque não descansava da luta. Imaginou a comunicação entre os núcleos surgidos no estrangeiro, e os focos de resistência em Portugal. O fio condutor desta rede foi o Portugal Socialista, anunciador, no tempo certo, da mudança inelutável, mas que a tentação da inércia e da resignação fazia julgar impossível.

Desde os primeiros números foi a surpresa. O jornal viveu. Muitos artigos acertavam em cheio. E todos significavam, de uma maneira ou doutra, que o tempo da opressão estava perdendo o contexto que o permitia. O Portugal Socialista herdara uma certeza que lhe emprestara o Tito.

Na encruzilhada, em que estamos hoje, na encruzilhada da Europa a que pudemos aderir, graças a combatentes como o Tito, precisamos de uma convicção como a dele, num destino colectivo de nova dimensão.

Às falsas ideologias sucederam os grandes desequilíbrios, geradores de conflito, as primícias de uma idade post-europeia. Num rectângulo português que assimile a modernidade, numa União europeia que se demonstre em factos, nas raízes portuguesas de um mundo emergente em que deixámos sementes, ao longo da história, havemos de comparecer e competir.

Que comemorar seja partir de novo. E, tanto mais quanto à escala da Europa, mais precisamos de vontade, invenção, solidariedade. A Europa, quando nasce é para todos. Todos os Europeus enquanto Europeus. E todos os continentes, enquanto hóspedes deste mundo em transformação, com os mesmos direitos compatíveis, à vida, ao entendimento e à promoção.

António Coimbra Martins

© CCTM (160)

12
Jul10

Um inesquecível camarada

CCTM

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Manuel Alfredo Tito de Morais Homenagear este nosso fundador do Partido Socialista é pensar no que sentiriam os socialistas portugueses quando iniciaram a frente de opinião a que chamaram Acção Socialista Portuguesa, em 1964. Portugal, dominado por uma ditadura política e económica, que o empenhava numa guerra colonial sem sentido e contra os sinais que o Mundo dava desde o fim da Segunda Guerra Mundial, perseguia opositores e negava o direito à autodeterminação dos povos.

Tito de Morais, exilado em Roma, com Mário Soares e Ramos da Costa, exilado depois da Acção Militar de Beja em Paris, eram os dinamizadores da Acção Socialista e do seu "jornal", editado em Roma. Esta organização, precursora do PS chega a 1973 com 115 membros, a maioria exilados, alguns presos e outros condenados.

A importância que se tem de atribuir a Tito de Morais resulta da força das suas convicções republicanas, democráticas e socialistas. Eram poucos mas lutavam como se fossem muitos. Com grande desigualdade de meios, para enfrentar a repressão do regime salazarista, lutavam com orgulho e convicção. E legaram à nossa geração um Partido Socialista, que se tornou um grande partido nacional, popular, decisivo em todos os combates decisivos, pela liberdade, democracia, descolonização, integração europeia.

E a firme convicção que o combate à injustiça, às descriminações, contra a falta de igualdade de oportunidades, é um combate quotidiano e de sempre e para sempre.

A maior homenagem que podemos prestar a este grande socialista e republicano no ano do seu centenário é dizer que ele venceu. Deve ter pensado, em alguns momentos, para dentro de si mesmo, no tempo que a sua ideia de Liberdade demoraria a triunfar no seu país, dominado por uma ditadura fascizante. Mas Tito de Morais e os seus camaradas nunca esmoreceram. E ganharam! Já assistimos a Primeiros-Ministros e Presidentes da República do nosso Partido Socialista, eleitos por mais de três milhões de portugueses. Tito de Morais poderia ter sido um destes. Mas não foi menos importante a sua acção como deputado, Presidente da Assembleia da República e Presidente do Partido. E como cidadão. Creio que era a sua única ambição. E foi um cidadão exemplar. E um inesquecível camarada, mesmo para os mais jovens que com ele privaram. Criou-me uma vez uma dificuldade. O Engenheiro Tito de Morais tratava todos os camaradas por tu, na boa tradição socialista, que ele se esmerava em cultivar. E obrigou-me a tratá-lo, também, por tu. Desobedeci-lhe sempre.

António Costa

© CCTM (159)

11
Jul10

Firmeza das convicções e coerência na acção

CCTM

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Acedi, de imediato, ao convite para escrever um depoimento por ocasião das comemorações do primeiro centenário do nascimento do meu camarada Tito de Morais. Mais tarde, reflectindo, perguntei-me o que mais poderia acrescentar ao que já se disse e se escreveu, e bem, sobre Manuel Tito de Morais.

Não acrescentarei nada, é certo, mas não quero deixar de juntar o meu reconhecimento à justa homenagem que lhe é prestada. Particularmente nos tempos que correm, sabe bem reconhecer num dos distintos membros da nossa família socialista a firmeza das suas convicções e a coerência da sua acção.

Recordar e celebrar a vida de Manuel Tito de Morais é um dever para quem acredita nos valores e nos princípios que devem guiar a vida pública.

Militava eu na Juventude Socialista quando conheci, pessoalmente, Manuel Tito de Morais. Conversámos algumas vezes. Sentia-se que estávamos na presença de uma personalidade singular para quem a lealdade e a solidariedade tinham significado.

Separados por várias gerações, encontramo-nos no espaço dos nossos valores socialistas e no combate pela qualidade da nossa República. Manuel Tito de Morais nasceu com a República e emprestou-lhe muito das suas forças e da sua dedicação.

Não o esqueceremos!

António José Seguro

© CCTM (158)

11
Jul10

A força das convicções no ideário socialista

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Estava eu a estudar na Suíça em 1966 quando conheci o Manuel Tito numa conferência do Comité Suíço para a Amnistia em Portugal realizada em Lausanne. Admirei logo a frontalidade com que interveio numa mesa em que estava também um representante do PCP, com o qual percebi haver uma certa tensão. Só o reencontrei sete anos mais tarde em Paris nas inolvidáveis reuniões de Agosto de 1973, na Fundação Leo-Lagrange do Partido Socialista Francês para discutir e aprovar a Declaração de Princípios e o Programa do Partido Socialista, cujo projecto o Sottomayor Cardia, o Marcelo Curto e eu trazíamos de Lisboa. Foram discussões homéricas, nas quais, para minha surpresa, o Manuel Tito, conjuntamente com o Chico Ramos da Costa, alinhou pela posição dos “radicais” de Lisboa, contra as posições bem mais moderadas do Mário Soares, do Campinos e do Bernardino Carmo Gomes. Eu, que o tinha em conta de um republicano socialista moderado vi-me várias vezes ultrapassado pela esquerda! Logo ali tive a demonstração da sua fibra, da força das suas convicções e do seu empenhamento num ideário socialista coerente e sem transigências. Atitude que manteria até ao fim da sua vida.

Voltei a abraçá-lo no seu regresso do exílio, no dia 28 de Abril, na Estação de Santa Apolónia. Foram então os tempos da organização do PS e da sua sede, que ele dirigiu com pulso firme e uma devoção sem limites, com a preciosa ajuda da Maria Emília. Fizemos várias viagens juntos pelo país, em intermináveis conversas, com sessões de esclarecimento por todo o lado. E o Tito tudo aguentava com uma enorme capacidade de resistência que pedia meças aos mais jovens de nós.

No 28 de Setembro lembro-me da surpresa com que me recebeu e me abraçou na sede de S. Pedro de Alcântara, quando lhe apareci fardado e armado, numa altura em que se receava a invasão da sede por gente da extrema-direita, e o tranquilizei sobre a evolução dos acontecimentos!

Mais tarde, no governo, testemunhei o sofrimento com que se confrontava com os nossos recuos ideológicos e/ou tácticos. Para a história ficará o seu voto isolado de vencido na célebre reunião da Comissão Nacional do P S em que se aprovou o acordo parlamentar de incidência governamental com o CDS que viabilizou o II Governo Constitucional!...

Como Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, não posso também deixar de evocar aqui a sua iniciação na Maçonaria em 31 de Março de 1990 numa das mais antigas Lojas do GOL, a Loja José Estêvão, uma das poucas que resistiu à Ditadura sem abater colunas. Faria 80 anos poucos meses depois, tendo atingido o grau de Mestre em 11 de Dezembro de 1990. Não deixa de ser curioso que tivesse esperado pela fase final da sua vida para formalizar uma adesão, que vários dos seus amigos e camaradas de geração, como António Macedo e Mário Cal Brandão, tinham concretizado muito antes. Como se a adesão ao GOL fosse o coroar de toda uma carreira cívica, ele que já era há muito um “maçon sem avental”! Creio que, em certa medida, quis também desta maneira homenagear o próprio pai, o grande Almirante Tito de Morais, herói da República e grande maçon.

António Reis

© CCTM (157)

11
Jul10

Militante da amizade

CCTM

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Militante da Amizade Aprendi a amar e defender a Liberdade ainda era um quase catraio, com as fraldas abandonadas havia uns tempos não tão longos como isso tudo. E com ela, aprendi também a amar e defender a Democracia. E a República e o Socialismo Democrático – e continuo a aprender. Todos os dias. Se isso não acontecer, quer dizer que não se vive, vegeta-se sem nada para amar e defender. Excepto a Pátria e a Família, bem entendido.

Pelos idos de 67/68, comecei a mandar umas coisas (com pseudónimo por mor das… coisas), para os primeiros números do Portugal Socialista. Era o tempo da ditadura, o tempo salazarento, o tempo da censura, da polícia política, do medo e da opressão. Mas também do destemor, da coragem, da dignidade e da verticalidade. Enviava esses textos entusiásticos e ingénuos, simultaneamente. Em cartas com mata-borrões dentro, de propaganda farmacêutica. Dava-me gozo – deu-me.

O destinatário era um tal Tito de Morais. Não sabia quem era, associava-o ao almirante que, quando jovem segundo-tenente, participara no 5 de Outubro e que se tornara numa figura destacada da República. A morada era em Roma, e as missivas iam dirigidas a um italiano de seu nome Arigo.

Estava em Angola, como oficial miliciano e continuava sob vigilância da PIDE, (com a qual já tivera em Lisboa uns quantos encontros/desencontros e umas amolgadelas), quando comecei a remeter esses pequenos textos, – a que o destinatário, uns quantos anos mais tarde, chamaria textículos, com x, como acentuava com um sorriso por baixo do bigode e que continuo a usar... Mesmo assim, persisti em mandá-los para Roma.

Eis senão quando – dá-se o 25 de Abril. Eu ficara em Angola, tinha três filhos para criar e a escolha não se revelou de todo desacertada. Com a chegada do meu ex-professor de Direito Administrativo, Marcelo José das Neves Alves Caetano, ao poder, depois da bendita cadeira ter desempenhado cabalmente o papel que lhe fora distribuído, a PIDE rebaptizada DGS, não me incomodava muito. Uns avisos, apenas, que me iam chegando, por mor de alguns Amigos pretos (não gosto do termo negros, que considero insultuoso e o Tito também não) que eu não devia ter – mas tinha.

No dia 2 de Maio, depois de muitas lágrimas de alegria vertidas em Luanda, ao pé do aparelho de rádio, vim a Lisboa. Tinha de ser. Os malandros do MFA, tinham feito o já citado 25 de Abril nas minhas costas, sem esperarem por mim… E, apenas deixei a mala de viagem em casa de uma tia, meti-me num táxi para os Restauradores, apanhei o elevador da Glória, cheguei lá acima – e fui-me inscrever no Partido Socialista.

Dei de caras, logo, com um Amigo de sempre, o Mário Sottomayor Cardia e foi o Catanho de Menezes que recebeu a minha proposta. Ele e o Cardia apadrinharam-me. E foi então que conheci o Senhor Engenheiro Manuel Tito de Morais. Que, afinal, era filho do Senhor Almirante. Estivemos à conversa, pois se lembrou logo das minhas missivas «secretas». Era o princípio imediato de um tu que me desvaneceu e duma Amizade que duraria até à hora da sua morte. Não senhor; até hoje.

Meses depois, em Setembro, voltei a Lisboa, já com a família. E comecei à procura de emprego. Corri jornais, onde uns quantos «democratas» franziam os respectivos cenhos, porque eu era um colonialista regressado de Angola. E numa tarde, ali ao Príncipe Real, quase desmoralizado por tantas negas, o Cardia disse-me que me queria no Portugal Socialista, finalmente sem peias.

Não sei por que bulas, mas, dias passados, o Zé Leitão, o Jorge Morais, o Avelino Rodrigues, a Teresa Sena e mais dois ou três elegeram-me para chefe da redacção. O Cardia, director, aceitou. Eu, também. Estávamos instalados (mal) nas dependências da antiga Censura no Bairro Alto… Saudosismos? Saudades. De uns bons tempos, em que nos tratávamos por tu e éramos camaradas. Hoje…

Foi no Largo do Rato que combatemos o mesmo combate nas colunas do seu e meu Portugal Socialista, o Órgão Central do PS. O Manel Tito como director, eu continuando como chefe da Redacção. Esses anos em que trabalhámos juntos, podia dizer que cimentaram a Amizade que nos unia. É uma redonda mentira. Ela já não precisava de mais argamassa. Os alicerces não cediam; nunca mais cederiam.

Esta é uma história corriqueira, na primeira pessoa (coisa que não deve ser feita, mas que está… feita) de um plural que não tinha fronteiras na fraternidade e na solidariedade que nos unia. Só mais uma alínea. O meu irmão mais novo, nunca saberei porquê, aos 33 anos deu um tiro na cabeça. Os escudos eram escassos, poucos mesmo. Foi o Manuel Tito de Morais que decidiu que a Maria Emília me desse a quantia para pagar o funeral. Sem que eu soubesse que a ideia e a decisão eram dele. Mas soube. E disso também nunca me esquecerei.

Resta acrescentar que, quando comecei a pagar o que considerava um empréstimo, o Tito, que ficara muito aborrecido por saber que eu… sabia o que ele fizera, disse-me tranquilamente – como era sempre e sempre procedia – que fosse depositando o dinheiro, porque os meus miúdos «talvez um dia destes precisem mais da massa do que eu». Era esse o Tito de Morais que tive como Amigo e me ensinou que defender os nossos ideais é das melhores coisas que podemos e devemos fazer.

Antunes Ferreira

© CCTM (156)

10
Jul10

Figura cimeira da luta pela liberdade

CCTM

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Em 2010 comemoramos a implantação da República em Portugal, data maior para todos aqueles que acreditam num mundo com mais igualdade e sonham com uma sociedade em que todos, independentemente da sua raça, credo, sexo, origem, idade, ou orientação sexual, possam alcançar a sua felicidade. Ser republicano é acreditar num mundo melhor e mais livre e mais igual. Comemorar a República é, também, comemorar a democracia, único sistema político que nos pode fazer alcançar esta sociedade mais igual e justa que a República nos faz acreditar.

Mas em 2010 celebra-se, também, um outro centenário, não de um regime em que acreditamos, mas de um homem. Homem que se confunde na história do Portugal contemporâneo, com a República, com a Liberdade, com a Democracia, com a social-democracia e com o Partido Socialista. Celebramos em 2010 o centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais, figura cimeira da luta pela democracia e da resistência antifascista e um dos fundadores da Acção Socialista Portuguesa, que se transformou no Partido Socialista.

Para a minha geração, nascida em liberdade, e que milita hoje na Juventude Socialista e no Partido Socialista, pessoas como Mário Soares e Tito de Morais são como lendas que conhecemos dos livros de história e cujo exemplo aprendemos a admirar e a tentar seguir. Pessoas que fazendo face a inúmeras adversidades, perseguições políticas, levados a abandonar os seus e a sua terra, aprisionados injustamente, torturados... Pessoas que tiveram de enfrentar as maiores provações por ousarem pensar pela própria cabeça e ousarem ser livres e desejarem o mesmo para os outros e mesmo assim mantiveram-se fiéis aos seus valores, aos seus princípios e que com estoica resistência, muitas vezes sem saberem se a liberdade e a democracia seria efectivamente uma realidade, mantiveram uma vontade e um empenho inquebrantável na luta pela liberdade e pela democracia.

Chegados a hoje, a minha geração, tem também desafios e provações diferentes para vencer e ultrapassar. Aprofundar a república e a democracia e continuar a lutar por mais igualdade entre todos e fazer do nosso país um país mais progressista e mais justo. Enfrentando os problemas que persistem estruturalmente no nosso país. A luta por um país com pessoas mais qualificadas, mais solidárias, a luta pela sustentabilidade energética e uma integração política mais eficaz entre os povos na Europa, são hoje tarefas primeiras dos jovens socialistas.

Para isso, contaremos sempre com a inspiração e o exemplo de Manuel Tito de Morais. Obrigado.

Duarte Cordeiro
Secretário-geral da Juventude Socialista

© CCTM (155)

10
Jul10

Um socialista de fortes convicções

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Conheci o Manuel Tito de Morais em 1947, pouco depois do meu regresso do Tarrafal. Pertencia a uma tertúlia que se reunia na casa de ferias que o Manuel Rodrigues Oliveira (o fundador da “Biblioteca Cosmos”) possuía na Costa da Caparica. Conhecera o Rodrigues de Oliveira no Aljube durante a minha primeira detenção. Tornámo-nos amigos. Reencontrámo-nos naquela estância balnear. Além de nos reunirmos na sua casa, juntávamo-nos no “Café Papo-seco”, há muito tempo desaparecido.

Dessa tertúlia faziam parte várias pessoas que viriam a ser figuras públicas no período que se seguiu ao 25 de Abril, nomeadamente o próprio Tito de Morais e o Francisco Salgado Zenha. O Salgado Zenha e o Luís Saias também possuíam casa naquela vila. Por isso, ocasionalmente, juntavam-se ao grupo. Mas não eram dos frequentadores mais assíduos.

Eram todos homens e mulheres de esquerda – alguns já tinham passado pelas prisões – que se reuniam para analisar e discutir a situação política nacional e internacional. Tinham vários percursos políticos, mas todos se reclamavam do marxismo. A maioria tinha passado pelo PCP. Mas estavam inactivos. Alguns seriam eventualmente militantes daquele partido. Era o caso da Maria Emília que viria a casar com o Tito de Morais.

Líamos L’Humanité e discutíamos os romances dos escritores revolucionários franceses, designadamente Roger Martin du Gard, Romain Roland, André Gide, André Malraux, etc. Dávamos longos passeios pela praia.

O Manuel Tito de Morais foi um homem inteligente e de fortes convicções. Os feitios afáveis e fraternos tanto dele, como do Manuel Rodrigues de Oliveira, contribuíam para dar àquele círculo de amigos um ambiente de grande amizade.

Queria aqui destacar o importante papel que desempenhou nessa tertúlia uma mulher notável, Ana Isabel de Oliveira (a Bé entre os amigos). Ela é, junto com Luís Saias e a Maria Emília, viúva do Tito de Morais (além de mim próprio) das poucas pessoas desse notável grupo que ainda estão vivas.

A Ana Isabel, especialista em artes plásticas, foi uma grande amiga do Tito de Morais. É uma referência cultural da sociedade portuguesa. Continua viva e activa, apesar dos seus oitenta e cinco anos.

O meu testemunho é, para além de uma homenagem à notável figura do meu querido amigo Manuel Tito de Morais, um pequeno contributo para a história das várias formas da resistência à ditadura.

Edmundo Pedro

© CCTM (154)

10
Jul10

Um homem de princípios

CCTM

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“Um Homem de Princípios“ foi o qualificativo escolhido quando ele foi homenageado em vida, em Lisboa, em presença dos mais altos dignitários da República Portuguesa, e é sem dúvida aquele que melhor corresponde à personalidade do Tito.

Pela sua postura intelectual e política de lutador pela Liberdade e Democracia no decorrer da sua vida, o Manuel Alfredo Tito de Morais angariou o respeito e o reconhecimento dos portugueses, mesmo daqueles – tal foi o meu caso – que o viram pela primeira vez fora do nosso país.

Para além da honra que foi para mim tê-lo como proponente e signatário (em nome do Secretariado Nacional do PS) do meu cartão de militante, sinto grande satisfação em poder afirmar que este Homem me inspirou sobre uma certa forma e postura política.

Encontrei-me muitas vezes com o Tito, inclusivamente em sua ou em minha casa, nomeadamente quando ele era Presidente da Assembleia da República. Devo dizer que sempre me senti impressionado com a modéstia natural que sobressaía da sua personalidade.

Não vou prolongar-me mais. Creio que era necessário render esta homenagem àquele que foi para Portugal, para o PS e para os seus amigos; um grande Homem. “UM HOMEM DE PRINCIPIOS”

Germano Lima

© CCTM (153)

09
Jul10

Artífice da edificação do Partido Socialista

CCTM

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Tito de Morais é uma figura incontornável do socialismo em Portugal. Homem de princípios, combatente contra a ditadura fascista e o colonialismo, lutador pela liberdade e pelo estabelecimento da democracia em Portugal, a sua acção política foi determinante para a criação do Partido Socialista.

Quando se comemora o centenário do nascimento de Tito de Morais e se impõe dar a conhecer a sua obra, não é demais repetir, ainda que numa brevíssima resenha, algumas notas da acção política do indomável resistente e combatente pelos ideais do socialismo.

Filho de revolucionário da instauração da República, a sua acção política iniciou-se cedo, tendo logo aos 16 anos participado numa greve de estudantes do Liceu Camões, episódio que lhe acarretou a agressão de um agente da repressão da ditadura. Foi o seu baptismo de fogo. Dir-se-ia que este incidente teve um efeito catalisador e Tito de Morais nunca mais parou na sua luta contra a opressão e pela liberdade.

O combate de Tito de Morais acarretou-lhe profundas atribulações a vários níveis. Sofreu várias prisões – entre outras, por integrar o MUD e participar nas campanhas eleitorais de Norton de Matos e Humberto Delgado – demitido de empregos, não podendo exercer uma actividade profissional como engenheiro, e por fim o exílio para onde foi empurrado. E foi nesta situação que Tito de Morais, longe dos esbirros da ditadura, deu largas à sua imaginação revolucionária e desenvolveu uma acção política consequente.

Em 1964, na Suíça, Mário Soares, Tito Morais e Ramos da Costa criam a Acção Socialista Portuguesa (ASP). Dois anos mais tarde foi decidido que Tito de Morais, depois de actividade política no Brasil e na Argélia, fixasse residência em Roma. Estavam criadas condições para uma nova fase de luta contra a ditadura.

Tito de Morais começou por dar especial atenção aos contactos na área internacional, participando em conferências e congressos de prestigiados partidos e organizações europeias, dando a conhecer a situação política em Portugal e obtendo significativos apoios para a luta dos socialistas no país.

O “Portugal Socialista”, criado em 1967, foi um instrumento de luta contra o fascismo e concebido para, no quadro da ASP, ‘contribuir para a estruturação política e organizativa dos socialistas portugueses’. Este tema da organização foi uma constante das preocupações de Tito de Morais, e não foi por acaso que no primeiro número desta publicação o tema é abordado e recorrente em várias edições seguintes.

Sendo este jornal uma publicação produzida em Roma, é de imaginar as dificuldades na sua distribuição em Portugal, obstáculo suplantado pela criatividade do fundador e director do jornal, Tito de Morais, tendo sempre conseguido que as edições circulassem em Portugal.

Outro aspecto a destacar foi o contacto com os emigrantes. A ASP era um movimento preocupado com a formação política e a intervenção dos trabalhadores. Não foi por coincidência que o “Portugal Socialista” foi fundado no dia 1º de Maio – o Dia do Trabalhador. Tito Morais promoveu encontros com trabalhadores em vários países europeus, de que resultou a criação de Núcleos ASP e que veio a reflectir-se de forma positiva no Congresso da fundação do Partido.

Em síntese, as acções políticas de Tito de Morais no exílio, com o empenho, a dedicação e o estímulo que promoveu em toda a sua actividade para o trabalho progredir, o recrutamento de militantes e a expansão da ASP, concorreram de forma decisiva para a criação das condições necessárias que levaram à fundação do Partido Socialista.

No Congresso da fundação, organizado sob sua responsabilidade, apresentou dois documentos: Política Interna da ASP e Problemas de Organização. É certo que são documentos datados, mas onde não falta espaço para alguma presciência política quando reflecte sobre o futuro, admitindo o derrube do regime fascista pelas forças armadas. Regista-se também a sua preocupação ideológica de uma comunidade solidária e fraterna ao afirmar “… não aceitar nada que possa comprometer a construção, embora por fases sucessivas, da sociedade socialista”.

Após a Revolução redentora dos militares de Abril, Tito Morais regressou a Portugal depois de 13 longos anos no exílio, não se deslumbrou por cargos de prestígio social e colocou todo o seu empenhamento na organização do Partido Socialista. Como 1º Secretário Nacional ficou instalado na sede nacional, dirigiu múltiplas áreas políticas e formou equipas que, sob sua orientação, implementaram o Partido a nível nacional.

Tito de Morais continuou a servir o Partido Socialista exercendo vários cargos, de que se destacam, a nível institucional, o de Presidente da Assembleia da República, e a nível partidário, o de Presidente do Partido Socialista. O ex-exilado, exercendo então funções do maior prestígio nacional, continuou igual a si próprio, na sua modéstia e integridade. Manteve-se durante toda a vida como o guardião dos valores do socialismo, e encontramo-lo, em Maio de 1992, no seu “Portugal Socialista”, a escrever: “Vem-se acentuando no seio do Socialismo democrático a tendência de, por razões eleitoralistas, se adaptarem os modelos neoliberais existentes que vão tornando os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e, para mascararem esta tendência, afirmam que se trata de uma ‘MODERNIZAÇÃO’.”

Estas breves notas, de apenas alguns aspectos relevantes da acção política de Tito de Morais, são suficientes para o colocar na galeria da História do Socialismo em Portugal, como vulto do maior destaque que não se poupou a esforços na luta contra a ditadura, para a edificação do Partido Socialista e a institucionalização da Democracia em Portugal.

Tem sido para mim uma grande honra e forte emoção participar nesta bem merecida homenagem a Tito de Morais, com quem tive o privilégio de colaborar como companheiro de exílio, como camarada e como amigo.

A melhor homenagem que devemos prestar a Tito de Morais é prosseguir na defesa dos valores do Socialismo Democrático de que ele sempre foi porta-voz.

José Neves

© CCTM (152)

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Nota do Webmaster (2022)

Este Blog está, como se pode ler no "feed", selado para memória desde o dia 2010.07.29, data em que a Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do nascimento de Tito de Morais se extinguiu.
O tempo (12 anos), em termos de evolução tecnológica, é inimigo das selagens e o Blog, para que continue a reflectir a memória, teve de ser tecnicamente “desselado” para manutenção.
Na minha qualidade de webmaster reactivei as imagens, uma vez que a base de dados onde estavam alojadas foi descontinuada, e procedi a alguns ajustes para permitir que este acervo se mantenha funcional. Estes trabalhos decorreram entre 14 e 25 de Setembro de 2022
Se em relação ao texto fica a garantia de praticamente nada ter sido alterado, com excepção de alguns links externos entretanto quebrados ou já inexistentes, já no grafismo original houve que fazer pequenos acertos.
A nota justificativa está registada na última (primeira) página do Blog.
Luís Novaes Tito
luismariatito@gmail.com
2022.09.25

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