Lembrar e seguir
Nasceu com a primeira República, foi obreiro incansável da segunda. A democracia portuguesa, é devedora para com ele de um empenho sem tréguas, sem concessões, sem desânimos… Ao longo da noite, manteve e espertou a chama, travou e renovou o combate, esforçou quem enfraquecia, tomou a iniciativa, quando elas faltaram. Congregou e exigiu de quem o acompanhou. Foi o Tito, foi o exemplo; rigoroso quanto à linha a seguir, teimoso, empreendedor.
Com a mulher que escolhera para companheira e esposa, que sempre partilhou a luta e nela o apoiou, inventou o itinerário em função das circunstâncias, e, dentro e fora de Portugal, o modo e as peripécias mais eficazes em função dessas mesmas circunstâncias. Nunca descansou na vida, porque não descansava da luta. Imaginou a comunicação entre os núcleos surgidos no estrangeiro, e os focos de resistência em Portugal. O fio condutor desta rede foi o Portugal Socialista, anunciador, no tempo certo, da mudança inelutável, mas que a tentação da inércia e da resignação fazia julgar impossível.
Desde os primeiros números foi a surpresa. O jornal viveu. Muitos artigos acertavam em cheio. E todos significavam, de uma maneira ou doutra, que o tempo da opressão estava perdendo o contexto que o permitia. O Portugal Socialista herdara uma certeza que lhe emprestara o Tito.
Na encruzilhada, em que estamos hoje, na encruzilhada da Europa a que pudemos aderir, graças a combatentes como o Tito, precisamos de uma convicção como a dele, num destino colectivo de nova dimensão.
Às falsas ideologias sucederam os grandes desequilíbrios, geradores de conflito, as primícias de uma idade post-europeia. Num rectângulo português que assimile a modernidade, numa União europeia que se demonstre em factos, nas raízes portuguesas de um mundo emergente em que deixámos sementes, ao longo da história, havemos de comparecer e competir.
Que comemorar seja partir de novo. E, tanto mais quanto à escala da Europa, mais precisamos de vontade, invenção, solidariedade. A Europa, quando nasce é para todos. Todos os Europeus enquanto Europeus. E todos os continentes, enquanto hóspedes deste mundo em transformação, com os mesmos direitos compatíveis, à vida, ao entendimento e à promoção.
António Coimbra Martins
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