Uma bandeira contra a ditadura
O meu Pai foi sempre, e continua a ser, uma referência muito importante na minha vida. Desde muito jovem que o acompanhei a reuniões e manifestações políticas.
Lembro-me de um comício na Voz do Operário, onde ele discursou, e de eu ter andado a recolher fundos, com uma caixa em lata, o que não passou despercebido à PIDE.
Depois do 25 de Abril, ao ver a minha ficha na polícia, aparece lá essa informação sobre uma perigosa criança de 12 anos. Um ano mais tarde, fui com o meu Pai ao funeral de Bento de Jesus Caraça.
Tenho bem presente que levava uma bandeira, enorme, no meio de milhares de pessoas que desfilavam desafiando a ditadura. A incansável luta política, o entusiasmo e a esperança num futuro em que a liberdade e a justiça imperassem foram valores que não só nortearam a sua vida como os transmitiu aos que os o rodearam.
Tinha convicções profundas, queria uma vida melhor, em que mulheres e homens tivessem as mesmas oportunidades, os mesmos direitos e deveres. Posso mesmo dizer que os seus ideais não se cingiam ao seu país, que o meu Pai amava a humanidade e pugnava pelo seu bem-estar e harmonia.
A grande generosidade e o desapego aos bens materiais faziam dele uma figura singular numa sociedade em que a riqueza e o consumo são endeusados.
Que o seu exemplo seja conhecido e seguido e que a sua luta não tenha sido em vão.