Homem profundamente leal aos amigos
Conheci o Tito de Morais logo após o 25 de Abril, quando em 1974 aderi ao PS.
As primeiras impressões foram ditadas pela sua figura, austera e grave, de velho combatente republicano e socialista, com o grosso bigode grisalho e "fumado". Homem profundamente leal aos amigos, foi solidário com Mário Soares em circunstâncias difíceis da vida do partido. Mas não deixou nunca de manifestar as suas reticências relativamente a certas estratégias.
Relevo três situações que ilustram o que atrás fica dito:
A primeira ocorreu no início de funções do primeiro governo constitucional.
Na qualidade de secretários de Estado participámos ambos num Conselho de Ministros em que se discutiu a acção diplomática a levar a cabo pelo 1º Ministro no estrangeiro. Aonde devia ser a primeira visita? Cunha Rego propôs que fosse ao Brasil (ainda nas teias do poder militar). O Manuel Tito, apoiado por mim, propôs Angola.
Foi o Brasil a opção com todos os equívocos (relativos a Angola) que se seguiram.
A segunda verificou-se aquando das acções que conduziram à formação do II Governo (PS/CDS).
Os renitentes foram convocados a S. Bento para serem convencidos a pôr de lado as reticências. Chamados foram mais de 20. Que me lembre só o Manuel Tito recusou. Talvez não tivesse razão, mas as suas objecções de consciência (e de longo prazo) não cederam.
A terceira teve lugar em 1987 após a Moção de Censura que levou à demissão do governo minoritário do PSD.
Na sequência, todas as forças políticas que aprovaram a censura (PS, PRD, PCP e CDS) manifestaram ao PR a sua vontade de apoiar a formação (viabilizando-o por um período razoável) de um Governo minoritário PS no quadro parlamentar existente. Na crispação que se seguiu, numa minoria do PS, à eleição de Vítor Constâncio para S.G., o PR preferiu dissolver a AR, levando às maiorias absolutas do PSD que se seguiram. Nas hostes socialistas mais próximas do PR só Manuel Tito de Morais manifestou publicamente o seu desagrado, o que lhe valeria alguns contratempos futuros.
Outras estórias poderiam ser aqui descritas, mas isso levar-nos-ia mais longe do que agora convém.
Luís Filipe Madeira