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CCTM

Comemorações do Centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais

08
Jul10

Um ídolo da minha juventude

CCTM

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O centenário do nascimento do nosso querido Tito, em Lisboa, na freguesia de São Sebastião da Pedreira, a 28 de Junho de 1910, três meses antes da Revolução que implantou a República, identifica uma data que tem de ser comemorada, pela dimensão do Homem, cujo nome e obra, se pretende, possam continuar bem vivas em todos nós.

Para quem com ele conviveu, com maior ou menor proximidade, recordamos a homem que nunca recuou perante desafios, reflectindo uma solidariedade que sempre exerceu, a Liberdade pela qual combatia e a enorme coragem que o caracterizava.

A sua memória não pode perder-se. É nosso dever dá-lo a conhecer.

Fui solicitado a produzir para “O República” em Novembro de 2001, um testemunho que referisse o facto de ter tido lugar a atribuição, pela CML, do nome Tito de Morais a uma Rua na Cidade na Freguesia da Charneca. Referi a sua localização num Bairro Novo – “que fora construído sobre coisas doridas que se tinham passado na nossa Lisboa” e, dirigindo-me ao Tito, acrescentei que aquela homenagem toponímica, passados muitos anos, levaria os miúdos que por lá brincavam a interrogar-se sobre quem fora o Tito de Morais?

E assim seria sempre, e sempre alguém poderia responder que fora “um Homem grande” que deixara nesta cidade a “riqueza que construíra, a imagem de simplicidade com que vivera e a liberdade que conquistara”.

Acrescentei, que aqueles miúdos iriam esquecer, mas que outros iriam de novo perguntar quem fora o Tito de Morais e, sempre que tal acontecesse, ele iria viver de novo, e os homens no futuro só se iriam lembrar vagamente que estivera entre nós um Homem-bom, que nos deixara no fim do século XX, mas, naquela rua, ficaria um sentido e uma intenção.

A História, essa, conclui, iria fluir despreocupadamente, desligada de tantos que tornaram a vida mais fácil e que só aqui, e ali, a toponímia recordaria. E um dia, de novo, um miúdo se interrogaria sobre quem fora o Tito de Morais.

Esta comemoração do centenário do seu nascimento é por isso um acto necessário, um testemunho de reavivarmos um passado. É um acto de justiça e de reconhecimento.

Conheci o Tito, teria eu os meus treze anos, passava as férias em Almoçageme, tornara-me amigo dos seus, então, cinco filhos. Era um homem impressionantemente dotado da capacidade rara de nos avaliar, adivinhando as nossas intenções. Era o ídolo daquela juventude, e todos nós sentíamos o seu sentido de fraternidade e a imensa capacidade de conquistar a admiração e amizade, apesar de então só vagamente termos conhecimento do que representava, da sua estatura política, do sacrifício do seu passado recente. Mantive sempre uma admiração profunda pelo Homem e fui conhecendo o Político pouco a pouco.

Mais tarde, muito mais tarde, o Tito, depois de muitas vezes ter sido obrigado a abandonar as suas funções, acabou por se fixar em Angola onde exerceu, como profissional, a sua actividade. De Angola partiu para Portugal em 1961, com residência fixa em Lisboa. Partiu depois para França, autorizado pela PIDE. Mas, impossibilitado de conseguir emprego, acabou por ir para o Brasil e, em 1963, instalou-se em Argel onde participou na fundação da Rádio Voz da Liberdade. Em 1964 fundou em Genebra, na qualidade de dirigente da Junta de Salvação Nacional, (Órgão executivo da FPLN), a Acção Socialista Portuguesa com Mário Soares e Ramos Costa.

No dia 25 de Abril estava em Bona, tendo voltado a Portugal no comboio que partiu de Paris na companhia do Mário Soares e do Ramos Costa.

Os filhos, entretanto, foram pouco a pouco abandonando o País e, finalmente, voltaram no 25 de Abril. Retomamos os contactos e, tendo o Tito aceite exercer funções no 6ºGoverno Provisório, aceitei imediatamente ser o seu Chefe de Gabinete e dediquei-me, com enorme satisfação, a servir directamente um Homem que continuou a dedicar a Portugal a sua imensa capacidade, ajudando a ultrapassar um período difícil da sua governação e suscitando dos seus pares uma admiração que importa ser salientada.

Exerceu nessa qualidade com uma coragem, competência e enorme imaginação, num período da nossa História em que era necessário travar o desemprego, uma função, em que a mudança de procedimentos na política de emprego deixou uma marca assinalável. Foi por isso e também, como Governante, um Homem que se soube impor, e o resultado foi indiscutivelmente de uma qualidade que desejaria hoje ver exercitada, agora que, como então, há problemas que têm de ser ultrapassados.

Mas o desempenho dos cargos que o levaram o Tito de Morais até segunda figura da hierarquia dos Órgãos de Soberania em Portugal, não constituíram um percurso de reconhecimento da sua dedicação à coisa Pública, por todos reconhecida, foram antes o reconhecimento da qualidade do desempenho de um Homem que sabia compreender e gerir as situações, que intuía o que fazer e quando o fazer e, principalmente, que se dedicava e amava a sua Terra e queria responder aos problemas sem afastar as gentes.

Compreendi melhor quando, no Cemitério de Cascais lhe foi recentemente prestada uma homenagem e o Almeida Santos, num curto improviso concluiu, que não foram os políticos que não acarinharam o Tito quanto o merecia, o Tito, afirmou, seria aquilo que quisesse e fora sempre aquilo que escolheu ser. Era um Homem livre, que quis, durante toda a sua vida, ser livre e fraterno.

Obrigado, Tito. Talvez nos vejamos dentro de algum tempo.

Manuel van Hoof Ribeiro

© CCTM (149)

21
Jan10

Recordando Manuel Alfredo Tito de Morais

Alvaro Sales Lopes

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Em finais de 1975, recebi um convite para trabalhar no Gabinete do Secretário de Estado do Emprego como assessor para a área do emprego e formação profissional, minha especialidade técnica no IEFP.

Em 1 de Dezembro, após breve encontro com o chefe do gabinete, fui apresentado pessoalmente ao Eng. Tito de Morais, pessoa que, não obstante não conhecer pessoalmente, há muito admirava.

Foi logo manifestada uma grande empatia entre ambos. Aquela figura franzina de uma correcção extrema, deixou-me imediatamente estupefacto pelo facto de, não obstante o curto tempo de acção governativa que levava, já dominar com grande profundidade as necessidades imediatas do emprego e formação profissional, a dimensão da capacidade de resposta dos serviços, o nome de todos os dirigentes cuja competência era reconhecida independentemente da ideologia seguida.

Muitos foram aqueles que independentemente da cor partidária lhe ficaram eternamente reconhecidos, dedicando-lhe o respeito e a consideração que este Homem de Princípios merecia.

Entre inúmeras acções realizadas, vem-me à memória um episódio que jamais esquecerei. Os chamados “Homens da Rua” do sector portuário eram trabalhadores sem qualquer protecção social que há muito vinham solicitando uma solução para a sua difícil situação. Havia casos de extrema penúria porquanto não conseguiam trabalho continuado chegando a estar grandes períodos sem laborar e, como tal, não conseguiam angariar os meios de sobrevivência. Várias vezes os seus representantes foram recebidos no Gabinete, mas o assunto não era de fácil resolução. Todos os dias se concentravam à porta do Ministério do Trabalho, na Praça de Londres, edifício onde no 16º andar estávamos instalados. Sem nada prometer, como era seu hábito, no meio de imensos assuntos que exigiam uma actuação imediata, Tito nunca esqueceu o drama dos Homens da Rua.

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Apesar das dificuldades de vária ordem, incluindo dificuldades legais, o subsídio de desemprego acabou por se tornar realidade. Dias antes da decisão ser tornada pública, acompanhava eu o Secretário de Estado, vejo uma enorme algazarra à porta do Ministério. Receei pela reacção daquela gente ao reconhecer o governante de quem dependia a solução da sua precária situação. Qual espanto meu quando se ouve uma voz entre a multidão dizer:

Camaradas, vem aí o “Nosso Homem", o Engenheiro Tito de Morais!

De imediato abriram alas entre imensas palmas e Tito de Morais pondo os olhos no chão envergonhadamente entrou no Ministério. Voltando-se para mim disse: Mas que fiz eu para merecer isto!

Personagem de grande rigor político. Homem de uma só palavra, foi e soube ser incómodo em muitos momentos da vida deste País. Hoje faz-nos falta tal incomodidade porque era justa.

Vamos comemorar o centenário de Tito de Morais por ele, por nós, por Portugal que precisa cada vez mais de ter presente o nome e a obra dos poucos que têm sabido dignificar a palavra Povo.

© CCTM (57)

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ATM

Nota do Webmaster (2022)

Este Blog está, como se pode ler no "feed", selado para memória desde o dia 2010.07.29, data em que a Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do nascimento de Tito de Morais se extinguiu.
O tempo (12 anos), em termos de evolução tecnológica, é inimigo das selagens e o Blog, para que continue a reflectir a memória, teve de ser tecnicamente “desselado” para manutenção.
Na minha qualidade de webmaster reactivei as imagens, uma vez que a base de dados onde estavam alojadas foi descontinuada, e procedi a alguns ajustes para permitir que este acervo se mantenha funcional. Estes trabalhos decorreram entre 14 e 25 de Setembro de 2022
Se em relação ao texto fica a garantia de praticamente nada ter sido alterado, com excepção de alguns links externos entretanto quebrados ou já inexistentes, já no grafismo original houve que fazer pequenos acertos.
A nota justificativa está registada na última (primeira) página do Blog.
Luís Novaes Tito
luismariatito@gmail.com
2022.09.25

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