Tito de Morais, uma referência do Partido Socialista
Manuel Tito de Morais faria cem anos no dia 28 de Junho. Para mim, e creio que para todos os que o conheceram, será sempre intemporal…uma referência no nosso imaginário colectivo, um exemplo de coragem e de determinação.
Mas o "camarada Tito", como tantas vezes ouvi referenciar, era muito mais do que isso, porque sempre usou essa coragem e determinação para o bem comum, não cruzou os braços inconformados, quis mudar o futuro.
Um futuro sem grilhetas, sem mesquinhez, sem injustiça, um futuro digno dos valores republicanos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade era a razão do seu inconformismo e da sua luta.
Tito de Morais faz-nos ter orgulho num partido que foi o seu, de que foi um dos fundadores em tempos difíceis, de clandestinidade e de exílio. E a História nunca lhe fará suficiente justiça, porque a sua abnegação e entrega à luta pela liberdade será sempre incomensurável.
Como medir o sofrimento de um homem a quem privam da liberdade por, justamente, lutar por ela?
A riqueza interior de Tito de Morais revela-se na sua capacidade de resistência, mas também na sua entrega a causas públicas e políticas, hoje tendencialmente desvalorizadas por uma sociedade cansada de ser intoxicada com causas mesquinhas, que nos toldam a memória.
Também por isso, o exemplo de vida e a luta política de Manuel Tito de Morais deveriam dar-nos a exacta noção do quanto lhe devemos, porque são testemunhos de como a grandeza de homens e de mulheres que acreditaram na mudança e na justiça das causas que fizeram suas, moldaram a democracia que hoje temos e que devemos continuar a aperfeiçoar. O seu legado obriga-nos a estar atentos e atentas, a não pactuar com a indiferença, a não trair a sua memória.
Manuel Tito de Morais foi digno da revolução de Abril que o viu regressar a Portugal, após anos de exílio político activo, foi um Deputado brilhante, logo na Assembleia Constituinte, e presidiu a este órgão de soberania com o mesmo sentido de dever cívico com que integrou o VI Governo Provisório e o I Governo Constitucional, de que Mário Soares foi o Primeiro-Ministro.
Não deixou de militar activamente no Partido Socialista, de que também foi presidente, consciente de que este era crucial para consolidar a democracia e governar Portugal em tempos difíceis e tão exigentes.
Foi, acima de tudo, um homem íntegro e justo que compreendeu os desafios do seu tempo. Cedo entendeu que a qualidade da nossa democracia passava pela envolvência e participação das mulheres na vida pública e política. Sabia que o futuro, a modernidade, o desenvolvimento, teriam de contar com as mulheres. Sempre soube que elas estiveram também na primeira linha de todos os combates políticos e de todas as causas humanistas.
Tito de Morais vai ser homenageado pelo Partido Socialista e pela Assembleia da República. É de toda a justiça. Ao acarinhar a sua memória, tornar-nos-emos, nós próprios, mais ricos.
As suas lutas, as causas por que toda a vida se bateu foram suas, mas tiveram sempre como destinatários os seus concidadãos, os outros, mesmo os que desdenharam, perseguiram ou tentaram contrariar a sua perseverança.
Um desprendimento assim não se esquece, não se apaga, não se esconde. Manuel Tito de Morais foi um socialista de inestimável valor, um homem de corpo inteiro, um democrata que a jovem República viu nascer.
Hoje, cem anos depois, os tempos são de memória, para nós que o conhecemos, mas também para tantos outros, para os jovens e menos jovens que não se conformam com a injustiça e para quem os valores da república e da democracia já fazem parte da sua idiossincrasia.
Hoje, cem anos depois do seu nascimento, façamos desta homenagem a Manuel Tito de Morais um motivo de alerta, para nunca descurarmos os valores pelos quais lutou. Honramos um homem que se bateu, com coragem e determinação, contra a indiferença, contra o conformismo!
Maria Manuela Augusto
Presidente do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas
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