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Comemorações do Centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais

30
Jun10

Uma vida de luta por um Portugal livre e mais justo

CCTM

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Quero começar por agradecer à Câmara Municipal de Lisboa, em especial ao seu Presidente Dr. António Costa, ao Dr. Manuel Alegre, à Comissão Executiva que organizou estas comemorações na pessoa do Luís Novaes Tito, ao escultor Francisco Simões, ao Partido Socialista que deu todo o apoio logístico e a todos os que se associaram a estas comemorações e nelas participam. Permitam-me também um agradecimento especial ao Presidente do PS, o camarada Almeida Santos, que tem honrado com a sua presença todas as cerimónias destas comemorações.

Caras amigas e amigos, caros camaradas, é com muita honra que estou aqui hoje convosco, com a minha Mãe, as minhas irmãs e meus irmãos e restante família, para neste acto simbólico de descerrar este busto do meu Pai que teria completado 100 anos no passado dia 28 de Junho.

Quando fui escolhido para agradecer em nome da família para falar nestas comemorações hesitei em aceitar.

Primeiro porque sempre tive dificuldade em encontrar palavras para traduzir as minhas emoções e depois ou talvez por isso porque nunca gostei de falar em público. Mas a memória do meu pai e o respeito da luta por um Portugal livre e mais justo, levam-me a fazê-lo.

Eu partilhei com ele a minha infância e juventude, entre Angola, Brasil, Argélia e Itália. Só depois do 25 de Abril, quando ele regressou a Portugal para viver no país livre pelo que tinha combatido, as nossas vidas se separaram.

Vou contar quatro episódios, entre muitos, que o ilustram para mim. O primeiro foi antes de eu nascer, como me foi contado por ele. Quando da campanha do general Norton de Matos, para contornar os obstáculos que o fascismo punha, tinha sido prevista uma manifestação de apoio ao general num teatro. No entanto, encontrava-se a sala com numerosos agentes da PIDE com o intuito de intimidar a assistência.

Foi o meu pai que, ignorando a presença da polícia, se levantou e lançou os vivas ao general que se encontrava no balcão, pondo de pé a assistência. O segundo episódio ocorreu em Angola no seu primeiro exílio fora de Portugal. Ele foi responsável pela electrificação de uma barragem, o Cunene se a memória não me engana. Ele tinha orgulho em recordar que tinha planificado e completado a obra nos prazos previstos. Só quem um dia trabalhou em África, numa zona isolada, e numa altura em as comunicações não existiam, pode perceber o esforço de previsão e supervisão, e a atenção ao detalhe que isso demonstra.

O terceiro episódio que vos queria contar foi quando por lhe serem negadas todas as hipóteses de trabalho em Portugal e na Europa, ele com minha mãe e meu irmão João viajou para o Brasil num barco argentino de imigrantes que partiu de Vigo. A comida a bordo servida à terceira classe onde ele ia, estava estragada. Quando da escala nas Canárias, ele organizou uma greve dos passageiros, impedindo a partida do barco até obter a melhoria das condições.

Por fim, o último episódio ocorreu em 25 de Abril 1974. Ele estava a entrar em Franca, para juntar-se a Mário Soares e Ramos da Costa e apanhar o Sud Express para Portugal. Tinha de o fazer como sempre no carro de um camarada de uma zona fronteiriça neste caso com a Bélgica, apostando que a polícia francesa não fosse controlar o ficheiro. Neste caso teve azar, e a polícia recusou-lhe a entrada. Contou-me ele, quando chegou a Paris, que fez tanto barulho na fronteira que obrigou a presença do chefe da polícia. Foi este, conhecedor do que se estava a passar em Portugal, lhe disse que depois da altercação pública não o podia deixar passar ali, mas ele próprio lhe indicou o caminho por uma fronteira secundária por onde entrar clandestinamente em França.

Foi esta a coragem e determinação que ele consagrou à luta contra o governo fascista. O local escolhido para o acto que nos reúne aqui tem uma forte carga simbólica: estamos paredes-meias com a sede do Partido Socialista, Partido o qual ajudou a fundar com Mário Soares, Ramos da Costa e tantos outros, do mais incógnito militante ao mais conhecido.

Como Manuel Alegre um dia disse, o meu pai era o Partido Socialista antes de o Partido o ser.

Ousaria eu dizer que em certa medida ainda é o Partido Socialista depois de o Partido ser. No princípio dos anos 60, as experiências da luta antifascista e anticolonialista, a própria perseguição de que ele era alvo da parte do regime fizeram-lhe compreender a necessidade de organizar e unir os socialistas numa organização autónoma para isolar o regime fascista ruindo os apoios de que dispunha na Europa ocidental.

Tenho de sublinhar que para esse objectivo, ele contou (Portugal contou) com o apoio total e sem falhas do Partido Socialista Italiano, de muitos dos seus militantes e dirigentes, principalmente Pietro Nenni, Francesco De Martino e Sandro Pertini. Foi o PSI que introduziu os contactos com os outros partidos da Internacional Socialista. Foram esses contactos que minaram as relações entre o regime fascista e as democracias europeias.

Foi o PSI quem permitiu a impressão do Portugal Socialista, que servia de cimento e referência à ASP e depois ao PS. Era um trabalho imenso que eu compartilhei quase sete anos com ele, entre obter os artigos, escrevê-los todos à máquina, corrigir os erros que inevitavelmente os camaradas italianos cometiam a escrever numa língua que não conheciam, recortar as provas para fazer a maqueta e paginação. Depois da impressão ainda era preciso escrever cada mês os endereços em centenas de envelopes, com canetas diferentes, tentando mascarar a escritura para não ser sempre igual. Envelopes que eram depois enviados para correspondentes nos outros partidos da internacional socialista (principalmente Escandinávia, Benelux e Alemanha) de onde eram enviados para Portugal.

Foram também camaradas italianos que vieram inúmeras vezes a Portugal, introduzindo documentos ou dinheiro para as actividades clandestinas, apesar do risco de serem detidos e roubados pela PIDE ao chegar a Portugal, como algumas vezes sucedeu.

Foi também de Itália que meu pai preparou o congresso de fundação do PS para a qual foi advogado ímpar. Além do aspecto político, ocupou-se também da logística do congresso, preparando as pastas para os delegados, copiando as moções a discutir e a declaração de princípios a aprovar.

Essa incansável actividade militante só foi possível também graças à ajuda constante, ao trabalho e ao encorajamento da minha mãe.

Um símbolo do resultado dessa actividade é um desenho de um jornal inglês, The Times, quando da visita que Marcelo Caetano fez a Inglaterra para tentar melhorar a imagem do governo. O núcleo da ASP de Londres, então dirigido por José Neves, com a ajuda do partido trabalhista inglês foi o grande impulsionador de manifestações de hostilidade que marcaram essa visita, transformando-a no contrário do que o regime fascista pretendia. O desenho do Times mostra um grupo compacto de polícias ingleses, entre os pés dos quais surge uma mão estendida que o Primeiro-ministro inglês se apresta a apertar, com a legenda “Dr. Caetano, I presume?”

Quando saí de Itália para estudar para Franca, o meu Pai tinha projectos para fazer um filme sobre a vida do General Humberto Delgado que servisse para tornar consciente da ditadura portuguesa a opinião pública europeia e queria obter dos partidos socialistas o financiamento para lançar uma rádio do partido socialista a partir de um barco ao largo de Portugal no limite das águas internacionais.

No Natal de 1973, quando eu regressava para Franca, depois de ter ido passar as férias em família, ele fez parte do trajecto de comboio comigo. Foi então que ele me anunciou que estava para haver um golpe de estado em Portugal e a sua certeza de que o fim do fascismo estava para breve. Confesso que apesar da convicção inabitual do seu olhar, não acreditei que assim acontecesse e pensei que seria mais uma das desilusões como tinha havido muitas. Quando o voltei a ver, foi em casa de Mário Soares em Paris aonde eu me encontrava a filtrar os telefonemas e tentar apanhar num pequeno transístor a Emissora Nacional e a rádio Clube. Quando ele chegou, vindo do episódio a que já me referi, ficou-me marcado para sempre a alegria sem nome que vi no seu olhar profundo e penetrante que todos os que o conheceram recordam.

Depois disso a história já é mais conhecida, e outros muito melhor do que eu já a contaram. É este o testemunho que queria oferecer do homem e dos feitos que a Câmara Municipal de Lisboa hoje aqui homenageia.

Muito Obrigado.

Manuel Tito de Morais
2010.06.30

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04
Dez09

Histórico entre históricos

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Muitas vezes olhei demoradamente aquela fotografia. Tirada em 19 de Abril de 1973, em Bad Münstereiffel, no célebre Congresso da Fundação que marcou a transformação da Acção Socialista Portuguesa em Partido Socialista, a foto enquadra os heroicos fundadores. Entre eles, Manuel Tito de Morais histórico entre os históricos, alma e corpo da história do PS, um dos primeiros entre alguns dos primeiros.

Manuel Tito de Morais sempre deu tudo pela liberdade, sempre deu tudo pela democracia, sempre deu tudo pelo PS.

Para assim dar tudo por Portugal.

Foi perseguido, preso, torturado, sofreu o exílio, o afastamento de familiares e amigos. Mas nunca desistiu de lutar pelos seus ideais de sempre. Nunca desistiu de ser livre, de ver os portugueses livres, de ver Portugal pleno de liberdade.

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Esteve na linha da frente do Movimento de Unidade Democrática, da Resistência Republicana e Socialista, nas candidaturas dos Generais Norton de Matos e Humberto Delgado, na Frente Patriótica de Libertação nacional, e, repito, na fundação da Acção Socialista Portuguesa e do Partido Socialista.

Alcançada a liberdade, Manuel Tito de Morais ajudou a consolidá-la. Conseguida a democracia, contribuiu decisivamente para a sua verdadeira implementação.

Dentro do PS, de que é Presidente honorário, desempenhou as mais altas e destacadas funções.

Engenheiro brilhante, político sólido, lutador e sagaz, de uma tenacidade invulgar, foi membro de vários governos saídos de Abril de 1974, Presidente da Assembleia da República, deputado ilustre.

Mas Manuel Tito de Morais, permitam-me o sublinhado, sempre me impressionou vivamente, também como homem de grande carácter, honestidade e integridade à prova de bala, elevadíssima estatura moral, uma bondade verdadeiramente tocante. Manuel Tito de Morais é para mim um exemplo.

Um exemplo para toda a família socialista e para todos os portugueses.

Um exemplo para Portugal.

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António Guterres

 

 

Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996

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20
Nov09

Manuel Alfredo Tito de Morais (1910.1999)

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Manuel Alfredo Tito de Morais um homem de princípios, militante e um dos fundadores do Partido Socialista, lutador pela liberdade e pela democracia, nasceu em Lisboa, na freguesia de São Sebastião da Pedreira, a 28 de Junho de 1910, três meses e alguns dias antes da revolução que trouxe a República a Portugal.

Era filho de Augusto Tito de Morais, oficial da Marinha, republicano e de firmes convicções democráticas, Ministro, Deputado e Senador às Constituintes de 1911, militante no Partido Republicano Nacionalista e de Carolina de Macedo Morais, que, entre muitas outras coisas, lhe ensinou a respeitar as pessoas independentemente da sua origem.

Passou a sua infância e adolescência num ambiente propício em que eram visíveis os valores da democracia e da liberdade.

Conviveu em casa dos seus pais com notáveis políticos da época de Brito Camacho e do Presidente António José de Almeida, o que contribuiu também, para a sua formação política.

Tinha 16 anos por ocasião da revolução de 28 de Maio, quando iniciou a sua actividade revolucionária, como ele próprio refere: “Direi mesmo que a minha acção política começou aos 16 anos quando levei a minha primeira chanfalhada de um soldado de Cavalaria da Guarda Nacional Republicana que invadiu o Liceu Camões, aquando da greve estudantil”. Foi o seu primeiro incidente com a polícia e, como tal, o primeiro contacto com a autoridade e com a repressão do regime ditatorial que se seguiu. Depois seguiram-se muitos outros momentos em que Tito de Morais esteve na primeira linha das manifestações contra o regime.

Frequentou o Colégio Militar e foi finalista no Liceu Camões. Terminado o liceu entrou na Faculdade de Ciências, onde fez as disciplinas de Física, Química e Matemática, preparatórias para a Escola Naval, correspondendo assim ao desejo do seu pai. Porém, não passou no exame de admissão, por razões de ordem política e decidiu, de acordo com os pais, ir estudar para a Universidade de Gand, na Bélgica, onde se licenciou em Engenharia Electrotécnica.

De volta a Portugal, começou a exercer a sua profissão na Marconi e depois de 1940, na General Electric Portuguesa, onde dirigiu o departamento de electromedicina. Mais tarde, dirigiu no Instituto Pasteur o departamento com o mesmo nome.

Em 1945, aderiu ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), através das bases e depois tornou-se membro da Comissão Central. Nesta qualidade participou na Campanha do General Norton de Matos à Presidência da República. Nesse mesmo dia, os seus serviços no Instituto Pasteur foram dispensados, tendo sido apresentado como justificação o facto de ser dirigente do MUD. Vendo-se desempregado, dedicou-se com todo o empenho à organização deste movimento antifascista, que neste início viveu um ambiente de euforia.

No dia 31 de Janeiro de 1947, a esperança de que a oposição vivia esmoreceu com a ilegalização do movimento e a prisão de toda a Comissão Central, presidida por Mário de Azevedo Gomes, incluindo Tito de Morais.

Tito de Morais que contou, durante uma entrevista, episódios dramáticos vividos durante este momento, referiu que quando chegou à prisão já se encontrava o seu advogado e muitos outros, entre os quais Mário Soares que lhe perguntou se ele não trazia dinheiro. Perante a resposta negativa de Tito de Morais, Mário Soares emprestou-lhe os 50$00 necessários para ir para “primeira”, descobrindo-se assim que na cadeia os presos eram seleccionados através das suas posses no momento. Contou ainda, que durante os primeiros 15 dias, à noite, às 0 horas, iam buscá-lo à camarata para ser interrogado. Na mesma camarata encontravam-se, entre outros, Maldonado de Freitas que permanecia acordado à espera de que Tito de Morais voltasse do interrogatório, por volta das 4 da manhã, com o fim de lhe aconchegar a roupa quando finalmente dormia. Saiu da prisão a 23 de Março de 1948, sob uma fiança de cem mil escudos emprestados pelos amigos.

Os tempos difíceis não terminaram, contudo. Assim, logo de início com problemas em conseguir arranjar emprego e vendo-se impedido por razões políticas de exercer a sua profissão, partiu para Angola, em 1952. Quando ali chegou, a situação não melhorou, porque mal conseguia emprego era logo, no dia seguinte, despedido, devido a pressões feitas pela PIDE. Foi então que um antigo condiscípulo fez frente à PIDE e deu-lhe trabalho na sua empresa, a Luso Dana, Ld.ª, em Luanda. Nesta empresa exerceu o cargo de director do Departamento de Electricidade.

Continuou, ao mesmo tempo que exercia a sua profissão, a lutar pelos ideais democráticos. Assim, em 1958, participou na campanha de candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República.

Em 1961, rebentou a guerra colonial e a situação tornou-se mais difícil. Tito de Morais recebendo ameaças e esperando tempos de perseguição, temeu pela família e fez com que ela regressasse a Portugal. Oito dias depois, era encarcerado na cadeia de Luanda onde foi tratado o mais desumanamente que se pode imaginar. Foi, mais tarde, transferido para Portugal de avião, onde lhe foi comunicado que lhe era restituída a liberdade, embora com residência fixa em Lisboa.

No entanto, as perseguições efectuadas pela PIDE continuaram e a hipótese de conseguir emprego em Portugal era praticamente impossível, fazendo com que fosse obrigado a pedir autorização para sair de Portugal. Foi então para França, onde mais uma vez não conseguiu emprego. Partiu depois para o Brasil, começando a trabalhar numa empresa de siderurgia, a Cosipa. Viveu no Brasil entre 1961 e 1963, criando um movimento de apoio aos resistentes portugueses, e fundando uma ramificação do MUD, a União Democrática Portuguesa.

Participou na 1ª Convenção da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN), como representante da Resistência Republicana e Socialista de Portugal. Nessa convenção Tito de Morais propôs que a direcção da FPLN, se localizasse em Argel.

Assim, em 1963 partiu para Argel onde se instalou até 1966. Na Argélia foi dirigente da Junta de Salvação Nacional e participou na fundação da Rádio Voz da Liberdade de Argel.

A 7 de Abril de 1964, em Genebra, fundou, juntamente com Mário Soares e Ramos da Costa, a ASP – Acção Socialista Portuguesa, junto do Partido Socialista Italiano, foi para Roma, em 1966.

No Congresso da Internacional Socialista foi proposto pelo Partido Socialista Italiano que a ASP entrasse como membro de facto, apesar de ser movimento e não partido. Manuel Tito de Morais passou também a representar o Secretariado Nacional da ASP, assim como Mário Soares e Ramos da Costa, junto da Internacional Socialista. Esta representação foi bastante importante na vida política de Tito de Morais. Como ele próprio refere: “Esta representação proporcionou-me a oportunidade de contactar com os mais altos representantes do socialismo europeu, com Willy Brandt, Olof Palm, François Mitterrand”, entre muitos.

Fundou em 1967 e foi director do Jornal “Portugal Socialista”, tendo sido apoiado financeiramente pelo PS italiano, através da cedência de papel e pela disposição da tipografia do seu jornal “Avanti”. A distribuição do jornal foi bastante estudada, tendo optado, por um lado, por confiar uns quantos a estrangeiros que depois visitavam Portugal e os deixavam na casa de Mário Soares e, por outro lado, por os enviar para os camaradas dos diversos partidos socialistas e social-democratas que depois por sua vez os enviavam ao verdadeiro destino. Era assim que o jornal entrava em Portugal vindo de diversas partes do globo, embora à chegada os correios o captassem e destruíssem, numa média de 50%.

A 19 de Abril de 1973, em Bad Munstereifel, realizou-se o congresso da ASP, em que foi votada a transformação deste movimento em partido, Partido Socialista Português.

O 25 de Abril apanhou Tito de Morais em Bona, juntamente com Mário Soares e Ramos da Costa. Encontravam-se aqui para uma reunião com o Ministro da Defesa alemão, tendo sido ele próprio que os avisou nessa madrugada de esperança, que a revolução estalara em Portugal.

Foi com emoção, alegria e um sentimento de vitória que estes amigos e camaradas receberam a notícia. Combinando voltar a Portugal para Portugal, Mário Soares e Ramos da Costa tomaram o avião para Paris, enquanto Tito de Morais que não podia entrar em França, por ter sido expulso, entrou clandestinamente de carro. No entanto, Manuel Tito de Morais em virtude da incomensurável alegria, precipitou-se e entrou na fronteira errada, onde não tinha nenhum polícia amigo e, claro, a entrada foi-lhe interdita. Furioso, Tito de Morais, fez um escarcéu tremendo, irritou-se e disse que tinha todo o direito em entrar, pois só queria tomar o comboio para Portugal. O polícia respondeu-lhe que não tinha direito nenhum. Por fim, apareceu o chefe da fronteira que, chamando-o de parte, lhe sussurrou: “O senhor deu tanto nas vistas que não poderei deixá-lo passar. Mas vou explicar-lhe como deverá fazer para encontrar a fronteira belga e daí apanhar o comboio para Paris”. Tito de Morais seguiu a referida orientação e tudo correu satisfatoriamente. Encontrou-se, conforme previsto, com os dois amigos e regressou com eles a Portugal na inesquecível viagem de comboio de Paris até Santa Apolónia.

A chegada a Vilar Formoso foi extremamente comovente. A estação estava repleta de gente que os vinha aplaudir e cumprimentar. Reinava a emoção e a alegria, o próprio chefe da estação não deu ordem de partida ao comboio sem primeiro perguntar a Mário Soares se o poderia fazer, e isto repetiu-se sucessivas vezes até Lisboa, chegando o comboio a parar mesmo em estações não programadas.

Apesar de ter afirmado que após aquele dia nada mais tinha a fazer, pois a sua missão estava cumprida, empenhou-se com toda a dedicação e firmeza no período pós-revolucionário, na organização do Partido Socialista, ou seja, na criação de estruturas, na mobilização e na legalização do Partido e na preparação da Lista de Deputados.

Candidatou-se como deputado à Constituinte, em 1975, na lista do Distrito de Viana do Castelo e, depois no Distrito de Lisboa.

A nível governamental o empenho de Tito de Morais também foi importante. Assim, foi e Secretário de Estado do Emprego no 6º Governo Provisório e Secretário de Estado da População e Emprego no 1º Governo Constitucional.

Porém, foi no Parlamento que ocupou uma posição de topo, primeiro como Vice-presidente da Assembleia da República, entre 1977 e 1983 e, depois, como Presidente do mesmo órgão de soberania, entre 1983 e 1985. A sua actuação foi reconhecida por todas as bancadas parlamentares como dignificante, isenta, com firmeza e coerência de princípios.

Desempenhou ainda os cargos de Vice-presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, entre Maio de 1979 e Abril de 1980, tendo presidido à sessão, no dia da eleição, sendo, desta forma o primeiro português a presidir a uma Assembleia-Geral do Conselho da Europa. Foi igualmente Vice-presidente do Grupo Parlamentar Socialista do Conselho da Europa.

Em 1989, renunciou à actividade parlamentar alegando razões de saúde, apesar de no cerne da questão estar a discordância do acordo da Revisão Constitucional assinado entre o PS e o PSD.

Considerado como segunda figura dos históricos do Partido Socialista, foi eleito, em 1975, membro da Comissão Nacional, da Comissão Política e Secretário Nacional do PS, tendo sido responsável pelo Departamento de Relações Internacionais.

Eleito no VI Congresso Nacional para o mais alto cargo no PS, o de Presidente da Comissão Nacional, ou seja, Presidente do Partido, exerceu o cargo entre 1986 e 1988.

Nesse ano, foi eleito em Congresso, Presidente honorário do PS.

"Pelo seu prestígio e pelo seu empenhamento na luta em prol dos valores do socialismo humanista foi, muitas vezes solicitada a sua presença, quer para reuniões partidárias, quer para comemorações cívicas de relevo”.

Considerado como um dos grandes lutadores pela liberdade, uma das grandes figuras da resistência antifascista, recebeu diversas condecorações:

Grande Ordem de Mérito da República Italiana, Grã-cruz da Ordem de Danebrog da Dinamarca, Grã-cruz da Ordem de Mérito da Áustria, Grã-cruz da Ordem da Coroa da Bélgica, Grã-cruz do Luxemburgo, Grã-cruz da Ordem Militar de Cristo de Portugal e Grã-cruz da Ordem da Liberdade de Portugal.

Empenhado em melhorar o mundo e o Homem, combatente pela liberdade, pela democracia, pela justiça social, considerava que “os Partidos Socialistas continuarão a ser o motor das transformações sociais que se impõem, para que o Homem sinta alegria em viver e para que a justiça, a Verdade, a Dignidade, bem como o Progresso sejam uma realidade, não um mito, nem um slogan”.

Tito de Morais defendeu sempre ao longo da sua vida que o governo deste país deveria ser de esquerda.

Em Novembro de 1996, foi prestada uma homenagem nacional a Tito de Morais. Vários amigos, camaradas, companheiros e admiradores estiveram presentes neste acontecimento.

Faleceu no dia 14 de Dezembro de 1999.

O Partido Socialista perdeu um dos seus fundadores, Portugal perdeu um homem que dedicou toda a sua vida à causa dos valores de igualdade, liberdade e fraternidade.

A Câmara Municipal de Lisboa presta-lhe a sua homenagem ao atribuir o seu nome a uma rua na freguesia da Charneca.

TitoMoraisPlacaRua01.jpg

Texto da publicação Tito de Morais – Político – 1910/1999.

Texto de Teresa Sancha Pereira a partir de uma entrevista a Tito de Morais conduzida por Maria José Gama.
Câmara Municipal de Lisboa - 2001.

© CCTM (05)

 

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Nota do Webmaster (2022)

Este Blog está, como se pode ler no "feed", selado para memória desde o dia 2010.07.29, data em que a Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do nascimento de Tito de Morais se extinguiu.
O tempo (12 anos), em termos de evolução tecnológica, é inimigo das selagens e o Blog, para que continue a reflectir a memória, teve de ser tecnicamente “desselado” para manutenção.
Na minha qualidade de webmaster reactivei as imagens, uma vez que a base de dados onde estavam alojadas foi descontinuada, e procedi a alguns ajustes para permitir que este acervo se mantenha funcional. Estes trabalhos decorreram entre 14 e 25 de Setembro de 2022
Se em relação ao texto fica a garantia de praticamente nada ter sido alterado, com excepção de alguns links externos entretanto quebrados ou já inexistentes, já no grafismo original houve que fazer pequenos acertos.
A nota justificativa está registada na última (primeira) página do Blog.
Luís Novaes Tito
luismariatito@gmail.com
2022.09.25

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