Álbum de Família
Almirante Tito Augusto de Morais e Carolina (pais), Manuel, Augusto e M. Palmira
(Foto cedida por Carolina Tito de Morais Oliveira)
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Almirante Tito Augusto de Morais e Carolina (pais), Manuel, Augusto e M. Palmira
(Foto cedida por Carolina Tito de Morais Oliveira)
Neste primeiro post no Blog comemorativo do centenário do nascimento do meu Pai, quero deixar um pensamento para com o meu Avô, Tito Augusto de Morais, que não conheci pessoalmente, mas de quem o meu Pai falava muitas vezes, lamentando nunca lhe ter sido prestada a devida homenagem, como figura da revolução de 1910 e como patriota que foi.
(nota do webmaster na revisão do Blog em 2022:
"Na madrugada do dia 04 de Outubro de 1910 uma parte da sua guarnição envolveu-se na insurreição republicana e deteve o comandante e a meio da manhã entrava a bordo o 2 ºTen. Tito de Morais que fora enviado pelo comité revolucionário de Marinha para comandar o navio."
Fonte: Arquivo histórico da Biblioteca Central da Marinha)
A tomada do Cruzador São Rafael e o apontar os canhões ao Palácio das Necessidades na revolução de 5 de Outubro, o seu papel como Ministro e Deputado, o seu papel como Homem da República e da Democracia, foi membro do Partido Republicano e Governador da India.
Outros dois pensamentos vão para os meus Tios: Maria Palmira Tito de Morais e Augusto Tito de Morais.
A Tia Maria Palmira, depois de se ter licenciado em Histórico-Filosóficas, em Lisboa, licenciou-se e fez mestrado em Enfermagem nos Estados Unidos, fundou o Centro de Saúde de Lisboa, foi professora na Escola Técnica de Enfermagem, tendo sido a primeira professora portuguesa a dar aulas naquele estabelecimento afastada pelo governo fascista de leccionar pela sua actividade política, nomeadamente na campanha presidencial de Norton de Matos. Saiu do país em 1951. Foi então convidada pela ONU para os quadros da OMS onde trabalhou mais de 20 anos.
O Tio Augusto especialista em medicina tropical, aos 20/30 anos foi trapezista e tinha grande orgulho nisso. Viveu em Moçambique, onde começou a carreira profissional, trabalhou com o sogro, em campanhas para a erradicação de doenças tropicais como a bilharziose e a malária, publicou várias obras sobre o assunto. Sai de Moçambique em 1961 depois de lhe terem sido feitas propostas impossíveis de aceitar..., vai para os EUA como bolseiro da Fundação Fullbright e aí fica até 1963. Convidado para trabalhar na Organização Mundial de Saúde trabalha em comissão de serviço em diversos países, Iraque, Indonésia, Filipinas, Camboja. Vive na Suíça e na Suécia. Era um desenhador exímio, tem várias bandas desenhadas de sua autoria. Regressa a Portugal depois do 25 de Abril dá aulas de saúde pública e anos mais tarde conclui o doutoramento e torna-se Professor catedrático no Instituto de Medicina Tropical.
Conheço o Manuel Tito de Morais há mais de cinquenta anos. Fomos amigos, velhos companheiros de lutas e de ideal, camaradas, cúmplices.
Tivemos inúmeras discussões políticas, às vezes noites inteiras, mas, nos momentos decisivos, estivemos sempre do mesmo lado, solidários no bom combate.
Tito de Morais, filho do Almirante do mesmo nome, herói da República, antigo ministro e personalidade cívica exemplar, que tive a honra de conhecer bastante bem, foi sempre um lutador contra a ditadura e também o grande organizador do Partido Socialista, na versão que lhe foi impressa desde a sua refundação, em Bad Münstereiffel, em 1973.
O Partido Socialista – e a democracia portuguesa – devem-lhe muito: à sua pertinácia, coragem, determinação e espírito de sacrifício. Podemos dizer, sem exagero, que dedicou o melhor da sua vida à causa do socialismo democrático em Portugal. Em momentos de crise – e grande dificuldade – foi devido, em grande parte, à vontade inquebrável de Manuel Tito de Morais que os obstáculos foram vencidos e o PS avançou.
Valeu-lhe essa acção incansável muitos sacrifícios e privações. Esteve preso, processado, exilado e foi, durante a ditadura, permanentemente discriminado e ostracizado. A sua família, os seus filhos, a sua mulher, Maria Emília Tito de Morais, grande militante, ela própria e a sua irmã, Maria Palmira Tito de Morais, grande figura profissional e ética, sofreram muitas dificuldades – a que sempre resistiram com estoicidade – em virtude da vida política tão acidentada de Manuel Tito de Morais.
Depois do 25 de Abril, Tito regressou a Portugal no chamado “comboio da liberdade” e foi recebido apoteoticamente em Santa Apolónia. Lançou-se logo, sem perda de um minuto, na organização do PS, numa época em que as adesões eram às centenas diárias, por todo o País e em que as estruturas partidárias, mal saídas da clandestinidade, tinham dificuldade em absorver tantos militantes, mas também – diga-se – alguns oportunistas. A destrinça entre uns e outros, entre o trigo e o joio, nem sempre fácil, foi em grande parte da responsabilidade de Manuel Tito de Morais.
Deputado por Viana do Castelo às Constituintes, foi Secretário de Estado do Emprego no VI Governo Provisório e da População e Emprego do I Governo Constitucional. Foi igualmente Vice-presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e, em 1983-84, Presidente da Assembleia da República.
Tito de Morais, hoje com mais de oitenta anos, felizmente com saúde, e com a admirável lucidez de sempre, é igual a si próprio, íntegro e determinado, actual e justamente reconhecido como o Presidente honorário do PS. A sua família e os militantes não só têm por ele o respeito que lhe é devido como também grande carinho. A sua vida é uma legenda que pode e deve ser conhecida pelos jovens, para que a sigam, se assim o entenderem. É bem necessário e oportuno.
Fonte: Portugal Socialista 214 – Outubro de 1996
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