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CCTM

Comemorações do Centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais

16
Jul10

Portugal Socialista - Edição Especial - Índice

CCTM

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Índice da Edição Especial do Portugal Socialista 2010.07.02

20100702PortugalSocialista03Indice.jpg

Editorial

Legado, inspiração e estímulo
José Augusto de Carvalho

Sempre em defesa dos valores republicanos e socialistas
António de Almeida Santos

Exemplo de empenho cívico
José Sócrates

Testemunho
Mário Soares

Guardião dos valores do socialismo democrático
J. Ferraz de Abreu

Representou a alma do partido
António Guterres

Um socialista sem medo
Eduardo Ferro Rodrigues

Manuel Tito de Morais, o socialista
Amândio Silva

Combatividade inquebrantável e fidelidade à ética republicana
Ana Gomes

Reabilitar o projecto socialista
António Arnaut

Lembrar e seguir
António Coimbra Martins

Um inesquecível camarada
António Costa

Firmeza das convicções e coerência na acção
António José Seguro

A força das convicções no ideário socialista
António Reis

Militante da amizade
Antunes Ferreira

Figura cimeira da luta pela liberdade
Duarte Cordeiro

Um socialista de fortes convicções
Edmundo Pedro

Um homem de princípios
Germano Lima

Artífice da edificação do Partido Socialista
José Neves

Esta viagem a Tito de Morais é uma passagem geracional de testemunho
Luís Novaes Tito

Um socialista praticante
Manuel Alegre

Um ídolo da minha juventude
Manuel van Hoof Ribeiro

A coragem de um combatente e a fraternidade de um homem
Maria Carolina Tito de Morais

Um ícone da democracia
Maria do Carmo Romão

Porque sem ideias não há convicções e sem ambas não teria havido revolução
Maria Helena Carvalho dos Santos

Tem um lugar na História do país
Maria de Jesus Barroso

Homenagear Tito de Morais é homenagear Abril e a Liberdade
Maria José Gama

Uma referência do Partido Socialista
Maria Manuela Augusto

Memória de um amigo
Pedro Coelho

Manuel Tito de Morais e o 25 de Abril
Pedro Pezarat Correia

Grande lutador pelos valores da justiça social
Vasco Lourenço

Um patriota de excepcional coragem
Vítor Crespo

© CCTM (171)

05
Jul10

Memória de um amigo

CCTM

20100702PortugalSocialista32PedroCoelho.jpg

Manuel Alfredo Tito Morais Memória de um Amigo Tito Morais foi-me apresentado em Paris por Mário Soares, num fim-de-semana de reuniões políticas no âmbito das actividades da então Acção Socialista Portuguesa, organização que precedeu e deu origem ao Partido Socialista actual.

Estávamos na segunda metade dos anos sessenta, ainda com Salazar no poder, a guerra de África já instalada nas três colónias de Angola, Moçambique e Guiné e uma repressão política violenta e selectiva.

Os jovens eram mobilizados em massa para a guerra e a oposição na Universidade, após um auge de movimentação estudantil na crise de 62 e nas lutas de 65, estava decapitada pelas prisões e exílios que dizimaram o movimento. Cá dentro, os que escaparam, tentavam reanimar o movimento estudantil mantendo as Associações dos Estudantes em funcionamento e mesmo com algum desenvolvimento nas suas actividades desportivas, pedagógicas, turismo estudantil e sociais. A coordenação interassociações foi-se mantendo a nível local e nacional e em 67 organizou-se em Lisboa a primeira grande manifestação em Portugal contra a guerra do Vietname.

Mas o regime estava sólido, as Forças Armadas cumpriam a sua missão com lealdade ao poder político e longe estávamos da convicção generalizada que a guerra não era solução para o problema colonial.

Pela parte da Acção Socialista, era defendida uma abertura imediata de negociações com os movimentos de libertação, com compromisso dum caminho da autodeterminação e independência, caso fosse esse o desejo livre dos respectivos povos.

Tito Morais, o Tito como todos os mais chegados lhe chamávamos, não tinha qualquer dúvida que a solução acabaria por ser uma independência total das colónias, e que a doutrina salazarista dum só País pluricontinental não tinha qualquer viabilidade nem razão moral ou histórica, inviabilizando um concerto entre países livres e independentes, multirraciais, de língua portuguesa e de culturas com profundas raízes comuns e enormes interinfluências de séculos de convivência.

Salazar parece não ter conhecido o exemplo do Brasil e esqueceu, como uma “branca” definitiva lhe tivesse dado, a vergonha do Estado da Índia, cristã e portuguesa, que por falta de visão deixou perder.

A minha amizade e harmonia com o Tito não foi difícil de iniciar. Em adolescente tinha sido amigo próximo do seu filho João Manuel, meu colega no Colégio Moderno. Perdemos o contacto pois o João Manuel exilou-se para o Brasil e estivemos sem nos ver até Abril de 74. As nossas ideias eram em geral coincidentes, ainda que muitas vezes o considerasse demasiado radical. Talvez o facto de estar exilado em Roma lhe desse uma visão mais afastada de algumas situações que eu, que sempre vivi em Portugal, analisava de forma diferente. Nos princípios era inflexível, embora razoável e conciliador na acção política concreta.

Pela geração a que pertencia, pela sua formação e pela sua vivência, era claramente um homem de esquerda, aquilo que poderíamos chamar, da grande família da Esquerda Portuguesa.

Aquela ideia hoje divulgada por muitos que as distinções entre Esquerda e Direita estão esbatidas quer pela “morte” das ideologias, quer pela necessidade da Sociedade e da Economia dum pragmatismo permanente e sempre presente em todas as grandes decisões, não tinham qualquer sentido para Tito Morais e apenas representavam uma forma nova, inteligente e insidiosa, de manter a exploração dos mais fortes sobre os mais fracos.

A minha situação profissional como quadro duma importante multinacional italiana da indústria farmacêutica fazia-me deslocar a Itália com alguma regularidade e, por vezes por períodos longos. Este facto fez com que visitasse o Tito e a Maria Emília, sua segunda mulher, amiúde. Sempre que podia dava um salto a Roma e ficava em sua casa, partilhando por alguns dias um quotidiano difícil, onde o dinheiro não abundava e, algumas vezes que por lá passei, senti mesmo que passavam mal.

Nesse tempo, no princípio dos anos 70, o Partido Socialista Italiano ajudava a Acção Socialista, particularmente na publicação do nosso jornal oficial que se chamava Portugal Socialista e que trazíamos à socapa para o interior do País.

Era Tito Morais que se encarregava de quase tudo, com ajuda da Maria Emília e do seu filho mais velho. Os artigos eram recebidos de diversas fontes de camaradas no exílio ou do interior, do próprio Tito e dum colaborador muito especial e dedicado que se chamava e chama, Mário Soares.

Mário Soares visitava frequentemente o seu amigo Tito, particularmente quando esteve exilado em Paris. Penso mesmo que terá sido quem mais o visitou nessa estadia forçada em Roma. Pelas razões atrás referidas creio bem que eu próprio fui o membro da ASP e posteriormente do PS, o português quem mais o visitou e partilhou as suas esperanças, a sua coragem e tenacidade na luta pela Liberdade em Portugal. Temos que nos organizar em todos os sectores da sociedade portuguesa, dizia, não só nas universidades e entre os intelectuais, mas também nos meios operários, nos serviços e nos meios rurais. Era sua convicção que o ideário do Socialismo em Liberdade, como lhe chamámos em 1969 ou Socialismo Democrático como lhe chamamos desde os anos 70, era maioritário em Portugal e que umas eleições livres e participadas o iriam demonstrar. Tinha toda a razão.

Pessoas como o Tito fazem falta e fazem-nos muita falta. São referências permanentes que, quando presentes nos estimulam à acção e à constante atenção na coerência dos nossos princípios com os nossos procedimentos.

Aproveitemos o centenário deste herói da Resistência e da Liberdade para revisitar os princípios que fazem grandes as nações. Os princípios da liberdade, da solidariedade e da convivência humana com tolerância, responsabilidade e respeito pelo próximo.

Pedro Coelho

© CCTM (141)

29
Jun10

Homenagem Nacional - Assembleia da República

CCTM

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Depois de ser sido lançado e posto em circulação um “postal-inteiro” comemorativo do centenário de nascimento de Tito de Morais, da autoria dos CTT, numa cerimónia realizada na Assembleia da República que contou com a apresentação de Pedro Coelho pelos CTT, Jaime Gama, anfitrião do evento e Carolina Tito de Morais, filha mais velha de Manuel Tito de Morais e Presidente da Comissão Executiva das CCTM, deu-se início, na sala da biblioteca, à Homenagem Nacional ao antigo presidente da Assembleia da República.

Usaram da palavra, Luís Barbosa, presidente da AEDAR, Domingos Abrantes pelo PCP, Fernando Rosas pelo BE, Narana Coissoró pelo CDS, Mota Amaral pelo PSD, Maria de Belém Roseira pelo PS, Carolina Tito de Morais pela família e pela Comissão Executiva e o Presidente, Jaime Gama, que encerrou a sessão.

Numa sala repleta de individualidades representantes dos diversos órgãos de soberania, do poder judicial e do poder local, antigos e actuais Deputados, dirigentes sindicais, representantes das diversas Ordens, familiares de Tito de Morais e membros das Comissão de Honra e Executiva das Comemorações e muitos outros convidados e cidadãos que quiseram participar nesta homenagem nacional, foi unânime o reconhecimento da importância que Manuel Alfredo Tito de Morais teve na luta pela democracia e na sua consolidação no pós 25 de Abril.

Todos lhe reconheceram o papel fundamental que desempenhou, primeiro a favor da liberdade e, depois do movimento militar que derrubou a ditadura, a favor do desenvolvimento social das populações e da dignificação da função parlamentar, para ele símbolo maior da democracia portuguesa.

Tratou-se de um acto raro de grande unidade que muito honrou a Casa do Povo, como Tito de Morais gostava de chamar à Assembleia da República.

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© CCTM (119)

28
Jun10

Abertura das Comemorações - Palácio Galveias

CCTM

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Foi com a sala cheia no Palácio Galveias que se deram início aos trabalhos da semana das Comemorações do Centenário de Tito de Morais (CCTM).

Depois de Catarina Vaz Pinto, vereadora da CML ter dado as boas-vindas na sua qualidade de anfitriã, Luís Novaes Tito fez a abertura solene da Semana das CCTM com uma breve intervenção especialmente dirigida a agradecimentos para todos os que ajudaram a concretizar estas comemorações. Mais abaixo fica o texto proferido.

Teresa Loureiro, representante da editora, referiu o agrado de ter sido seleccionada a Guerra e Paz para editar a fotobiografia e, num curto apontamento, apresentou a obra produzida.

Seguiram-se os oradores convidados tendo Pedro Coelho, fundador do Partido Socialista, centrado a sua alocução nas experiências vividas com Tito de Morais, tanto na oposição ao regime ditatorial no exílio, como depois da liberdade em Portugal. Um apontamento de grande relevância para a compreensão do "Homem e do Político" Tito de Morais.

Fernando Rosas preferiu a abordagem histórica de todo o percurso até ao 25 de Abril. Deu uma brilhante lição da recente História de Portugal que manteve a audiência interessada ao ponto de durante todo o período em que expôs "não se ouvir uma mosca na sala". Foi fortemente ovacionado.

A sessão terminou com o emocionado depoimento de Teresa Tito de Morais Mendes, direccionado às dificuldades e alegrias de uma família que passou grande parte da sua vida separada em função da intolerância de um regime marcado pela brutalidade e pela prepotência e que acabou por ver esse regime suplantado pela democracia ambicionada por Tito de Morais.

Com a lição dada e com a exposição das vivências, aprendeu-se mais naquela sala do Palácio Galveias do que em muitos compêndios de história portuguesa do século XX.

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Declaro aberta a semana das Comemorações Nacionais do Centenário do Nascimento de Manuel Tito de Morais.

Senhora Embaixadora da República Democrática e Popular da Argélia, Fatiha Selmane
Senhores Membros da Mesa
Senhora Presidente da Comissão Executiva Dr.ª Carolina Tito de Morais
Minhas Senhoras e meus Senhores

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Do que pode falar o Coordenador da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Tito de Morais no dia em que se começam a realizar todas as acções que foram idealizadas e programadas ao longo de um ano?

Possivelmente de muito, maçando uma audiência que aguarda com o maior interesse o que têm a dizer a representante da Editora Guerra e Paz, Teresa Loureiro, a representante da família, Teresa Tito de Morais Mendes e especialmente os nossos brilhantes oradores convidados, Pedro Coelho e Fernando Rosas.

Mas prefiro não o fazer e deixar só o meu agradecimento a todos os ilustres membros da Comissão de Honra, com especial ênfase para o Senhor Presidente da República que anuiu em presidi-la, aos Senhores Presidente da Assembleia da República e Primeiro-Ministro, aos Senhores Representantes do Poder Judicial, ao Senhor Presidente da Região Autónoma dos Açores, aos Senhores Presidentes de Câmaras Municipais, ao Presidente do Partido Socialista Nacional e aos Presidentes dos PS Regionais que, ao integrá-la, transformaram esta iniciativa cívica de um grupo de familiares e amigos de Tito de Morais, num acto de reconhecimento nacional de uma das mais íntegras personalidades portuguesas do Século XX.

Prefiro agradecer a Abdelaziz Bouteflika, a Felipe Gonzalez e a Pierre Schori por terem internacionalizado este reconhecimento.

Prefiro agradecer ao Dr. Jaime Gama a homenagem que amanhã vai fazer na Casa da Democracia a um dos seus pares que o antecedeu, e que por ela tanto fez.

Prefiro agradecer à vereadora da Câmara Municipal de Lisboa, Dr.ª Catarina Vaz Pinto, a cedência do Palácio Galveias para se realizar esta sessão inaugural e ao Dr. António Costa a homenagem que o povo de Lisboa vai fazer depois de amanhã com a perpetuação em bronze da memória de um dos seus mais ilustres munícipes.

Prefiro agradecer ao Dr. Mário Soares e ao Dr. António Reis as sessões evocativas e históricas que vão promover nos dias seguintes, na Fundação Mário Soares e no Grande Oriente Lusitano.

Prefiro agradecer ao Partido Socialista nas pessoas do seu presidente, Dr. Almeida Santos, e na do seu Secretário-Geral, Eng. José Sócrates, a recepção para encerramento desta semana de comemorações e todo o apoio logístico e técnico que foi prestado à Comissão Executiva.

Prefiro agradecer ao escultor Francisco Simões a sua arte, a Teresa Loureiro e à sua equipa a edição da fotobiografia, a Mário Soares o prefácio que a enriqueceu, a Pedro Clérigo, a Anabela Almeida e à equipa da Panavídeo a produção do magnífico documentário “Antes Quebrar que Torcer”, a Jorge Wemans e à equipa da RTP2 que patrocinaram esse registo histórico, a Teresa Fonseca, Rui Pereira Costa e à equipa da Assembleia da República que produziu a brochura biográfica e preparou a sessão e a exposição, a Pedro Coelho e à equipa dos CTT que produziram o inteiro-postal, a Jorge Seguro Sanches e à equipa do Acção Socialista que divulgaram os nossos trabalhos, a José Augusto de Carvalho, a Francisco Sandoval e à equipa que com eles e com o José Neves e a Maria José Gama concretizaram o Número Especial Comemorativo do Portugal Socialista de que Tito de Morais foi fundador, a todos os autores que se disponibilizaram a prestar os seus depoimentos, a André Figueiredo e às equipas de apoio e gráficas do Partido Socialista, em especial ao Guilherme de Azevedo, ao Miguel Andrade e à Paula Perna que connosco colaboraram.

Prefiro agradecer os patrocínios da Martins Lemos, e da Triunfadora na construção do catálogo-programa e, ao Partido Socialista por ter adquirido o número de exemplares suficiente da fotobiografia que permitiram a sua edição.

Prefiro agradecer a todos os militantes do Partido Socialista as inúmeras manifestações de regozijo e respeito que têm promovido em memória de um dos três primeiros fundadores do Partido Socialista, através das sessões especiais e da aprovação dos votos de homenagem que, do norte ao sul do País, e no estrangeiro, têm obtido unanimidade e, a maior parte das vezes, aclamação.

Prefiro agradecer à nossa querida presidente Carolina o arranque da iniciativa e através dela a todos os membros da Comissão Executiva, o trabalho, a determinação e o esforço voluntário que proporcionaram levar a bom porto estas comemorações.

Finalmente prefiro agradecer ao Almirante Tito Augusto de Morais e a Carolina Loureiro de Macedo de Morais o acto de amor que foi ter dado a esta Nação um filho da têmpera de Manuel Alfredo Tito de Morais que hoje evocamos no seu centésimo aniversário.

O Tito sabe que o seu exemplo é a nossa lição de futuro e nós sabemos que nos compete passar os princípios por ele legados às gerações vindouras.

A todos, muito obrigado.
Luís Novaes Tito
2010.06.28

© CCTM (110)

28
Jun10

Abertura das Comemorações do Centenário de Tito de Morais - Convite

CCTM

ConviteCMLGalveias01.jpg

Abertura das Comemorações do Centenário de Tito de Morais

Hoje, dia 28 de Junho de 2010, 19:30 horas
Palácio Galveias, Campo Pequeno, Lisboa
 
Mesa
Oradores convidados: Fernando Rosas e Pedro Coelho
Representante da família: Teresa Tito de Morais Mendes
Representante da Editora Guerra e Paz: Maria Teresa Loureiro
Coordenador da Comissão Executiva: Luís Novaes Tito
Vereadora da CML: Catarina Vaz Pinto
 
Apresentação da fotobiografia e do Calendário Geral das Comemorações do Centenário
Nota: Tito de Morais faria 100 anos no dia 28 de Junho

© CCTM (108)

02
Mar10

Memória de um Amigo

CCTM

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Tito Morais foi-me apresentado em Paris por Mário Soares, num fim-de-semana de reuniões políticas no âmbito das actividades da então Acção Socialista Portuguesa, organização que precedeu e deu origem ao Partido Socialista actual.

Estávamos na segunda metade dos anos sessenta, ainda com Salazar no poder, a guerra de África já instalada nas três colónias de Angola, Moçambique e Guiné e uma repressão política violenta e selectiva.

Os jovens eram mobilizados em massa para a guerra e a oposição na Universidade, após um auge de movimentação estudantil na crise de 62 e nas lutas de 65, estava decapitada pelas prisões e exílios que dizimaram o movimento. Cá dentro, os que escaparam, tentavam reanimar o movimento estudantil mantendo as Associações dos Estudantes em funcionamento e mesmo com algum desenvolvimento nas suas actividades desportivas, pedagógicas, turismo estudantil e sociais. A coordenação inter-associações foi-se mantendo a nível local e nacional e em 67 organizou-se em Lisboa a primeira grande manifestação em Portugal contra a guerra do Vietname.

Mas o regime estava sólido, as Forças Armadas cumpriam a sua missão com lealdade ao poder político e longe estávamos da convicção generalizada que a guerra não era solução para o problema colonial.

Pela parte da Acção Socialista, era defendida uma abertura imediata de negociações com os movimentos de libertação, com compromisso dum caminho da auto-determinação e independência, caso fosse esse o desejo livre dos respectivos povos.

Tito Morais, o Tito como todos os mais chegados lhe chamávamos, não tinha qualquer dúvida que a solução acabaria por ser uma independência total das colónias, e que a doutrina salazarista dum só País pluricontinental não tinha qualquer viabilidade nem razão moral ou histórica, inviabilizando um concerto entre países livres e independentes, multirraciais, de língua portuguesa e de culturas com profundas raízes comuns e enormes inter-influências de séculos de convivência.

Salazar parece não ter conhecido o exemplo do Brasil e esqueceu, como uma “branca” definitiva lhe tivesse dado, a vergonha do Estado da Índia, cristã e portuguesa, que por falta de visão deixou perder.

A minha amizade e harmonia com o Tito não foi difícil de iniciar. Em adolescente tinha sido amigo próximo do seu filho João Manuel, meu colega no Colégio Moderno. Perdemos o contacto pois o João Manuel exilou-se para o Brasil e estivemos sem nos ver até Abril de 74.

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As nossas ideias eram em geral coincidentes, ainda que muitas vezes o considerasse demasiado radical. Talvez o facto de estar exilado em Roma lhe desse uma visão mais afastada de algumas situações que eu, que sempre vivi em Portugal, analisava de forma diferente. Nos princípios era inflexível, embora razoável e conciliador na acção política concreta.

Pela geração a que pertencia, pela sua formação e pela sua vivência, era claramente um homem de esquerda, aquilo que poderíamos chamar, da grande família da Esquerda Portuguesa.

Aquela ideia hoje divulgada por muitos que a distinção entra a Esquerda e Direita estão esbatidas quer pela “morte” das ideologias, quer pela necessidade da Sociedade e da Economia dum pragmatismo permanente e sempre presente em todas as grandes decisões, não tinham qualquer sentido para Tito Morais e apenas representavam uma forma nova, inteligente e insidiosa, de manter a exploração dos mais fortes sobre os mais fracos.

A minha situação profissional como quadro duma importante multinacional italiana da indústria farmacêutica fazia-me deslocar a Itália com alguma regularidade e, por vezes por períodos longos. Este facto fez com que visitasse o Tito e a Maria Emília, sua segunda mulher, amiúde. Sempre que podia dava um salto a Roma e ficava em sua casa, partilhando por alguns dias um quotidiano difícil, onde o dinheiro não abundava e, algumas vezes que por lá passei, senti mesmo que passavam mal.

Nesse tempo, no princípio dos anos 70, o Partido Socialista Italiano ajudava a Acção Socialista, particularmente na publicação do nosso jornal oficial que se chamava Portugal Socialista e que trazíamos à socapa para o interior do País.

Era Tito Morais que se encarregava de quase tudo, com ajuda da Maria Emília e do seu filho mais velho. Os artigos eram recebidos de diversas fontes de camaradas no exílio ou do interior, do próprio Tito e dum colaborador muito especial e dedicado que se chamava e chama, Mário Soares.

Mário Soares visitava frequentemente o seu amigo Tito, particularmente quando esteve exilado em Paris. Penso mesmo que terá sido quem mais o visitou nessa estadia forçada em Roma. Pelas razões atrás referidas creio bem que eu próprio fui o membro da ASP e posteriormente do PS, o português quem mais o visitou e partilhou as suas esperanças, a sua coragem e tenacidade na luta pela Liberdade em Portugal. Temos de nos organizar em todos os sectores da sociedade portuguesa, dizia, não só nas universidades e entre os intelectuais, mas também nos meios operários, nos serviços e nos meios rurais. Era sua convicção que o ideário do Socialismo em Liberdade, como lhe chamámos em 1969 ou Socialismo Democrático como lhe chamamos desde os anos 70, era maioritário em Portugal e que umas eleições livres e participadas o iriam demonstrar. Tinha toda a razão.

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Pessoas como o Tito fazem falta e fazem-nos muita falta. São referências permanentes que, quando presentes nos estimulam à acção e à constante atenção na coerência dos nossos princípios com os nossos procedimentos.

Aproveitemos o centenário deste herói da Resistência e da Liberdade para revisitar os princípios que fazem grandes as nações. Os princípios da liberdade, da solidariedade e da convivência humana com tolerância, responsabilidade e respeito pelo próximo.

Lisboa, 31 de Janeiro 2010

Pedro Coelho

© CCTM (70)

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Nota do Webmaster (2022)

Este Blog está, como se pode ler no "feed", selado para memória desde o dia 2010.07.29, data em que a Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do nascimento de Tito de Morais se extinguiu.
O tempo (12 anos), em termos de evolução tecnológica, é inimigo das selagens e o Blog, para que continue a reflectir a memória, teve de ser tecnicamente “desselado” para manutenção.
Na minha qualidade de webmaster reactivei as imagens, uma vez que a base de dados onde estavam alojadas foi descontinuada, e procedi a alguns ajustes para permitir que este acervo se mantenha funcional. Estes trabalhos decorreram entre 14 e 25 de Setembro de 2022
Se em relação ao texto fica a garantia de praticamente nada ter sido alterado, com excepção de alguns links externos entretanto quebrados ou já inexistentes, já no grafismo original houve que fazer pequenos acertos.
A nota justificativa está registada na última (primeira) página do Blog.
Luís Novaes Tito
luismariatito@gmail.com
2022.09.25

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