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Comemorações do Centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais

05
Jul10

Manuel Tito de Morais e o 25 de Abril

CCTM

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Nascido no ano da instauração da República e filho de um dos seus fundadores, o oficial da Armada e posteriormente Almirante Tito Augusto de Morais, a República estava no código genético de Manuel Tito de Morais. Mas mais do que essa condição genuína, tornou-se também uma opção consciente e racional quando, desde muito jovem, a sua vida passou a ser conduzida pelas decisões por si próprio responsavelmente assumidas.

O Engenheiro Tito de Morais foi um republicano indefectível, que não via a República apenas como uma forma de Estado assente no reconhecimento de que a soberania reside no povo e na recusa de caducos modelos aristocráticos inspirados em privilégios de casta. Associava-a também a um tipo de sociedade que tem como valores axiais a liberdade e a igualdade, isto é, direitos e deveres iguais para todos os cidadãos independentemente das suas origens. E por isso quando, ainda estudante liceal, a República foi deposta pela ditadura militar emergente do 28 de Maio de 1926 que deu lugar ao regime fascista do Estado Novo, Tito de Morais não hesitou na escolha do seu caminho, a luta pela restauração da legitimidade republicana e da liberdade democrática. Cedo começou a conhecer a repressão da PIDE, as prisões e os Tribunais Plenários.

E porque era aquele o modelo de República em que acreditava, o seu sentido de liberdade não podia limitar-se ao âmbito restrito do seu país. Para ele os valores da república eram universais pelo que, estando em Angola em pleno período colonial quando o continente africano atingia o ponto decisivo da luta dos seus povos pela libertação do domínio colonial, Tito de Morais não teve dúvidas que o seu campo era o dos nacionalistas que heroicamente se organizaram na luta pela independência e iniciaram a luta armada em 4 de Fevereiro de 1961. Preso em Luanda em condições muito difíceis, torturado, sobreviveu, porque era dotado de uma notável resistência física e anímica. Seguiu-se o exílio, em vários países da Europa, da América do Sul e Norte de África, sempre integrando as mais activas frentes da luta contra a ditadura colonial do Estado Novo. Mas, e mais uma vez porque não tinha da República e da democracia uma perspectiva meramente formal, considerando-as indissociáveis de um conteúdo mais substancial que contemplasse o desenvolvimento material, a justiça social e o enriquecimento cultural, Manuel Tito de Morais perfilhava empenhadamente os ideais socialistas e integrou o grupo mais dinâmico que fundou o Partido Socialista em 1973.

O 25 de Abril de 1974 abriu as portas para o seu regresso à Pátria, entregando-se de corpo inteiro na construção do Portugal livre, democrático e progressista que fora o objectivo de toda a sua vida. Jamais esqueceu isso e foi dos que nunca escondeu nem esmoreceu o apreço pelos jovens capitães de Abril, da mesma forma que estes nunca deixaram de reconhecer nele um dos muitos lutadores pela liberdade que, com o seu sacrifício, foram verdadeiros precursores do 25 de Abril.

Gozei do privilégio de Manuel Tito de Morais me incluir entre os seus amigos. Também eu lhe dedicava uma profunda amizade e um enorme respeito. Creio que se justifica usar o lugar-comum: era, para mim, uma referência cívica. Tivemos longas conversas, a maioria das vezes em sua casa, por iniciativa de um ou do outro. Trocávamos impressões, analisávamos a conjuntura política, equacionávamos hipóteses para contrariar uma situação que cada vez deixava mais longe os ideais de Abril. Tito de Morais era mesmo, por vezes, crítico em relação ao seu partido, mas era-lhe de uma fidelidade total e nunca sequer equacionou a eventualidade de uma dissidência. O seu lugar e a sua luta era dentro do Partido Socialista, do qual foi presidente.

No Portugal de Abril Tito de Morais foi deputado constituinte, deputado legislativo, membro do governo. E atingiu o segundo lugar na hierarquia do Estado ao ser eleito pelos seus pares presidente da Assembleia da República. E, nessa qualidade, não posso esquecer um gesto simbólico, mas que no seu simbolismo o dignifica e confirma o que aqui venho dizendo da sua ligação afectiva aos capitães de Abril. Quis, exactamente na qualidade de presidente da Assembleia da República, o órgão de Estado que mais legitimamente representa a soberania popular e, portanto, a natureza democrática da República, que constitui a mais genuína expressão dos objectivos institucionais do 25 de Abril, manifestar publicamente esse reconhecimento aos militares do Movimento das Forças Armadas. Foi assim que reuniu, a seu convite e em representação do MFA, umas largas dezenas de militares num almoço que constituiu uma significativa manifestação de mútua consideração e apreço. Até porque tal aconteceu numa altura em que, com a primeira revisão constitucional que extinguiu o Conselho da Revolução – o que era para os seus membros pacífico, mas que foi feito em termos pouco dignificantes –, começavam a ouvir-se vozes oriundas de certos sectores políticos tentando denegrir a imagem honrada dos militares de Abril. Tito de Morais quis, corajosamente como era seu timbre, demarcar-se dessas campanhas e aderiu prontamente à Associação 25 de Abril, logo que os respectivos estatutos o permitiram.

A Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, com que foi agraciado, é a justa consagração do Portugal Democrático a um Homem cuja vida foi uma infatigável luta contra a ditadura, contra o colonialismo e, restaurada a liberdade, fez questão de se assumir por inteiro como Cidadão de Abril.

Pedro Pezarat Correia

© CCTM (140)

17
Jun10

Antes Quebrar que Torcer

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 Segmento do videoclip promocional do documentário sobre a vida de Tito de Morais a passar na RTP2, dia 26 de Junho de 2010, às 21:00 horas

Sinopse Documentário

Manuel Tito de Morais – Antes Quebrar que Torcer

Exílio. Prisão. Perseguição. Clandestinidade. Tortura. Conspiração. Luta. Privação. Sacrifício. Conquista. Construção. Renúncia. Convicção. Manuel Tito de Morais – 1910-1999

Irene Flunser Pimentel, Mário Soares, António Guterres, Almeida Santos, Jaime Gama, Manuel Alegre, António Capucho, Carlos Brito, Adriano Moreira, Pedro Pezarat Correia, Adelino Tito de Morais, António Reis, Carolina Tito de Morais, Luís Novaes Tito, Luisa Tito de Morais, M. Conceição Tito de Morais Pires, Pedro Tito de Morais e Teresa Tito de Morais Mendes, testemunham sobre Manuel Tito de Morais e sobre uma época de quase meio século de ditadura e a sua transição para a Democracia. “Antes Quebrar que Torcer”, um documentário biográfico sobre o político Manuel Tito de Morais.

Manuel Tito de Morais deu os primeiros passos no rescaldo da implantação da República em 1910, um momento histórico para o qual o seu pai muito contribuiu, ao bombardear o Palácio das Necessidades e provocar a fuga da família real. E a verdade é que os valores que nortearam a implantação da República – liberdade, igualdade, fraternidade – serviram de inspiração à longa vida de Tito de Morais.

Desde muito jovem que se manifestou contra a ditadura, sendo desde logo uma voz dissonante e contra a corrente. Por isso foi perseguido, preso, torturado. Teve dois casamentos e oito filhos e a sua família sofreu também o preço dos seus ideais. Viveu em Angola, onde conheceu o lado mais violento do regime. Seguiram-se os exílios no Brasil, em Argel e em Itália. Foi alvo de uma tentativa de emboscada que lhe poderia ter custado a vida. Liderou importantes movimentos de oposição ao regime a partir do exterior. E sem nunca desistir, conseguiu impor a sua visão: criar um Partido Socialista. “Ele já era do Partido Socialista antes do Partido Socialista o ser”, diz Manuel Alegre.

A liberdade por que tanto lutou chegou finalmente quando tinha 64 anos. Regressou do exílio no célebre “comboio da liberdade” com os seus companheiros de luta Mário Soares e Ramos da Costa. Quando parecia que já não havia mais nada para fazer, arregaçou as mangas e dedicou-se à organização do Partido na legalidade. Vieram as conquistas da democracia e da liberdade, mas também as divergências. Foi Secretário de Estado e Presidente da Assembleia da República, mas nunca se deixou corromper pelo deslumbre do poder. Renunciou a deputado quando a orientação do Partido não era que ele defendia e manifestou-se contra as coligações no governo. “Sem ele, a história recente da Democracia não teria sido a mesma” diz António Guterres. Intransigente e teimoso, diz quem o conheceu que Manuel Tito de Morais era de antes quebrar que torcer.

Duração: 58’

Realização – Pedro Clérigo

Jornalista/Guião – Anabela Almeida

Dir. Fotografia/ Imagem – Jorge Afonso

Banda Sonora Original– António José de Almeida

Pós-Produção Áudio – Samuel Rebelo Pós-Produção

HD - Pedro Clérigo

Coordenação Geral Panavideo – Telma Teixeira da Silva

© CCTM (101)

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Nota do Webmaster (2022)

Este Blog está, como se pode ler no "feed", selado para memória desde o dia 2010.07.29, data em que a Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do nascimento de Tito de Morais se extinguiu.
O tempo (12 anos), em termos de evolução tecnológica, é inimigo das selagens e o Blog, para que continue a reflectir a memória, teve de ser tecnicamente “desselado” para manutenção.
Na minha qualidade de webmaster reactivei as imagens, uma vez que a base de dados onde estavam alojadas foi descontinuada, e procedi a alguns ajustes para permitir que este acervo se mantenha funcional. Estes trabalhos decorreram entre 14 e 25 de Setembro de 2022
Se em relação ao texto fica a garantia de praticamente nada ter sido alterado, com excepção de alguns links externos entretanto quebrados ou já inexistentes, já no grafismo original houve que fazer pequenos acertos.
A nota justificativa está registada na última (primeira) página do Blog.
Luís Novaes Tito
luismariatito@gmail.com
2022.09.25

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