Foi uma luta difícil
Não vou fazer uma apreciação do Tito de Morais como cidadão e político, uma vez que outros Camaradas que contactaram mais intimamente com ele já o fizeram de maneira exaustiva. Vou falar sim, do meu Camarada e Amigo, militante em vários comícios, colega em dois governos e como candidato a Deputado do Partido Socialista pelo círculo de Viana do Castelo.
Como foi para mim reconfortante ver no FacebooK (Cctm Tito de Morais) a foto de um comício na Fonte Luminosa onde me revejo em companhia do Tito, do Mário, do Zenha, do Campinos, do Aires Rodrigues, entre muitos outros! Mas que grande PS! Que saudades da «chama» de então!
Em relação à nossa convivência estreita no Governo liderado pelo Almirante Pinheiro de Azevedo, ele, ligado ao Emprego e eu à Segurança Social, vivemos momentos extremamente complexos numa altura conturbada da vida política do País. Recordo que no 25 de Novembro estávamos no Governo. Nesses tempos difíceis o Tito revelou-se sempre um Homem de grande serenidade e com fortes convicções no Socialismo em Liberdade como defendíamos. Este seu entusiasmo foi contagiante para aqueles que tinham, na altura, menos experiência política. Então, a coragem e a determinação de Tito de Morais foram uma pedra basilar para o nosso ânimo e forte determinação na defesa dos princípios defendidos pelo PS!
Continuámos esta luta no 1º Governo Constitucional, já sob a liderança do comum Amigo Mário Soares, então com uma perspectiva de projecto mais segura e com uma orientação política muito mais bem definida. Lembro os contributos dados pelo Tito e pelo nosso também saudoso Jorge Campinos no problema do apoio aos retornados.
Mais tarde, travámos uma luta difícil e para muitos considerada quase que impossível, no distrito de Viana do Castelo... Durante um mês de campanha eleitoral, diariamente, percorremos todo o distrito, levando as nossas propostas a locais onde nunca as palavras Democracia, Liberdade e Socialismo tinham sido ouvidas...Fomos a locais cujo acesso teve de ser feito a pé devido à falta de caminhos transitáveis… Lembro que a uns quilómetros do Lindoso, depois de fazer cerca de uma légua a pé, fomos recebidos em casa de habitante de uma aldeia de que não recordo o nome, que nos ofereceu como refeição, a única coisa que tinha: uma batata cozida e uma tira de carne que tirou da salgadeira. Era este o espelho do Portugal profundo!
Oferecemos-lhe um copo com o emblema do PS que guardou religiosamente…
Durante toda a campanha, à nossa esquerda, o PCP, disfarçado de MDP, atacava-nos, tentando encostar-nos à direita… aí o Tito respondia com o seu exemplo de militante de sempre! À nossa direita existiam nichos ultra-reaccionários que, por estratégia, ignorávamos. Existia, também um numeroso grupo de tradição conservadora e muito influenciado pelo clero local que nos tentava «colar» aos comunistas, fazendo de cada homilia um comício dominical. A todos respondíamos com a nossa tolerância religiosa, os nossos princípios éticos e morais, focando as nossas intervenções no erradicar das desigualdades existentes no campo social naquele Distrito tendo sempre a tónica da Democracia e do Socialismo em Liberdade! Foi uma luta difícil, com muito trabalho, muita determinação, mas extremamente estimulante! O esforço teve como resultado a nossa eleição como deputados para a Assembleia da República por esse Distrito!
A maior gratidão que tenho para com o Tito é viver segundo o legado que ele e também o Mário e o Arnaut me transmitiram com o seu exemplo e que vincou a minha maneira de estar e sentir para todo o sempre… é ser: «socialista, republicano e laico»!
É esta a minha sincera homenagem!
Fevereiro de 2010
Vítor Vasques